segunda-feira, novembro 27, 2006

Como absorver impacto.

Certa vez, meu head chef disse que eu era ótimo para absorver impactos : poderiam cruzar 150 comensais famintos pela porta e desde que eu estivesse por perto, no problem, ele sabia que eu iria me virar, gritar, correr ao restaurante vizinho emprestar salada e fazer centenas de sobremesas (resumo: me estressar por ele) - ganhei o apelido de "reliable Ricardo" alguma coisa do tipo "confiável Ricardo", até aí, eu já com a bola cheia já estava me achando a última bolachinha do pacoteç até que veio a conclusão - "Você consegue por ser levemente retardado com toques de demência". Não sabia como reagir a isso.
Atualmente, eu não só concordo com isso, mas tenho um certo orgulho do fato de ter problemas mentais quase sérios, me poupa de baques gigantescos às vezes, simplesmente ligo o foda-se e deixo minha consciência nocauteada (às vezes por àlcool, o que funciona em alguns casos) mas apesar de parecer canalhice, atesto, é simplesmente a praticidade de saber que não se pode fazer nada em dado momento.
Se alguém não acredita em você em qualquer situação que seja, por mais que você esteja falando a verdade, simplesmente esqueça o assunto. Quanto mais tentar convencer mais vai parecer mentira.
A outra grande utilidade dessa cara-de-pau é que eu poderia escrever um livro intitulado "Como dar más notícias em três lições" - esse trampo sempre sobra para mim, por mais que tente me safar.
Porque estou falando tudo isso ?
Sei lá, mas ultimamente comecei a reparar o que estar cercado na maior parte do tempo por gente que não conhece;se importa fez comigo nos últimos três anos. Espero tudo de todos, e nada mais me choca - muitas coisas mudaram muito... ...não tenho mais algumas curiosidades mórbidas, não me interesso muito pelo que não me toca, pelo que falam e pelo que não falam. Me interesso pelo que sinto pelas pessoas, e pelo que fazem por mim (ainda que seja só me fazer sorrir, já vale muito).
Continuo absorvente - porém nada tão íntimo.

sexta-feira, novembro 24, 2006

E vem os Girassóis...


Como bom cidadão paulistano, nos dias ensolarados eu ando dependurado na janela de meu carro pela megalópole (exceto pelo fato de eu não ser paulistano, claro) e no meu caminho de volta para casa passo pela Cerro Corá e outra avenida que não sei o nome.
Bem em frente da Ponteio Churrascaria da Lapa tem uma figura de uma mulher com uma cesta de vime, panfletos e uns Girassóis balançando ao vento enquanto aborda os motoristas dos carros, até aí, sem surpresa pois tem todo tipo de gente oferecendo todo tipo de coisas no trânsito de Sampa - desde guarda-chuvas passando por carregadores de celular e culminando no meu preferido : Mentex (aliás, cadê os Mentex ?).
Enfim, a figura fica paradinha encostada em uma árvore esperando a presa, desavisada, parar no semáforo trifásico que demora horrores, para poder chatear à vontade os pobres cidadãos. Chegou a minha vez : ela simplesmente não tem noção de espaço interpessoal ou privacidade - enfia a cabeça e os Girassóis dentro do carro e começa a balbuciar coisas sobre a Natureza começando sempre com "Você sabia que..." e oferece sementes em troca de um trocado qualquer para uma fundação dessas aí, mas sempre falando compulsivamente. Difícil é entender como ela consegue segurar a cesta, um panfleto enorme e ainda sim pegar o dinheiro ao mesmo tempo. Dei a merda de um trocado para me ver livre dela. Dia após dia, passava por lá e ela estava à espreita, apesar de me abordar com as mesmas frases catch a desgraçada nunca lembrava de mim e pelo fato de passar todo santo dia por aquele cruzamento eu saquei que a tal instituição do caramba não passa de caô puro, aquele era o emprego dela e pronto.
Até que um dia, exausto do trabalho e de saco cheio, estava eu ouvindo minha musiquinha e pensando na vida quando a infeliz enfia a cara dentro do carro (Girassóis inclusos) e começa "VOCÊ SABIA QUE AS PLANTAS..." eu dei um pulo e quase me agarrei ao banco do passageiro e mesmo assim, a louca desvairada continuou o rap dela sem nem se importar com o meu desconforto. Gritei de volta "E VOCÊ SABIA QUE... ...VOCÊ PODE MATAR ALGUÈM DO CORAÇÂO ASSIM ???" ainda assim, a idiota não parou de falar o script, quis matar.
Nos dias seguintes, antes de chegar ao semáforo, eu já começava a me sentir incomodado, avistava a FDP de longe e tinha que me enfiar na fila de carros mais longa, fechar os vidros e aumentar o volume do som no máximo e até fingir que estava no celular não adiantou - ela simplesmente não se tocava, nem lembra de você, mesmo dando um cheque de R$ 5000,00 hoje, ela vai enfiar a cara no seu carro como um camelo do Simba Safári e te pedir um real amanhã.
Até a fatídica tarde, em que estava chegando ao cruzamento e percebi que não havia carros suficientes para me esconder - ela saiu feito uma alucinada em direção ao primeiro carro que ela encontrou, eu ali, suando e olhando para as luzes, quando enfim o carro da frente conseguiu se livrar dela que agora olhava diretamente para mim e caminhando (tentei evitar contato visual) ela vinha, eu olhava para ela, olhava para as luzes, olhava para ela se aproximando em slow motion, luzes... ...a um metro da janela do carro, VERDE !!
Ela parou (na verdade parecia mais uma freada) eu olhei nos olhos dela e gritei "RÁ" e acelerei fundo com a satisfação infantil de vê-la estarrecida pelo retrovisor.
Depois disso, ela sumiu, fazem mais de duas semanas que ela deixou o posto dela vago para uma vendedora de cofrinhos de porquinho.

Todos tem que ter um inimigo, um nêmesis.

O meu, é a mulher dos Girassóis.

terça-feira, novembro 21, 2006

Robert Crumb




Gênio esse cara...

Os que sobreviverem ao Verão, verão.

Chega o Verão;

Eu, particularmente
não sou adepto à bronzeado (no meu caso uma queimadura de
segundo grau),areia fininha entrando na bunda e pés constantemente inchados entre
outras graças proporcionadas por esta época tão especial
para a grande maioria dos
brasileiros - simplesmente não me encaixo na descrição de um brasileiro típico e não
importa o que faça, não sou bronzeado,magro,bom dançarino e jogador de futebol.
Sou simplesmente uma aberração albina em um país de morenos e morenas (não estamos falando do Sul é claro,lembrem-se,o resto do Brasil é mais como o Norte do que o Sul).
Mas além das intepéries naturais,o Verão não passa de um pesadelo logístico.
Se você tem o desprazer de trabalhar em uma grande metrópole como eu,sabe o que é estar no trânsito a um calor de trinta e lá vai pedrada circundado por carros e ônibus expelindo calor puro diretamente em suas ventas (enfim, o advento do ar-condicionado chegou em minha vida,ou melhor,carro) e você chega ao trabalho ou ao cliente com aquelas indesejáveis bolas de suor embaixo das axilas de sua camisa recém saída do tintureiro - pode existir uma primeira impressão pior? Aliás,alguém me explique porque nunca o seus clientes estão no mesmo estado que você.
Os mais afortunados (com grana) se preparam para incríveis meses na casa de praia (Juquehy,Guarujá,Ubatuba,ou sei lá onde esse povo se esconde nessa época)sem a menor dor na consciência:recebem os amigos igualmente ricos e que não precisariam de hospedagem de graça,mas com tanto espaço sobrando e os empregados a postos, e custa fazer essa gentileza?
Já nós,pobres mortais,não podemos nos dar a esse luxo e são meses de antecipação, planejando e contando os dias,as horas disponíveis para se olhar para essa beleza da natureza que é o mar (que aliás, para a maioria, está em segundo plano).
Se possui uma casinha na praia então,é a glória total - leva já as latas de tinta,verniz anti-mofo,veneno para ratos, formigas,baratas,repelentes,filtros solares, a compra suficiente para um mês (só vai ficar uma semana),checa os pneus do carro, o óleo,e por aí vai... ...se pusesse tudo no papel,ia descobrir que dá o mesmo preço de cinco dias em Comandatuba com pensão completa.
Como praia é um horror de chata(não tem muito o que fazer além de beber, nadar e surfar para quem sabe)tem que convidar alguns amigos para animar o ambiente e é aí que o pesadelo logístico começa;a sua família geralmente já está inclusa no pacote e os amigos você precisa por perto para não atacar alguém a raquetadas de frescobol e acredite,até aí as coisas estão planejadas e previstas.
Mas existem os agregados.
Seu cunhado, primo,tio, etc... (um daqueles que não se dão com ninguém)precisa levar um casal amigo para que paz possa reinar na oca,e você,óbvio,concorda aliviado por não ter que organizar socialmente as diferenças - seus amigos,casados e com filhos precisam levar a sogra para olhar a petizada enquanto eles saem à noite para encher a cara e esquecer que são casados (e a sogra conversa com quem enquanto isso? precisa levar alguém para socializar com a sogra)e quando percebe aquele grupinho de oito pessoas agora será de 23 para ocupar os parcos três quartos da casa e dependências. Graças a Deus você construiu o quartinho puxado,o terceiro.
Na hora de ir para a praia,acordam todos às sete com as crianças pulando ansiosas para brincar na água (pranchas, bóias e demais apetrechos nas mãos)isopores sendo
carregados com suquinhos,bolachinhas e Cheetos em cada um dos oito deles tem mais ou menos 5 Kgs.,e pensar que tudo que você leva à praia é uma toalha,livro,filtro solar,cigarros e R$ 20,00, mas ir a pé agora nem pensar.
Chegam na praia às 11:30 hs da manhã carregando bóias,piscininhas,Guarda-sóis,garrafas d'água e 35 cadeiras, parecem uma equipe de filmagem do Senhor dos Anéis em plena praia,que aliás está lotada e não tem muito espaço para acomodar tantos e tantas coisas. As crianças estão correndo por todos os lados e os pais, atrás como perdigueiros preocupados(ou melhor, as mães)durante a primeira hora e meia debaixo do Sol escaldante enquanto os papais,felizes,enchem a cara de cerveja e observam as mulheres que não são as deles passarem em seus sumários bikinis. A vida agora é bela.
Após acalmar os guris e enfiá-los na piscininha inflável,as mães percebem que seus maridos estão mais relaxados e assanhados que de costume e imediatamente você,o amigo solteiro,vira a bússola para saber em que direção os maridos irão olhar e,mesmo que esteja lendo seu livro em paz,será o cara que puxa a fila para a sacanagem (imediatamente,o inimigo).
Após algumas discussões entre os casais,muita cerveja e as crianças agora choram de
vontade de ir para a casa,já são quase 16:30 da tarde e todos estão morrendo de fome - então recolhem seus 564 kgs.de carga aos carros e vamos atrás de nossa sagrada
refeição. Nenhum restaurante parece ter lugar para acomodar 15 adultos e 9 crianças e ficam de porta em porta em busca de qualquer(atenção, QUALQUER)lugar que acomode todos com um mínimo de conforto,geralmente,encontram um restaurante mais vazio que estará assim ou porque é muito ruim,ou porque é muito caro(senão ambos).
Todos tem gostos diferentes e pedem ao mesmo tempo,as crianças impacientes saem
correndo pelo lugar para desepero do staff,carregando suas pranchas e skates enquanto garçons olham para toda essa zorra como se fossem a escória do inferno.
Altas peixadas,cerveja rolando,por breves momentos estão todos felizes e satisfeitos até chegar a conta - sacam-se calculadoras das bolsas e se faz necessária uma assembléia para definir qual idade de criança paga,quais não pagam,se quem bebeu cerveja paga mais(e os sucos a quase R$ 5,00 cada?)e depois de horas de discussão,todos estão sonolentos e ardendo;hora de ir para casa carregando as crianças que no decorrer da discussão desmaiaram de cansaço. No final das contas ,você,solteiro e único morreu com R$ 55,00 pelo seu peixe grelhado e uma caipirinha.
Ás 19:00hs,após descarregar os 564Kgs,rola o êxodo aos dois banheiros - crianças e
mulheres primeiro e ás 22:00 hs.(você não tem crianças e não precisa dormir ao mesmo
tempo que ninguém)o banheiro será todo seu desde que não se incomode em chutar os brinquedinhos de borracha,pisar em toda areia deixada para trás enquanto tem visão
privilegiada de bikinis e cuecas/bermudões pendurados ao redor de você;pingando por
todos os lados,é óbvio.
Após o banho,todos estão dormindo e você está na sala (sem TV,está no quanto das
crianças com o DVD)na maior das solidões lendo uma Contigo de 1998(nem lembrava com quem a Luana Piovani saía na época)e resolve sair, porque não?
Chega na rua meio amuado,sozinho e resolve sentar naquele botequinho ajeitadinho,com mesas fora e som nada mais que ambiente e de cara pede uma caipirinha,se arrepende e muda de idéia : pisa fundo e manda whiskinho puro com muito gelo enquanto observa o povo bonito e bronzeado de vinte e poucos passar e lembra de como a vida era descomplicada,sente até uma ponta de inveja daqueles amigos e amigas passeando à
tôa sem grana para fazer o que você está fazendo e sabe exatamente onde eles estão indo: no primeiro boteco pé-sujo tomar a cerveja mais barata (muitas) antes de ir para a praia se esticar na areia e das uns beijos sentados nas cangas das meninas.
Conhece algumas pessoas,até rola uma paquerinha mas vai levar a linda aonde? Cada cômodo da casa está ocupado e pode pegar mal com a esposas dos amigos - que remédio, dá um beijinho no rosto e se despede na certeza de que nunca mais verá a oportunidade (aquela).
Chega em casa,capota na cama com a certeza de que amanhã vai ser tudo igual.
No dia seguinte,todos acordam,o caos está armado e todos estão carregando os carros
para ir embora,você se esqueceu que tem mais dias de folga e por alguma razão você não deixa a casa até que horas depois todos se foram.
Despede-se,fecha a porta e se vira e vê a casa silenciosa - vazia.
Se dá conta que todo o barulho,as risadas,os gritos se foram - e sente-se a pessoa mais solitária do mundo.
Vai entender.
Percebe que vai passar um filme legal na TV - pega uma cerveja solitária que ninguém quis na geladeira e vai se acomodando, uns salgadinhos...

E pensa que poderia estar em casa, fazendo igualzinho.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Vida nova, de novo.

Bem, devo dizer que estou de volta, desta vez tentarei ser mais coeso (apos meu quase enlouquecimento na NZ) e quero fazer a diferença (ou pelo menos causar um pouco) mas não tô afins de falar apenas sobre eu mesmo - a cidade em que vivo (que está famosa pelo maior índice de criminalidade de SP), as pessoas, o que fazem o que não fazem e porquê (continuo observando como a eterna testemunha) e até usando isso para entender as minhas próprias razões, mesquinharias e pisadas na bola em geral.
Sou ainda o Rei em falar a coisa errada na hora péssima - não importa em que linguagem; talvez perguntar que fim levou a namorada em francês soe um pouco melhor (ou pior), então vou tratar de comprar um livro.
Na real, ainda fico ofendido quando me perguntam porquê não deu certo na NZ, se eu guardei dinheiro, se eu estava pobre e desesperado o suficiente para sair do Brasil (tá, nunca fui rico mesmo...) mas pela última vez - NÃO EU NÃO GUARDEI GRANA (USEI PARA VIAJAR, BEBER VINHO,ENFIAR AONDE BEM ENTENDER), NÃO FIQUEI ILEGAL NEM UM MINUTO, NUNCA TIVE A INTENÇÃO DE GUARDAR DINHEIRO - fui viver, fazer alguma coisa para contar aos netos. Eu gritarei isso novamente muito alto quando perguntado.
Por agora, me contentei em dar o primeiro passo de volta, espero que balguem volte a ler esta droga...

Um grande abraço e nos veremos mais.
 
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