sexta-feira, janeiro 18, 2008

Algo maior.

Esta semana recebi os prospectos, contrato e muita confusão com papéis para resolver meu plano de fuga - são dois vistos americanos (já tentaram marcar entrevista com o consulado : é desesperador), um visto mundial de portos, um exame médico extenso e caro e claro, todas as coisas que vão ficar para trás terão que ser resolvidas.
O exame médico, só a lista do que abrange toma duas folhas impressas inteiras ,desconfio que irão enfiar um tubo de seis polegadas no meu rabo para olhar por dentro, serão picadas, apalpações e instrumentos gelados, perguntas indecorosas das quais fazem você se sentir um alcóolatra, toxicômano, pervertido e relapso fora as sessões íntimas com copos de plástico com tampa. O consulado americano vai achar que você é um mexicano sedento por capitalismo selvagem, que é um cubano em uma jangada suplicando para por os pés em território americano e na real, eu nem gosto dos EUA tanto assim. O que a gente não faz por um trabalho.
Mas uma coisa é certa, desde ano passado estou me preparando para uma coisa maior, não acho que o emprego seja a tal coisa, mas um meio para me levar até algo que eu não sonho em ter ainda, fazer contatos interessantes, lugares... ...eu sonho pra caralho mesmo.
Não só culinária francesa, mas poder passar pro Provence para ver de perto o que é - significa bem mais para o aprendizado do que 100 receitas, acreditem. Receber os ingredientes locais em cada porto (e prepará-los) deve ser o êxtase de qualquer cozinheiro que se preze, cada lugar tem a sua gama de produção local e com ela muito de sua geografia, cultura e hábitos. Sim eu sonho grande.
Aprender palavrões em mais de 30 idiomas com a equipe, ver de perto os chefs franceses trabalhando no navio (não são poucos), sair dessa experiência com grande especialidade em cozinha francesa deve abrir algumas portas com certeza - ainda que seja para cozinhar em qualquer bistrozinho por aí, fazendo o que gosto. Eu sonho enorme.

Só espero que o sonho não se torne maior que eu, assim é que a humanidade projetou as maiores tragédias (nazismo, Titanic, Babel...).
Mas enquanto eu puder tentar conciliar estas expectativas... ...eu sonho pra cacete.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Oitava série

Um dia, você acorda e está na oitava série, no outro, você tem dezoito anos e pode dirigir, beber, comprar pornografia e ir onde bem entender.
Antes, não ser aceito pelo grupo do qual queria era a tragédia, o fim da sua vida, o grupo de garotas lindas da escola jamais te daria atenção a não ser que realmente precisassem do seu trabalho de EMC para copiar e roubar o carro para dar uma voltinha era a glória - saber quem estava ficando com quem, quem iria ao baile (e ficar com quem), quem comprou o tênis do momento, o videogame, quem conseguiu passar de ano direto; tudo muito estimulante além de nos fazer sofrer pacas.
Mas as coisas mudam, alguns casam, outros enriquecem e outros empobrecem, nem tudo é uma tragédia e o último lançamento da Nike já não empolga mais como deveria, como a vida se torna chata, quando se é adolescente tudo é escancarado e aberto (quanto mais platéia melhor) exceto por algumas partes que apenas escondíamos, hoje, aprendemos a mentir e disfarçar para poupar-nos de sofrimento desnecessário por admitir que não somos bons ou perfeitos o bastante, que coisa.
Agora, é a casa, o carro que alguém comprou, quem casou e separou, quais mulheres e homens não se gostam (apesar de fingir o contrário), a TV de 89 polegadas LCD, quem teve as melhores férias, quem está traindo quem... ...segredos passam a ter grande parte de nossos dias, antes escancarávamos o que acontecia na casa de nossos pais e agora, escondemos o que passa em nossas próprias - qualquer coisa é melhor que um escândalo (antes, nós causávamos o tal do escândalo) e partir daí, trabalhamos, socializamos e ainda temos que arranjar tempo para nossos dramas pessoais.
De verdade o que mudou : quase nada.
Ao invés do tênis, são os carros, ao invés dos casinhos, os casamentos e seus obscuros bastidores, ao invés da escola, carreiras muito ou nem tão brilhantes mas um ponto continua o mesmo; sermos aceitos pelo grupo.
Nossas namoradas gostosas se tornaram donas-de-casa, profissionais e mães em tempo integral (e esperar que ela use o vestidinho de oncinha ainda por cima ? acorda), nos tornamos mais gordos, carecas e grisalhos e a não ser que esteja em uma Ferrari, as gatinhas não vão se entusiasmar com a sua passagem, acredite. Quando se é jovem, o cabelo voa ao vento, os dentes são branquíssimos e sua pele (já depois da acne) poderia ser vista em um comercial da Calvin Klein, sempre bronzeada pelos dias praticando esporte na quadra e seu abdomen então, rocha.
Fundamentalmente, somos os mesmos, um bando de adolescentes que ao invés de fumar escondido de nossos pais, fumam escondidos das esposas e maridos, beber idem (até porque, você aguenta bem menos), os dias sem dormir na balada são substituídos pelas vigílias aos bebês e as viagens passaram a ser mais escassas e luxuosas - camping nunca mais, mas se os filhos quiserem, você vai dormir em uma barraca de 1X1m fácil.
E enquanto observo a galera de 20 anos se divertindo com pouco (ou muito), ficando dias à fio sem dormir e se preociupando apenas com as notas da faculdade sinto uma ponta de inveja, ah meus vinte e poucos...
Ainda sonho com a Ferrari, ainda tenho horror à acne e estou constantemente tentando ser aceito pelo meu grupo (pelo menos hoje, eu já sei qual é, pela vida) então de verdade, será que alguma coisa mudou, seriamente ?
O grupo de gostosas ainda não me aceita. Aliás, nem tenho grana para acompanhar os maridos delas.
Ainda por cima, trabalho em cozinhas, a terra do nunca profissional - eu não vou crescer nunca. Graças a Deus.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Comfort Food. Saia da sua zona de.


Vamos falar sobre culinária, várias pessoas me cobram e eu tenho algumas coisas a dizer sobre essa modinha aí de Comfort Food.
Primeiro, o que seria a tal da Comfort Food ?
Comfort Food é a nova invenção na qual os clientes vão até um restaurante ou supermercado comprar alimentos que induzam ao bem-estar através de reações mnemônicas trazidas pelo sabor, olfato, etc... ...ou seja, sua memória irá trazer 70% do prazer obtido na refeição, os pratos são receitas costumamente preparadas nas casas brasileiras tipo, strogonoff, rocambole de carne, picadinho, brigadeiro, etc... ...para quem viu o filme Ratatouille, é o que acontece com Anton Ego ao provar o Ratatouille, em que se recorda da sua mãe lhe servindo o mesmo - traz lembranças da comidinha da mamãe. Orfãos estão excluídos do mercado, que crueldade.
Os sucos com gominhos lançados recentemente, por exemplo, são baseados no conceito.
Louvável a intenção, trazer uma lembrança antes esquecida de nossa terna infância e ainda lucrar os tubos com isso (quanto custa fazer um picadinho, eis a questão) mas em minha solene e sincera opinião, os clientes merecem mais que isso.
Eu, por exemplo, jamais pegaria meu carro, enfrentaria trânsito, pagaria o manobrista e ficaria esperando por uma mesa comendo torradinha de pão amanhecido para comer um picadinho de carne com chuchu e abobrinha, não obrigado.
Brigadeiro de colher então... ...prefiro um Créme Bruleé bem tostado o açúcar e eu que me vire com o colesterol depois.
Quando vou à um restaurante (para jantar, bem dito) gostaria de ser desafiado pela comida, de me achar um ignorante por não saber como chegaram a tal resultado, ser até insultado pelo prato se for este o caso mas achar que qualquer restaurante vai fazer a lentilha com arroz e pimenta síria igualzinho ao da minha avó, diria, que nem mesmo com as mesmas panelas, a mesma cozinha e os mesmos ingredientes eles farão alguma coisa remotamente parecida (talvez executem até melhor o prato) com a experiência quase religiosa que era comer naquela casa simplesmente pelo fato de que: Ela não está mais lá. Este momento passou e deve ser guardado em minhas memórias mais ternas, agora, é minha vez de criar estes momentos para as pessoas que estão à minha volta.
Pela minha experiência, a grande maioria das pessoas não gosta de se aventurar quando o assunto é comida quando deveriam estar fazendo simplesmente o contrário, comer é também viver um lugar, uma situação, um romance. Se o restaurante fechar, se nunca mais achar aquele prato especial, fazer o quê ? Ao menos você já tem isso em sua memória e nunca irá perder. Achar que servir o mesmo prato de quando se conheceram irá faze-los esquecer da última briga é um erro - como um prato de comida os fará esquecer do cortador de unhas na sala, do chão do banheiro molhado constantemente, da tampa da privada levantada ?
Meu conselho - siga em frente, experimente tudo que lhe interessar e recomende depois.

Saia da sua zona de conforto, sempre.
 
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