quarta-feira, março 30, 2005

Ainda no Tatler...

Meses haviam se passado, eu ja preparava molhos, cortava e limpava pedacos gigantescos de carne e aparentemente nao havia mais o que se aprender naquela cozinha, o menu mudou apenas para ser uma variacao das mesmas coisas do antigo (Mark eh um vagabundo de carteirinha) e eu nao aguentava mais o Steve me enchendo o saco, mas eu comecei a perceber o que estava acontecendo realmente quando passei a fazer a preparacao da area quente. Uma noite, no auge do desespero Mark berra por root veges (vegetais tuberculos, cortados em cubinhos) aparentemente Steve deu mancada, e la fui eu com minha faca de dez dolares cortar legumes - o que geralmente levava horas para aqueles dois, eu fiz em minutos - e nao estava usando as facas Victorinox, Globais da vida nas quais eles prezam como seus proprios orgaos sexuais (na verdade, ainda acho que a faca, para o chef, ainda eh um simbolo falico de poder) e agora eu entendia o porque de geralmente serem seis da noite, enquanto eu me descabelava para terminar toda preparacao das pracas de saladas e sobremesas os dois estavam em frente dos fogoes lendo jornal, batendo papo e observando os decotes, a anatomia das freguesas que passavam em frente da boqueta em direcao ao banheiro. Passei a entender a situacao : havia sido eleito o Heroi, aquele cara que nunca falta, nunca liga falando que esta de cama (a nao ser que vc tenha uma hemorragia interna, vc TEM que estar la) e nunca reclama que esta sobrecarregado, alias este e o perfil ideal de um ajudante de cozinha - mesmo que vc acorde na sarjeta com cachorros lambendo a sua cara e com uma dor de cabeca herculea, VC TEM DE ESTAR LA as nove em ponto, de uniforme limpo, barbeado e hiperativo. Nem sempre correspondi a descricao,mas estava lah, durante meses e meses e nunca dei mancada, Sarah a gerente me apelidou de "reliable Ricardo".
Na semana seguinte, estavamos la nos matando (eu, bem claro) e quando eram quatro da tarde, as pracas ainda arrasadas pelo almoco, Chegam Steve e Mark, ao passo que joguei o avental e estava batendo o ponto quando em polvorosa eles me perguntam aonde iria - como assim vc vai sair e deixar a gente na merda ? Apenas mostrei que a MINHA praca estava reabastecida e que iria tirar meu break sim, "voce quer um heroi ? o cemiterio esta cheio de herois, sao os primeiros a morrer" e fui para meu break de uma hora.
Isso mudou bastante as coisas por la.
Estava comecando a ficar viciado em Panadol, no comeco era porque tinha constantes dores-de-cabeca por falta de sono, alimentacao irregular (para quem trabalha em cozinha, um simples macarrao com molho de tomate eh uma bencao) e raros dias de folga contribuiram para me colocar na mais profunda das depressoes - chegava ao trabalho feito um zumbi, andava pela cozinha me arrastando e ferias nao eram considerada uma possibilidade, mais um sonho.
Apos mastigar a seco, mais dois Panadols, agora porque descobri que alem de amansar a dor-de-cabeca estes continham doses cavalares de cafeina descobri que o novo chef da manha havia chegado - Francis, Irlandes, oculos-fundo-de-garrafa e um sotaque gaelico incompreensivel estava prostrado em frente aos fogoes feito uma barata tonta. Nao despertou o menor interesse em minha ja abalada fe no Tatler. No inicio, claro.
FRAN.
Francis (carinhosamente apelidado de FRAN) foi jogado na cozinha sem nenhuma explicacao, sem nenhuma ideia do cardapio, sem a menor dica do vagabundo do Mark que estava agora feliz por ter se livrado de uma vez por todas do inconveniente de encontrar um day-time chef.
No inicio, achei que ele era um desses NERDS que andam por ai tentando ser simpaticos com todos, pensei em mais um idiota para aguentar toda a manha (depois da Brenda, uma vaca extremamente religiosa que deveria seguir os proprios mandamentos) e nao estava contente com mais agruras que possivelmente surgiriam, fui com cuidado, dizendo a ele o que deveria ser feito e me senti um pouco desconfortavel ao dizer a um chef experiente o que deveria fazer.
Comecamos a trabalhar juntos numa sexta, acho eu, e no sabado ele me chamava para cozinhar junto com ele, dividindo comandas e assistindo ele - achei brilhante, um sopro de vida em meio ao deserto profissional que me encontrava - mas a prova de fogo estava por vir, a apenas um dia de distancia, na forma de um dia de cafe-da-manha.
Domingo, o dia dos turistas e caipiras irem tomar seus cafes da manha fora de casa, estavamos eu e Fran, nos preparando para mais um dia de esbarroes e encontroes devido a nossa total falta de familiaridade na estreita area quente, quando as nove da manha em ponto (mal tinhamos tirado as coisas da geladeira) comandas comecam a ser cuspidas pela impressora, fato raro em qualquer dia da semana obter pedidos nos primeiros minutos de funcionamento. De repente, as nove e meia, tinhamos 14, 15 comandas dependuradas e corriamos, Fran gritava com seu sotaque gaelico "fock,fock, bastards !!" enquanto eu dividia minhas tarefas entre cozinhas, fazer as saladas e sanduiches, lavar pratos e reabastecer a area quente com bacon (que deve ser pre-cozido no forno), Hash Browns, salsichas, Cogumelos silvestres (tambem pre-cozidos no forno) e toda a parafernalia que o continental Breakfast exige. A cozinha enorme do Tatler exige pelo menos tres pessoas trabalhando, uma basicamente no fogao, outra entre abastecimento/assistencia e saladas e outra para lavar os pratos e ir buscar coisas na camara fria - eramos um exercito de dois homens, fomos levados quase as lagrimas e so conseguimos ajuda (virtualmente) quando depois de horas as duas mariquinhas admitiram para a gerente que a coisa estava desandando.
Ligaram para o Steve, o unico disponivel e ele apareceu uma hora depois (por volta das uma) totalmente chapado por resquicios das drogas da noite anterior, levava horas para lavar UMA frigideira e nossos pedidos por molhos Barnaise, bacon e afins eram apenas ruidos em sua confusa e dolorida cabeca (tanto que dispensamos ele as duas e meia) e as tres e meia da tarde, ainda tinhamos pedidos entrando e nao sabiamos o que fazer para abastecer aquele povo que nao parava de entrar no restaurante. "Motherfockers !!" gritava Fran entre um prato e outro, enquanto eu lavava os pratos correndo para reabastecer a estufa de pratos quentes.
Entre urros/berros/gritos e sussurros, foram por volta de 200 pessoas atendidas naquela manha - recorde de publico do Tatler para cafe da manha, ganhamos uma cerveja cada um da gerente (que quebrou o protocolo de alcool zero no trabalho) e as quatro da tarde estavamos no beco atras do restaurante sentados em caixas de leite encostados na parede, bebendo a cerveja e fumando avidamente os primeiros cigarros do dia. "Fomos estuprados" falei, e ele devolveu "Voce eh bom" - concordamos entre nos, e partir dai surgia o duo-dinamico das manhas.
Viramos parceiros, de trabalho, de bar e da vida - como costumo dizer, meus colegas de bar tem um problema de trabalho e com Fran nao foi diferente : saiamos para o break do dia e voltavamos levemente embriagados para trabalhar e ainda sim, trabalhavamos brilhantemente. A essa altura, ainda era Abril, Fran entrou no ritmo de Queenstown tipo, bar/pilulas/snowboard/baseado e trabalho enquanto eu procurava me focar no trabalho, mas ainda estava descontente com um monte de coisas, entendam que as pessoas que trabalham em uma cozinha estao a uns cinco niveis abaixo da humanidade e sao em suma : drogados, bebados e pessoas com passados criminosos e ate entao, era considerado como tal naquela escala, e na verdade sou um dos unicos que nao usa drogas e talvez, o unico interessado em aprender mais e mais. Fran tinha uma razao para estar la, ele era qualificado entao a satisfacao profissional estava em segundo plano - o trabalho era apenas dinheiro para esquiar e beber - para mim o buraco era mais embaixo, nao estava mais vendo razoes para estar lah, comecei a pensar em dinheiro.
Visto que Fran era qualificado, e ganhava exatamente o que considerava um salario decente para mim, apos dois meses tentava convence-lo a pedir aumento de maneira que, eu pudesse ter um aumento tambem de forma justificada (e com certeza, a direcao iria querer manter o duo-maravilha) mas Fran era muito bundao para pedir um aumento e isso encrencava meus planos tambem.
Percebi que enquanto a direcao do restaurante me visse como um brilhante drogado, bebado, oportunista de temporada, nao iria para lugar algum, queria sim, meritos e grana, ainda que fosse para ser um otimo kitchenhand, queria mais.
Ai, comecei a arquitetar minha fuga.

Tatler: paixao e odio.

Ao me lembrar da primeira vez vez que entrei no Tatler, estava recem-chegado de uma peregrinacao de mais de 4000km em minha moto 100cc. para passar o ano-novo em Queenstown, e decidi ficar aqui ate a hora de pegar meu voo de volta para o Brasil dia 15 de Fevereiro, precisava de um emprego para pagar o lodge onde estava hospedado e uma graninha para gastar na balada de Queenstown.
Apos Auckland, todo o trabalho duro, a falta de reconhecimento (a minha falta de compreensao sobre a industria ajudou a ser um mimado empregado que odiava ser contrariado) me ensinaram que eu nao deveria a qualquer custo pegar o primeiro emprego que aparecesse, nem por miseras quatro semanas ainda que fosse, estava no fim da minha paciencia e estava decepcionado demais por nao ter conseguido um visto para permanecer mais na NZ e enquanto circundava a cidade em busca do emprego ideal, me deparei com este templo ao bom gosto que e o lugar : todo em madeira envernizada tipo nougat, luminarias e apetrechos de bar em cobre e uma sobria cortina de veludo dividindo o salao o lugar era tudo o que queria - podia me ver detras daquele bar, ou circulando pelas mesas rindo, fazendo gracinhas e encantando os clientes em troca de generosas gorjetas (que, tinha ouvido falar, sao generosas em Queenstown) e entrei com a maior cara-de-pau, barbudo, cabelo descolorido e botas pesadas pedir pelo meu lugar ao Sol. Cheguei ate a beira do bar aonde, o bartender (e gerente) estava distraido e quando falei oi, ele se virou e me mediu de cima a baixo - ele era magro e alto, cabelos curtissimo sem um so fio fora do lugar, uniforme impecavel e um sotaque ingles de botar lordes no devido lugar, quem diria o brasileiro tampinha prostrado em frente ao balcao - "to procurando emprego" anunciei em voz alta em meu ingles macarronico que devem ter ferido os timpanos da criatura que sem sequer mover uma pestana me pediu um curriculo na esperanca e certeza de que eu NAO possuia um, e que me mandaria para sempre de la e parasse de infectar o ambiente com minha indesejada presenca. No dia seguinte, consegui emprego de garcon em um restaurante indiano por um salario de merda e o staff do lugar mais parecia uma mafia do que colegas de trabalho, o lugar parecia escuro e sem vida alguma e de alguma forma, sabia que aquele nao era o lugar para mim, o Tatler parecia mais e mais o Olimpo dourado dos garcons. Voltei no dia seguinte com um CV em maos, de barba feita, cabelo escovinha (emprestei a maquina de cortar de uma amiga) e jaqueta de couro marron bem-cortada e o tratamento agora foi diferente, ao inves do gerente me olhar como uma barata de esgoto agora ele me via como uma barata voadora, insistente e perigosa na proximidade que passa pelo seu rosto - pegou meu curriculo e antes que eu cruzasse a porta, me vierei para ver o que ele faria com a folha, e alias nao fui decepcionado, fiz milhares de vezes isso em Auckland, enfiou o CV em uma pasta com milhares de papeis que provavelmente jamais seriam lidos e iriam, em uma semana para a "Cesta" sessao.
Nao me dei por vencido, e nao apareci na mafia indiana para trabalhar pois enfim realizara que aquele nao era o lugar, aquelas nao eram as pessoas e eu nao era exatamente a pessoa certa para se trabalhar em um lugar cheio de indianos, morenos e baixinhos, e seria eu la - bem no meio, louro, olhos azuis e um pouco agigantado para os padroes. Enquanto ainda pensava em como me enfiar no Tatler, Eduardo, carioca e lavador de pratos amador do Tatler me aparece dizendo que estava se mandando para trabalhar em um hotel e que haveria uma vaga no Tatler, por assim dizer disponivel, mas eu nunca havia lavado pratos ou trabalhado em cozinha em minha vida, ate ai, nada a ver - mas ele conhecia o dono e tinha falado de mim pro cara havia cinco minutos, ele TINHA O CONTATO que eu precisava para passar por cima do gerente, o dono chama-se Grant e mais que depressa me mandei para la com o cartao de visita do homem decorando o nome, aquele cartao preto e impresso em letras classicas brancas.
Cheguei chegando, e entrei feito uma bala ate o balcao e novamente o gerentinho encardido estava lah, no lugar de costume atras do bar e nao falei mais nada : perguntei se podia falar com Grant.
"O que voce quer com ele ?" retrucou com o ar mais desconfiado do mundo, dizendo que ele estava ocupado e em minha cabeca o mundo parou por alguns segundos e agora a cena congelada a minha frente e as opcoes apareciam em uma legenda em minha cabeca:
a) Soco esse almofadinha e passo correndo pelas escadas ate o escritorio;
b)Digo que sou da inspecao sanitaria da NZ, e que tenho seriedade em falar com o dono;
c)Grito "FOGO" e aproveito a chance enquanto todos correm;
d)imploro;
Implorar, infelizmente pareceu a opcao mais sensata e menos divertida, entao comecei a dizer que tudo que queria eram cinco minutos do tempo dele, ate jurei que nunca mais apareceria por la caso eu nao conseguisse nada - mas tudo que queria eram cinco minutos com ele...
O homem sentado atras de mim, com uma voz firme e alta quase esbravejante disse "eu sou Grant, o que voce quer ?" e se levantou pondo-se ao alto dos seus quase 1,90m, cara marcada por uma adolescencia acneica, bochechas rosadas de beberrao e cabelos brancos desgrenhados e rebeldes, engoli em seco e disse que o Eduardo tinha me mandado.
No escritorio, ele se serviu de vinho (nao ofereceu) e me perguntou o que queria com ele, parecia um homem firme e justo, gostei disso e me peguei entrevistando ele para ser meu empregador; fui de uma sinceridade constrangedora e disse que queria trabalho por tres semanas, e que nao aceitaria um nao como resposta ate porque, aquele era o unico lugar na cidade aonde me via trabalhando, contei que nao tinha visto de trabalho e por fim, que tinha experiencia como garcon e bartender quando perguntado o que queria fazer. Ele disse que nao precisava, e perguntei pela primeira vez " do que voce precisa ?" - lavador de pratos durante o dia, ouvi, e pensei nisso como uma entrada pela porta de tras - aceitei e me mandei prometendo voltar no dia seguinte as dez da manha.
O resto, voces ja devem ter lido antes, ate ser contratado e ser treinado para Larder Chef (chefe de partida) e em um mes, ja sabia pelo menos 2/3 do que os outros dois iniciantes sabiam - e ai comecaram os problemas.
O sub-chef, na verdade era mais um assistente do Mark, a putinha dele, para ser mais preciso era Steve - loiro, olhos azuis e kiwi, estava sempre tentando me impressionar com seus truques de cozinha e para quem nao nos conhecesse poderia dizer que eramos irmaos gemeos , mesma altura, estrutura e aparencia nos tracos europeus e o mesmo cabelo acinzentado que cheguei a conclusao, nos odeia.
Exceto pelo fato do FDP me odiar do fundo da alma.
Todo e qualquer erro cometido por mim durante o dia era profusamente relatado para o Mark durante a noite, desde uma simples queima de um bolo de chocolate, ate o desperdicio de um tacho de Cremee Brulee, tudo era minuciosamente relatado na minha ausencia ou durante o jantar, momento em que Steve se sentava com Mark do lado de fora do restaurante para destilar o veneno. Mark apenas entrava na cozinha e me perguntava se realmente as pequenas tragedias haviam ocorrido, apontando Steve atras com o canto do olho - jogando lenha na fogueira, para ser mais correto - fomentando a "competicao" entre nos enquanto Steve ficava de costas fingindo fazer alguma importante e ouvindo tudo. Como eu sou incapaz de mentir se perguntado diretamente, sempre dizia a verdade e no futuro isso acabou fazendo toda a diferenca entre nos tres, ficou claro quem era o alcaguete e quem estava jogando sujo.
Certa noite, apos meses de enchecao de saco por parte do Steve (todos na cozinha sabiam o quanto ele fazia o possivel para me irritar) perguntei para ele o porque de tanta delacao, sendo que eu vira Steve fazendo altas merdas e nunca o joguei na fogueira, ao fato que obtive um "porque eu sou o Sub-chef, e voce nao, tenho responsabilidades" - isso trouxe meu sangue a temperaturas elevadas - e apenas disse que se estivesse em meu pais, lidando com um brasileiro e com as leis me protegendo, ele ja teria levado um soco bem no meio do nariz. A partir dai, a coisa ficou pior, mais dissimulada. Steve agia pelas minhas costas, punha garcons contra o meu trabalho e numa ocasiao, quando Mark saiu de ferias por uma semana, cortou minhas horas e fez de minha vida um inferno terreno mas aquilo foi um divisor de aguas para mim. Durante aquela semana, intoxicado pelo poder, ele comecou a dar ordens para Chefs com quinze anos de experiencia e simplesmente ferrou com os nervos de toda equipe, claro que o alvo principal era eu.
Na volta, todos reclamaram para o Mark durante o dia e eu so trabalharia a noite, ao passo de que quando cheguei, o barraco ja deveria estar armado. Eramos naquela noite, uma equipe de quatro pessoas, todos os chefs menos Steve, de folga, e na area quente estavam Craig e Mark conversando quando entrei.
Mark me perguntou se "Steve se comportou bem ?" ao passo que apenas de cara resignada falei que sim, sem nenhum problema e me virei para fazer a preparacao de minha sessao, enquanto eles trocaram olhares (fui saber mais tarde) e assentiam um para o outro, eu nao CAGUETAVA colegas de trabalho e incoscientemente, devo todo o respeito que a equipe me deu ao Steve, ate hoje alias, ele nao imagina o desservico que deu a si mesmo, e o beneficio que me entregou de bandeja.
A partir dai, ficou claro que eu era um dos caras, toda a equipe passou a ver raios de sol saindo do meu rabo (SIC).
Mais tarde, saimos para tomar uma cerveja eu e Steve e falei abertamente de toda merda que ele me fez passar, e agradeci - nao por nenhuma falsa modestia, mas se nao fosse por ele, eu nao seria atento ao que faco, nao procuraria ter tanto apreco por detalhes e provavelmente nao teria tanto respeito pela equipe. Fora do trabalho, Steve tem um coracao de ouro, mostra o quao inseguro se sente e ate hoje somos bons amigos - colegas de trabalho, jamais porem. Os meses restantes foram de puro trabalho duro e dedicacao, ataques de mau-humor, ataques de riso, e novos importantes membros da equipe dos quais falarei logo.
Estava comecando a achar possivel me tornar um chef, e quem sabe ate cozinhar, de verdade.

domingo, março 27, 2005

FAB.

Muito mais que despertar meu interesse pela culinaria, Fabrizio me fez ver a primeira vantagem pratica de ser um chef - poder trabalhar em qualquer lugar do mundo, seja na Grecia, Japao ou China, esse argentino de 29 anos esteve em todo lugar com sua faca em maos.
Fabrizio trabalhava no outro restaurante do meu chefe, a apenas duas portas de distancia e cobria os Domingos e Segundas da Chefe da manha e era um prazer imenso trabalhar com ele.
O choque cultural era incrivelmente menor entre nos e Fab (apelido dado a ele) tinha uma experiencia incrivel e explicava o porque de cada coisa ser preparada do jeito que era, usando termos de fisica e quimica para ilustrar o porque das coisas darem certo ou errado na cozinha alem de ser um grande amigo.
Apesar de ser um ano mais novo, aparentava ser mais velho que eu pelo menos uns 6 anos devido ao trabalho duro e a vida desregrada que levou ao redor do mundo - seu curriculo incluia EUA, Cuba, Espanha, Franca, Inglaterra, Grecia, Australia e mais recentemente Japao - parecia nao haver nada que Fab nao soubesse, seja da cozinha, da vida ou das pessoas, creditava todas as frases celebres e ditados profeticos a sua mae, segundo ele a pessoa mais sabia no universo. O jeito como tratava as pessoas quando queria, era bem mais truculento do que jamais imaginei poder ser na vida, mas o mote era que em 90% dos casos, ele estava irremedialvemente certo.
Mulheres, dinheiro e viagem, nesta ordem, sempre guiaram a vida de Fab, safado e malandro, era o oposto do que sou - sempre pensava e colocava a si mesmo em primeiro lugar e costumava me dizer que sou um otario de carteirinha por ser muito bom para as pessoas (pasmem) e que enquanto nao pusesse a mim em primeiro lugar, as pessoas fariam o que queriam de mim.
Mais uma vez, as profecias de Fab provaram-se verdadeiras e estava ha sete meses fazendo split Shifts (trabalhava das nove as tres, e das seis a meia-noite) e estava cansado, irritado e sem muitas perspectivas a frente. Fab pediu demissao do Tatler, e estava procurando um novo emprego para deixar definitivamente o Captain's (o outro restaurante ao lado) e arrumar alguma coisa mais facil e com horas mais flexiveis, alem de evitar o stress de lidar com o dono do restaurante diariamente, segundo a lendaria mamae, "uma mudanca, as vezes eh melhor que ferias", e na verdade ambos procuravamos uma mudanca, procuravamos talvez uma oportunidade e combinamos para a partir do primeiro que encontrar um emprego, iriamos trabalhar juntos, achar o emprego e abrir espaco para o outro chegar. Ai, entra John Jones, bartender, irlandes e ambicioso homem.

A vida de Chef.

Desde minha volta, evitei tocar no assunto e talvez mistificar o que tenho aprendido e o que tenho a aprender talvez ate para nao criar expectativas grandes em relacao ao que faco, apesar de gostar do que faco - provocar reacao instantanea nas pessoas ao verem um prato bem servido e bem decorado - existe a responsabilidade que pesa sobre voce desde um jantar para 60 pessoas ate um jantar para 10 para amigos (do qual senti pesar muito mais a responsabilidade por medo de decepcionar as pessoas que voce gosta) mas por ora, vou tentar focar a trajetoria que me levou a fazer o que faco.
Ao conseguir o emprego de lavador de pratos, observei com inveja e admiracao os chefs se movendo graciosamente dentro da cozinha de dentro de meu avental de PVC enquanto esfregava panelas, frigideiras fervendo e tentando saber a razao de tanta agressividade no trato de utensilios de cozinha ao serem atirados para dentro da pia a me encharcar os ossos de detergente, gordura e pedacos incidentais de comida que grudavam em meu rosto e cabelo. Minha primeira grande atracao foi pelas sobremesas, Yanick, um chef franco-canadense fazia pequenas torres de chocolate marmorizadas com apenas umas tiras de plastico e clips de papel, para mim foi a primeira vez que quis realmente tentar preparar alguma coisa, as sobremesas bem-decoradas e guarnecidas pareciam muito melhores que a comida que saia do fogao na hora do almoco, tinham um que de grand-patisserie e uma dignidade muito maior do que os ovos e Hash Browns empilhados em pratos de maneira quase desconstrutivista ou uma versao piorada de uma pintura de Picasso, olhos desgovernados e fora de centro ao redor de um nariz horizontal, um total horror aos meus olhos. Eu sabia o que queria e o que queria nao era fast-food, pretencioso eu sempre fui.
As pessoas que porventura acabam em uma cozinha, sao, de longe, anormais em relacao aquelas com as quais voce trabalha no escritorio, no forum, na loja; sao desajustados que estao sempre em posicao de fuga, seja da familia, da vida da realidade dos dias nove as cinco das pessoas normais - a vida de chef eh mais atribulada mas deixa exatamente os horarios certos e preferidos para fazer o que mais gostam : beber e fumar maconha.
Yanick por si soh ja era uma epifane da profissao : sempre de barba por fazer, usuario de cocaina inverterado estava sempre com a cara de quem nao dormiu a noite toda e os longos cabelos desgrenhados sempre entafuiados para dentro do chapeu de chef, mas com sabedoria de quem ja trabalhou em muitas cozinhas e sabia que nao havia nada de novo que alguem pudesse jogar em sua cara, nao dava a menor ao que acontecia ao redor - ele era a lei.
Vendo que eu dava conta da lavagem e ficava procurando o que fazer, ele me introduziu a praca das saladas, aonde me ensinava devagarinho os pratos frios com aquele ar de "voce nao sabe o que te espera".
Eu realmente nao fazia ideia.
Apos tres semanas eu ja dominava as saladas e mezze plates e ja fazia uma humilde entrada no mundo das sobremesas, aprendia a fazer as guarnicoes e enfeites como uma crianca na aula de educacao artistica fazendo um cinzeiro de argila. Yanick em hipotese alguma era a companhia que desejava para circular por ai, era rude (o lado frances) neurotico e drogado, mas dentro da cozinha se tornou a pessoa certa para se estar e em pouco tempo, ja havia me dado uma jaqueta de cozinha (meu primeiro uniforme) um gorro e muita coisa para fazer e apesar de seu jeito desleixado tinha uma disciplina nazista em relacao a limpeza, arranjos e trato com a comida.
Ao final de tres semanas, ele pediu demissao, e eu vi a chance ali, uma pessoa a menos na cozinha, uma pessoa a mais a contratar.
Pedi o emprego numa quarta-feira e na sexta estava de contrato na mao e com a promessa de treinamento para a posicao de Larder Chef por um ano (a qual se revelou um treinamento totalmente na pratica, estilo militar) e quando comecei a trabalhar noites (jantar eh o objetivo de todos os aprendizes, eh onde tudo acontece) comecei a ver mais e mais a fauna culinaria.
Andrew, chef ingles, havia sido contratado ha uma semana e todos estavam contentes com o seu trabalho ate a noite em que ele saiu para fumar um cigarro e nunca mais voltou - me deu bem uma ideia do tipo de relacao que esses trabalhadores tinham com seus empregos.
Mike, kitchenhand que trabalhava ha meses antes de mim, nao fazia a menor ideia da onde vinha uma sobremesa, uma salada, e vivia chapado de maconha e talvez por isso, foi declarado nao-elegivel ao aprendizado da cozinha limitando-se a lavador de pratos; em varias ocasioes chegava para trabalhar apos fumar um baseado nos fundos do restaurante e ficava segurando as manoplas da lavadora de pratos industrial como se estivesse em uma moto, imitava inclusive o ronco da "Harley-Davidson" imaginaria, que inveja nao saber o tempo todo o que se passa ao redor. Em Queenstown, cidade turistica, tive mais contato com a industria da hospitalidade e pude observar o staff de temporada :
-Pessoas que estao fugindo de suas realidades;
-Beberroes e notivagos em geral;
-70% dos trabalhadores usam regularmente algum tipo de droga;
-Pessoas que em geral, tem horror a estudo;
-Gente que, em vinte anos, provavelmente estara fazendo as mesmas coisas, vivendo da mesma maneira em qualquer pais que nao seja o deles.

Mark Beeby.
Ao trabalhar noites, conheci o head-chef do restaurante, Mark Beeby trabalhou em Queenstown por vinte anos e eh conhecido por ser um "Cowboy" - termo designado no meio para Chefs que fazem servico "matado", daqueles que botam um steak na fritadeira ou no microondas para servir mais rapido (ofensa grave no meio) e que gerenciando pessoas nao tem a menor ideia dos limites entre ofensa pessoal e profissionalismo. Por ser um dos unicos Chefs qualificados e com certificado, sempre conseguiu trabalho apesar de ser esta a primeira experiencia como head-chef eh brilhante para trabalhar com custos e lucros da cozinha. Seus menus sao pessimos e a grande parte da industria o odeia.
No comeco temia a ira dele durante as horas de maior movimento, os berros, os xingamentos eram simplesmente insuportaveis e com o tempo, quanto mais convivi com ele, mais aprendi a ignorar seus acintes e achaques a partir do momento que o chamei para a briga (pra fora, agora!!) ele desenvolveu um respeito inesperado por mim e ate hoje o homem me adora, nao consigo entender ainda a razao ate porque, ate hoje, eu nao o trato diferente do que costumava no comeco. Se por um lado aprendi muito do que fazer com ele, aprendi tambem muito do que NAO fazer.

O trabalho no Tatler comecava a me cansar, principalmente por nao poder tocar no fogao, e tratei de aprender a fazer as sobremesas para ter acesso a essa meca sagrada da cozinha - a area "quente" onde estao fogao, fornos e fritadeiras, aonde a magica acontece e durante uns raros segundos durante o almoco, entre a troca de chefs, fui permitido cozinhar por alguns minutos diarios as refeicoes, prazer este, muito maior do dirigir um carro pela primeira vez, que a primeira trucada, que o primeiro dia de faculdade - eu comandava ainda que apenas por raros minutos mas estava lah, esperando a minha chance.

Apesar disso ser o maximo que consegui em sete meses, mas a minha sorte estava por mudar.

domingo, março 20, 2005

Ahhhh.... antes que me esqueca...

Li, meus parabens pelo aniversario e pelo presente que voce esta recebendo !!! Alias, presente para todos nos que te amamos tenho certeza que todos concordam. Parabens a voces !!! Beijos

PS:- Acho que foi a inspiracao para o texto abaixo... ...nao tem nada a ver :) eu sei, mas sei lah, enfim...

Quase 30.

Como nao poderei fugir do assunto por muito tempo, vou encarar agora e ficar livre !!!
Como em Queenstown todos os backpackers estao por volta dos vinte e poucos anos, semanas atras estavamos reunidos para uma cerveja ao Sol enquanto eu revirava minha bolsa atras de minhas chaves ate que no calor de achar as danadas comecei a por tudo para fora da mochila, inclusive meu passaporte que imediatamente comecou a ser vasculhado pelas meninas. Ao verem que eu tinha 29 anos, a surpresa - "Voce eh velho" eu tive de ouvir de quatro garotas entre 21 e 25 anos (afinal, elas tambem nao estao longe) mas notei como sete, cinco, tres aninhos fazem a diferenca entre duas pessoas; nao que eu seja completamente mais experiente, sabio ou pratico, isso eh muito subjetivo - mas percepcoes comecam a divergir.
Comparando a digamos, sete anos atras, estou mais critico, cansado e um pouco mais ranheta, mas na verdade tudo passa a ser constituido de mudancas. Medus interesses mudaram, e enquanto algumas coisas perdem a graca, outras ganham novas cores; ficar tres dias seguidos na balada e acordar de manha para trabalhar tornaram-se impossivel enquanto passar um Sabado a noite em casa assistindo um filme deixou de ser uma desgraca completa, andar vestido com o que houver de mais caro no Brasil quando sair com os amigos nao eh mais fundamental (alias, seus amigos passam a andar mais a vontade fora do trabalho tambem) e seu carro nao esta mais sempre brilhando, voce deixa sujar um pouco antes de gastar com lava-rapido ou seu precioso tempo livre.
Livros passaram a ter mais importancia ao inves de servirem de suporte para mesa manca e esconderijo para boletins, conta bancaria e afins, agora eu paro em uma livraria e passo horas e horas vendo os livros ao inves da revistas de carro, quadrinhos e cds (paixao da qual nao abandonei, nem acho possivel).
As musicas que eu gosto nao tocam mais nas radios (a nao ser na sessao flashback), os programas de TV que eu gostava muitas pessoas nem sabem que existiram (TV Pirata, Armacao Ilimitada) e ultimamente falamos de pessoas que metade do grupo no barzinho nao sabe quem sao.
Ai, quando voce acha que sabe todas as respostas, a vida vem e muda todas as perguntas - de quem vou ser no futuro passa a quem sou eu agora ? de sera que um dia vou casar passa a porque nao me casei, quantos amigos tenho para quantos restaram e por ai vai...
As pessoas que voce conheceu na infancia podem nao estar por perto mais sao as quais mais me lembro, e seus amigos passam a ser poucos e leais - falo daqueles que entram em casa e abrem a geladeira, esses sim falam tudo na tua cara, riem, fazem o que querem de voce e ainda assim voce ama. Os gostos mudaram um pouco, ficam um pouco mais refinados ao tempo que voce fica mais simples, as ambicoes passam de uma mansao com quatro carros na garagem a uma casa com um carro do qual voce aguente pagar o seguro e sua saude passa a ser importante, passa-se a temer por sua propria seguranca igualzinho seus pais temiam por voce, pular de uma pedra a oito metros do mar sem pensar um segundo : antes possibilidade, agora impensavel.
Ja ouco de pessoas tendo enfartos aos 30, ja sei que tenho que fazer exercicios mais frequentemente e ate ja descobri que os cabelos raream, os dentes sao menos brancos e agora comeca a fase na qual a renovacao celular diz chega e voce que se vire para manter o que tem.
Mas existe a promessa de quando chegar aos quarenta, voce se aproxime dos vinte de novo, faca uma tatuagem no braco, ponha um piercing, monte uma banda e viva por ai, se virando para pagar as contas, sendo um "tio bacana" e talvez ate esqueca que um dia tive trinta anos e era mais bonito, rapido e pouco esperto em comparacao do que eh agora, aos quarenta, quando dizem, a vida comeca.
Dizem que a juventude eh a melhor fase da vida, mas eh quando voce mais trabalha, mais duvida, mais tropeca, e quando voce acha que a melhor fase passou, esta lah, mais tranquilo, mais perene e muito mais sabio do que ha vinte anos atras - nao pode ser tao ruim assim, afinal. Talvez eu seja apenas um velho ranzinza, com minha bengala correndo atras das criancas, mas uma coisa sempre foi certa para todos nos desde criancas : Nao adianta chorar, se chorar fica sem sobremesa.
30, 40, 50, 60 - nao importa, somos resultado de todos os erros e acertos durante o trajeto e quando ficamos perto da perfeicao, injustica, estamos nos ultimos anos de vida, talvez porque tudo que eh bom, dura pouco, especialmente se compararmos que a velhice dura muito menos que a juventude.

Mas minha unica certeza, meu unico conselho que pode realemnte mostrar resultados ao longo da vida eh : use o filtro solar.
O resto, a gente tira de letra.

terça-feira, março 15, 2005

Aos meus amigos !!

Valeu pelo incentivo, mas por um lado, minha mae esta certa, nao se deve escancarar sua vida intima e privada desse jeito (sim, sou aparecido mesmo...) e para um dia estar andando pelas ruas e neguinho te tacar havaianas, ai nao da ne ? Na verdade o que preciso eh de uma auto-avaliacao par saber o que vale a pena ser dito, de que forma e em qual linguagem, sei que as pessoas que me conhecem nao vao levar tao a serio o que eu digo ate porque... ...bem, voces me conhecem ne ?
Poxa, brasileiro tira sarro de tudo e soh eu nao vou poder ????
O que ouvi foi tambem que "eu meti o pau em Ibiuna" e a coisa nao eh bem assim, pois eu me incluo no grupo de Ibiuna so que desta vez eu tenho a visao de quem passou bastante (bem, nem tanto, va la) tempo longe e agora tem niveis de comparacao para avaliar o comportamento das pessoas, fiquei mais velho, critico e ranzinza com certeza, mas ate ai, quem nao estiver afim de ler, simplesmente muda de site e vai ler o que achar mais interessante e instrutivo oras...
Mesmo assim, quero que as pessoas compreendam que eu poderia ter ido a qualquer outro lugar do mundo e escolhi voltar para casa (alias, a passagem mais cara daqui para qualquer lugar do mundo) gostaria que as pessoas levassem em consideracao tambem que nunca andei com quem nao tenho afinidade e nao tenho segundos interesses nas minhas amizades, isso sim nunca vai mudar - meus amigos, ha muitos anos sao os mesmos e tenho muita gente que conheci durante estes dois meses que com certeza estao me fazendo falta. Para as pessoas que leem este Blog e gostam, meu muito obrigado pelo apoio, mudancas acontecerao daqui por diante mas um amigo uma vez me disse "uma mudanca eh melhor que ferias as vezes..."
Alias, ja cansei desse assunto. Vamos ao bussiness.

Abracos a todos Ricardo.

segunda-feira, março 14, 2005

A volta parte 2.

Bem, as semanas se passaram no Brasil, Guaruja foi legal, despedidas mil (a pior parte) e estava com dor no coracao de deixar o Brasil para tras mais uma vez (mas enfim, nao vou comentar nada sobre isso, promessa eh divida) e cheguei de volta a NZ com zilhoes de expectativas para 2005, ano novo e vida nova.
Chegando em Auckland, fui visitar o Eduardo e Simone, agora morando em um predio de classe media-alta de Auckland fiquei impressionado com a grande virada que eles deram, me deu felicidade e uma ponta de esperanca de que as coisas vao melhorar, sim.
Chegando a Queenstown, decobri que as coisas nao estavam exatamente do jeito que pensei, o emprego novo havia ido pelo ralo mas ao menos ainda havia emprego - menos mal - mas as semanas me mostraram que eu nao estava feliz, expectativas desencontradas talvez.
Quando se acha que tudo esta perdido, sempre aparece uma luz, e uma proposta de emprego apareceu, caida do ceu, mais grana, mais trabalho e menos tempo para pensar na morte da bezerra. Muitos erros, poucos acertos mas as coisas tem que andar para frente, ando meio cabisbaixo, e ate com medo de escrever sobre, parece as vezes que tudo que faco da errado, e meu talento para me meter em encrenca ja eh um fato consumado. Estou aprendendo a ser cuidadoso com as pessoas e menos "truculento", nao vou virar santo, mas pelo menos ainda estou aprendendo alguma coisa. Isso por si so, ja eh um aprendizado.

Ainda sobre...

Vamos la...
Fiquei assustado e impressionado com as repercussoes que tive, meus amigos sabem que eu tenho o talento e pachorra de distorcer situacoes e colocar tudo da maneira mais divertida possivel, mas contemplar o dia em que estarei passando pela rua e serei atropelado por alguem/por algo que escrevi em um Blog, ja eh outra historia.
Falando serio, os fatos que descrevo aqui sao exagerados e vistos atraves de meus olhos criticos, cada situacao eu imagino da maneira que seria mais divertido ler, nao sao situacoes tao literais - como cronica, assumi a liberdade de contar historias, nada mais.
Mas visto que, a interpretacao pode variar, decidi considerar a hipotese de encerrar este Blog.
Quase tive um ataque quando ouvi o que as pessoas acharam dos textos, mesmo sabendo que faco parte e faco tudo o que as pessoas fazem nas descricoes, para o bem e para o mal - nao me coloco a parte de nada, como podem ver nos textos anteriores aos dos ultimos meses. Nao quis agir de ma-fe, nao quis ofender ninguem e nao quero mais complicacoes quaisquer que aparecam por causa de um diario.
Sobre o que vou falar daqui em diante ? Da meteorologia, politica (nao, perigoso), televisao nao da, sinceramente nao sei, tudo que sei eh que o estrago esta feito e nao tem nada que eu possa fazer a respeito a nao ser apagar os posts e esperar.

Complicada essa coisa. Vou tentar continuar e ver no que da.

domingo, março 13, 2005

Esclarecimento

Bem, queria esclarecer que no texto sobre o jantar, (acho que foi isso que fui referido) o que descrevo o tempo todo era o meu medo de arruinar a ocasiao destruindo o jantar - foi uma responsabilidade grande e mesmo assim as pessoas que estavam la ignoraram as coisas que sairam errado (eg.seria um sonho se meus clientes fossem todos assim) e em momento algum quis criticar ou diminuir a atencao dada pelas pessoas que estavam presentes, assim como nos outros textos descrevo o que acontece no dia-a-dia, em momento algum me excluo dos fatos que aconteceram e em uma cronica, geralmente os fatos sao apresentados na linha da pessoa que as descreve (no meu caso, acidez) mas como li em uma celebre frase "um bom contador de historias nao deixam que fatos fiquem no seu caminho"; o que apresento sao figuras caricatas e exageradas apenas para realcar nuances e fazer com que a critica e o cinismo sejam engracadas. Em momento algum pretendo ser destrutivo ou negativo. Geralmente, a pessoa que esta em situacao dificil sou eu mesmo - neurotico e nervoso - tentando justificar o porque das coisas acontecerem do jeito que acontecem comigo. Fiquem livres para colocar criticas e me mandar e-mails, afinal todos tem o direito de expressao.

Sinceramente, Ricardo.

sábado, março 05, 2005

Praia, enfim...

Natal passou, alias, foi um otimo Natal (valeu Pri e familia !!) e o ano-novo prometia muito, alias prometia tanto que ninguem sabia exatamente o que faria, aonde iria e com quem estaria - eramos um bando de cegos correndo em meio a um tiroteio na favela Naval tamanha foi a desorganizacao. Eu com certeza, estaria com o Trovao pelo menos, mas as opcoes variaram tanto que entre Guaruja, Floripa e talvez Ubatuba, ficamos com Jureia mesmo soh para variar, afinal nos nuuunca vamos para Jureia para dar um tempo do povo de Ibiuna...
Mas a intencao (ao menos a minha) era que nao importasse o lugar, estariamos juntos e felizes e chegamos ate a vislumbrar o Reveillon na imensa casa da Marina, que inexplicadamente adiou tudo na reta final (agora que estou a milhares de kms de distancia posso falar : a galera ficou puta da vida Ma!!) enfim, acabamos indo para Jureia por livre e espontanea obrigacao. Mas justica seja feita, adorei ir e ficar com minha irma, cunhado e sobrinho e rolar aquele clima familiar, entao maos a obra - filtro solar, repelente, bermudao e camisetas muito largas para disfarcar o barrigao de cerveja.
Fomos saudados na balsa com uma legiao de pernilongos em estado de inanicao; acho ate que eles aprenderam a abrir a porta do carro, os malditos, e cheguei ao outro lado quase precisando de uma tranfusao.
Ver Jureia novamente foi quase uma viagem a adolescencia, apesar de ter ido para la ate antes de me mudar, sempre tem aquele gosto de passado, quando tudo era mais gostoso : a unica coisa que se precisava para se ir a praia era uma bermuda, cinco reais e um maco de marlboro para se dividir em tres e a festa estava armada - musica vinha dos carros estacionados em volta, e a cerveja quando acabava a grana era patrocinada pela tatica de "cerveja no vacuo", estratagema armado para afanar aquelas cervejas que ficam em cima do balcao enquanto os reais consumidores estao de costas, conversando.
O lugar cresceu muito pouco, a pequena vila continua do mesmo jeito mas o publico mudou e muito - a periferia descobriu os encantos de Jureia e agora os moradores vivem uma relacao de amor e odio com os visitantes; se por um lado estes movimentariam a economia do lugar, por outro destroem o clima da praia sujando, badernando e sendo eles mesmos, digamos assim.
O dia seguinte amanheceu com Sol, um belo Sol, escaldante e radiante e imediatamente senti meus pes virando um par de paes franceses de tao inchados (nao estou mais acostumado ao calor, acho) e minha vontade era de ficar deitado, imovel e nu no chao da sala com um potente ventilador ligado, mas a vida eh assim - vamos encarar a praia. Chegamos a Sucursal do Inferno, guardas-sol, esteiras, isopor, cadeiras de nylon que prendem os pelos entre a trama e muita areia entrando no short, ah que saudades da praia. Depois de varias cervejas quentes, decidimos pedir umas porcoes geladas de lula para acompanhar (a infra-estrutura de Jureia eh incrivel, Mediterranee que se cuide) e Tico e Pedrico (suprimidos de minha descricao do grupo, desculpas) brincavam com meu sobrinho enquanto Vanessa aproveitava os momentos de paz ao Sol, que inveja poder ficar estendido ao Sol por quanto tempo quiser.
Apos dois dias, e vermelho como uma lagosta, estamos em casa eu e Trovao, Nanci, que estava no Sul, chegava a porta de casa para dizer "oi, me arrependi e vim para Jureia" para justificar o fracasso do Reveillon perfeito arquitetado meticulosamente para ser um feriado em familia - virou um motim em familia, todos quiseram ir para Jureia, inclusive uma resignada Nanci que exibia seu meio-bronzeado-bem-passado denunciando os motivos para nao se dormir de costas para o Sol. Agora eramos um grupo, quem disse que meu feriado nao iria vingar ? Tudo que eu queria estava lah: Familia e amigos e um inferno tropical, tudo ao mesmo tempo agora.
Tudo correu como esperado, inclusive a implacavel chuva de verao que durou tres dias, nos forcando a ir para casa.
Jureia ainda eh o lugar aonde quero estar, na maioria das vezes.
 
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