domingo, janeiro 30, 2005

Sociedade. Socio ou nao ?

Agora tres semanas se passaram e estamos no meio de Dezembro, que eh quando as coisas (supostamente)acontecem, o Verao em toda a sua plena e indefectivel forma preenche as mentes e coracoes das pessoas, roupas leves e sim - vida social acontece principalmente no Verao, os que viverem para ver o Verao, verao.
Eu, de pessoa com vida social praticamente inexistente passei a VIP num piscar de olhos, batizados, casamentos, funerais, abortos, inauguracao de casa de baixo meretricio, churrascos, nao importava o evento la estava eu, sorridente com meu copo em mao e pronto para a proxima.
A Adega em Piedade virou um dos meus pontos-chave aos fins de semana (como todos em Ibiuna) e o pessoal da portaria ja me conhecia, minhas fotos agora saiam no site da balada e ao inves de ver as pessoas la, agora eu tambem seria visto, e ai comecam alguns incomodos de uma "celebridade local", um deles, das pessoas que sao IN em Ibiuna... ...sim, pois existe um grupo social ali, e esse grupo frequenta os mesmos lugares, ve as mesmas pessoas e faz as mesmas fofocas para diferentes pessoas, e quem nao gosta de ver sua foto no jornal local ?
Quanto mais se ve, mais se eh visto e quanto mais visto, mais oportunidades de se encontrar pessoas das quais voce optaria nao ter contato - apos dois anos, desenvolvi uma certa paura para pessoas indesejaveis por pura falta de habito de se livrar de gente que nao merece sua consideracao, na verdade o que sinto quando vejo essas pessoas eh uma imensa preguica de ter que olhar, conversar ou ao menos parecer simpatico - simplesmeste estou desprovido da boa e velha diplomacia social, aquela que torna a vida e a propria sociedade possiveis e quem disser que nunca fingiu um sorriso na boate que atire a primeira freira. Existem aqueles, que apenas pelo fato de todos te cumprimentarem, querem te cumprimentar a todo custo, mesmo tendo passado os ultimos cinco anos ignorando sua existencia : te perseguem com a mao estendida no caminho entre teu braco e seu copo, perguntam como esta e te dao os mortais "tres tapinhas" nas costas que na verdade significa uma sondagem da melhor area para estancar um punhal, outros, simplesmente chegam e perguntam se eu sou o "cara da Nova Zelandia" e fazem milhares de perguntas que nao sao interessantes nem a mim, nem a eles proprios, tudo que eles querem eh agradar os amigos em comum que por um acaso, me conhecem por anos a fio.
Existem aqueles que falavam comigo e depois ficaram estranhos; passavam com um oi rapido e evitavam olhar diretamente na minha cara como se eu fosse portador da lepra (contei pelo menos uns cinco casos agora) e simplesmente nao entendem que nao, nao fiquei rico na Nova Zelandia, nao, nao acho grande coisa ter morado fora do pais, nao, nao me acho melhor que ninguem (bem, alguns..) e sim, eu me lembro que tinhamos o habito de conversar antes da nefasta viagem a NZ. Tudo que peco eh : SINCERIDADE JA !!!
Adoraria que alguem chegasse e dissesse na minha cara : Cara, eu ate te cumprimentaria, mas acontece que nao sou seu amigo, mas poderiamos ser/podemos por favor, nao conversar/ poderia manter distancia ? Garanto que qualquer opcao seria perfeitamente acessivel/aceitavel/viavel segundo as regras da civilidade ditam.
O lado bom sao as pessoas que gratuitamente gostam de voce, apenas por ter ouvido sobre voce atraves dos amigos em comum, estes sim sao em primeira estancia estranhos mas se tornam bons companheiros por afeicao gratuita, coisa rara estes dias.
Entre toda essa fauna, existem aqueles, que se despedem de voce com lagrimas nos olhos, mandam e-mails regularmente, contam para voce comemorar junto a compra do carro, a nova namorada(o), diz o quanto sentiu sua falta em uma festa,lembrou de voce por um filme, fez macarronada do jeito que voce gostava, esperou um, dois anos, guardou um segredo e tem memoria curta para suas cagadas - com gente assim quem precisa conviver em sociedade ?

Trovao e Nanci, valeu por serem meus amigos e principalmente; por nao me darem tres tapinhas nas costas - NUNCA.

O carro parou. E agora ?

Apos duas semanas no Brasil, comi tudo que queria (estava uns 5kgs mais gordo) bebi tudo que queria (estava com uns 10 anos a menos de vida) e falei com quase todas as pessoas que importavam apesar de ter deixado o pais sem ver um monte de gente que amo de verdade.
Na primeira semana, meus amigos pararam suas vidas para me mostrar os arredores, jogar truco, ir a lugares suspeitos e durante essa semana vi meus pais tanto quanto nos dois ultimos anos- nada - me senti verdadeiramente culpado, mas nao poderia falar nao ate porque, sabia que apos eles retornarem as suas rotinas, eu nao teria mais toda a atencao que estavam despendendo.
Depois de passar um ano em uma cidade de nove mil habitantes, tudo que se quer eh estar numa cidade com 20 milhoes de pessoas, sentia falta do barulho, da correria, das lojas, dos drinks em lugares aonde iria fingindo ser uma pessoa que nao sou, para impressionar pessoas das quais nao gosto e conheco - isso e Sampa - mas para se estar em Sao Paulo, se faz necessario um carro, e nesse caso, eu nao tinha. Comecei a me irritar por me sentir preso novamente em um lugar pequeno e como ja disse, o tempo era uma comodidade que nao tinha e nao poderia desperdicar a fio andando feito um maluco a pe por Ibiuna, as pessoas depois de alguns dias comecaram a me olhar como se fosse maluco, zanzando pela cidade a pe sem destino e na verdade, eu estava realmente ao limite da sanidade.
Resolvi alugar um carro e me mandar antes que enlouquecesse minha familia, a mim mesmo e aos meus amigos - por tres dias inteiros visitei, bebi, comi e nao precisei fingir ser um paulistano, parece que isso fica nato nas pessoas apos se passar alguns anos la - sabia de tudo, aonde ir, o que pedir, quem ver e o que fazer. Eh como andar de bicicleta, menos o incomodo do assento.
A pungencia de Sao Paulo quase me fez esquecer da hora de ir para casa enquanto tomava meu Cosmopolitan e assistia as pessoas bem-arrumadas, cheirosas e pretensiosas circular pelo bar fingindo estarem nadando em dinheiro enquanto carregam as dividas e as contas em um abarrotado porta-luvas de um carrao pago a prestacao.
A certo ponto alguem perguntou como funcionava o meu simples e despretencioso celular "eu ponho um numero por estas teclinhas, falo por aqui e escuto por aqui, alem de poder escrever nessas mesmas teclinhas !!" sem foto ? Nao tem GPS ? Aparentemente, podemos esquecer o relogio e os sapatos caros - o acessorio mais quente hoje em dia no Brasil (e no mundo) eh o celular : quanto menor ele for e mais coisas inuteis ele fizer, melhor, alem do fato de custar o supermercado de uma familia carente por um ano. Que saudades do tempo em que um par de Levi's era uma das coisas mais caras a se carregar no corpo. Comprei o par de tenis mais feio do mundo (segundo Trovao e Leo), comprei muito pouca coisa por achar tudo muito caro (na verdade, meus pais me disseram para guardar meu dinheiro, entao tinha parcimonia com o dinheiro deles) e ao terceiro dia, enjoei de Sao Paulo.

Meus amigos estao com carros legais, escritorios, filhos e tudo isso me deu uma certa confianca no Brasil, sim a vida pareceu possivel novamente e quem sabe em tao pouco tempo eu nao tente voltar ?
Voltar ao Brasil definitivamente parece agora, mais complicado do que vir para a Nova Zelandia. Estou como os caes que perseguem o carro pela rua,e depois que o carro para, o que fazer com ele ?

Ja estava no Brasil, ja havia feito o que queria, entao o que se fazer agora que tudo parece estar feito ?
Praia, esta eh a solucao, mas soh apos o Natal.

Mais uma volta... ...ao mundo.

Sei mais uma vez que, decepcionei muita gente ao nao atualizar o Blog, mas estava ocupado tentando me adaptar a minha vida mais uma vez, mas comecemos do comeco;
Apos dissimular por tres meses minha volta ao Brasil, ca estava eu pronto para duas semanas de expectativas e planos a minha triunfante (?) volta a terra Brazilis com tapete vermelho e tudo mais - tudo comecou em uma tarde de Outubro aonde o Sol brilhava e la estava mais uma vez eu, trabalhando durante um dia de folga - pensei comigo "foda-se isso" e nesse espirito, entrei em uma agencia de viagens com todas as minhas economias nas maos e pedi, please, uma passagem para o Brasil.
As semanas se arrastaram ate o dia 21 de Novembro, a data e a terra prometida me esperavam, mas as mudancas nao paravam nunca (assim como nao param MESMO) e meus flatmates Simone e Edu resolveram que teriam uma vida melhor em Auckland, e estariam se mudando na semana anterior a de minha viagem; alem de tudo, estaria desabrigado na minha volta. A semana foi de puro desespero : caixas por todos os lados, a Sky TV se foi, a casa agora vazia clamava por minha alma.
Alguns amigos apareceram, talvez por pena, talvez por pura e leal fidelidade mas as coisas ainda estavam conturbadas em minha cabeca : tantas pessoas que adoraria ver e tantas que desejaria, na mesma intensidade, nunca mais por os olhos e se possivel, por favor nao pise em meus Helmutt Lang please...
Malas arrumadas, caixas lacradas e duas malas imensas esperavam na porta de minha casa e minha bagagem emocional pesava mais que os 64kgs. permitidos pela Aerolineas, o que encontraria na volta ? Um bando de jovens senhores usando camisas polo e calcas caqui enquanto bebem para ignorar as criancas correndo por toda a casa ? Simplesmente minha vida parecia nao se encaixar nas das pessoas que realmente "fizeram alguma coisa de suas vidas" ao inves de vagar por algum pais longinguo atras de nao-sei-o-que procurando apenas levar uma vida menos monotona (e o que poderia ser mais monotono do que passar 12 horas numa cozinha ?) e que ao inves de um relacionamento, possui 12 pares de sapatos diferentes ? De repente nos, pessoas sozinhas nao merecemos nenhum credito ? Neurose era pouco.
Dia chego, passagens nas maos, conferencia de passaporte a cada cinco minutos ate o aeroporto e uma breve despedida de UM amigo, uma senhora honraria em agradecimento a dois anos de comprometimento total a este pais. Entrei no voo de Queenstown a Auckland me sentindo meio zonzo ainda por deixar minha nova vida para tras e reencontrar a velha, mesmos lugares, mesmas pessoas e antigos problemas dos quais nao tinha ideia se ainda existiam - Quando foi que eu cresci tanto a ponto de me importar ?
Auckland, mais uma parte da historia voltava a me assombrar apesar do ensolarado dia que fazia (incomun ao lugar) mas agora estava a um passo mais proximo do que tanto ansiava, sentia tudo ficando para tras, o sofrimento, o trabalho e ate a diversao e percebi o quanto dois anos podem fazer a voce : te tranformar numa aberracao distante e neurotica.
Ao entrar pelo corredor ate a plataforma do aviao, segurava minhas imensas bagagens de mao (que inveja das pessoas que carregavam apenas uma 007 nas maos, Louis Vuitton, com uma troca de roupas dentro) e amaldicoava as cias.aereas que alem de te cobrarem os tubos, limitam a quantidade de volumes a serem despachados e a primeira classe ? nos, comuns mortais somos apenas permitidos a ter uma leve visao do paraiso quando entramos no aviao; telas LCD individuais, poltronas altamente reclinaveis e espacosas e tres opcoes de menu, afinal, porque esses bastardos nao compram a merda de um jatinho de uma vez por todas e deixam os pobres mortais como eu conseguirem uma oferta barata de primeira classe ?
Corredor do meio, exatamente poltrona F, avioes sao como uma loteria ou um encontro as cegas, sabe-se la o que voce vai encontrar ao seu lado. Um senhor grisalho e imensamente gordo sentou-se de um lado (e brasileiro) e agora ? Enterrei minha cara em meu livro e esperei pelo vizinho do lado direito (que revelou-se ser tao corpulento quanto o do lado esquerdo) e acabei em uma mini-poltrona e espremido pelo menos uns 15 cm de cada lado. Amaldicoei mais uma vez as Cias.Aereas por nao realizarem uma inspecao corporea antes de organizar os assentos, igualzinho fazem com nossas malas.
Apesar do incomodo, controlei os impulsos e conversei com todos ao redor (engenheiros de Piracicaba voltando de uma feira agricola em Sidney) mostraram-se simpaticos, cultos e portadores dos odores mais nauseantes que ja conheci. Em troco, tive um leve ataque de gases durante a viagem que soou mais como justica divina do que apenas espasmos comuns a qualquer pessoa que passou a noite enchendo a cara de cerveja.
Buenos Aires, dezesseis horas depois e mais quatro de cha-de-cadeira a frente, achei um unico aeroporto com uma area de fumantes no mundo (a Franca tambem deve ter, mas nao sei ainda) observei com calmas as pessoas circulando, em grupos e mostrando fotos de suas viagens e tentando ligar para casa avisando que o aviao nao caiu e que a feijoada ainda estava em pe, me arrependi fatalmente de tentar chegar de surpresa em casa, tirando todo o aspecto familiar de uma volta para casa. Aeroporto de Cumbica, check out, eu por meia hora na esteira amaldicoando a mala preta (sabiam que 90% dos viajantes tem uma mala preta ?) e a demora para descarregarem as malas da merda do aviao, meu Deus o Trovao esta me esperando sozinho no aeroporto... ...mais de trinta minutos, eu e minhas malas deixamos a alfandega (da qual passei ileso) e pude ver a cara amiga e sorridente do Trovao na saida, nada podeer melhor depois de dois anos de nao-familiaridade. Entramos no carro e ganhei uma caixa gelada de Brahmas, a vida comecava a fazer sentido novamente - a pressao da cabine ainda fazendo efeito e misturados ao alcool deixam qualquer Valium 10 no chinelo, especialmente associados a 20 e poucas horas sem dormir espremido entre dois obesos fedorentos.

Ibiuna pareceu surreal a chegada, aquela cidade escura e vazia demonstrava o quanto um lugar pode ser estatico ao correr dos anos : tudo estava la, a prefeitura, os postes, o bar do Julio (gracas) e a casa de minha irma, aonde o carro de meus pais estava estacionado.
A campainha toca em um Domingo as dez da manha, e na porta voce ve uma pessoa que NUNCA toca sua campainha em dia algum, o que voce faz ? Abre a porta e encontra um babaca sumido ha dois anos correndo para dentro de sua casa (meu cunhado vai morrer com essa) gritinhos, olhos esbugalhados e voce finalmente esta de volta a casa, seus sonhos viraram realidade enfim. Entrar em minha velha casa (de repente nao parecia mais MINHA) foi estranho, mas tudo estava no mesmo lugar que deixara, as fotos, a sala, meus CDs, tudo parece ter sido montado como um templo a alguem que se foi para sempre, uma morbida homenagem digamos assim, especialemnte quando se espera que a vida siga em sua casa do mesmo jeito que a sua seguiu. Esperava mudancas mais drasticas.
Como meu irmao e a namorada estavam na sala, dormi no quanto de minha irma (ex-quarto) apesar de nao querer exatamente dormir pela excitacao de estar de volta, toda a casa em silencio e eu sem nem uma TV, uma distracao, apenas aquele quarto que apesar de estar a minha espera, nao era meu.
Senti uma das maiores solidoes do mundo, e adormeci.

Sabia que ainda tinha muito por vir, e tempo seria uma commoditie cara, muito cara, nao teria muito tempo para me acostumar. Mas o cheiro da casa, dos lencois, da familiaridade nem o tempo apaga.
E bom estar de volta.
 
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