quarta-feira, abril 30, 2008

Fotografia.

Photograph.

Fotografia.

Em minhas parcas horas livres, eu me sento com meu Ipod ligado no Crew Mess (cafeteria) entornando xícaras de café e sento-me num cantinho para evitar contato visual e verbal com as pessoas, sobretudo d manhã, quando me sinto cansado e nem comecei minha jornada de 10 horas ou mais, nesses minutos eu penso na vida e tomo minhas decisões, avalio meus atos e me arrependo de algumas coisas como qualquer mortal. Qualquer tentativa de me trazer de volta à realidade é retornada com um rosnado curto e grosso, visto que é um dos únicos momentos em que me sinto à vontade comigo mesmo.
Estava ouvindo Moby, Porcelain – e me transportei para as praias de Bali, senti o cheiro e sabor daquele lugar novamente, os cheiros do restaurante ond trabalhava na época, do produto que usava para limpar as mesas à tarde, da casa em que morava em Auckland e das pessoas que estavam ao meu redor. A vida não era um mar de rosas naquela época, mas lembro-me com satisfação estes momentos como s tivesse sido o cara mais feliz do mundo, fantasio que tinha mais dinheiro e disposição (talvez tivesse) e que as pessoas eram mais gentis... ...penso se vou me lembrar desta experiência com o mesmo carinho, mas eu sinceramente acho que não, vou lembrar e deixar como uma coisa que fiz apenas, talvez para ter o que contar para os outros, como se gabar de trabalhar feito um jumento por uma grana pífia fosse alguma coisa para se gabar sobre.
Qual será a música que ma fará lembrar daqui ?

Este cruzeiro eu já estou mais habituado, menos sensível as pessoas e mais cansado, sobretudo até porque estão já comparando este cruzeiro aos do ano novo e isso não pode ser nada bom.

Olho para os dois meses atrás e sinto tão distante, assim como olho para os seis restantes sem de verdade enxergar o fim deles, estou à deriva e não sei para onde nadar mas dizem que a partir de quatro meses (!) a coisa começa a ficar fácil, o que duvido muito e não sou otimista por natureza – tudo neste emprego é esperar pelo pior, desde o treinamento medico até o de resgate e administração de pessoas em situação de emergência todos adquirimos aquele olhar de “espero pelo pior, eu vi o pior” e isso faz de nós a equipe que te sorri enquanto troca aquele prato que você não gostou por ter cebolas – sabemos que se você engasgar, sua vida vai depender do nosso treinamento em Heinmlich ou seja lá como chama a manobra. E se isso acontecer, nossos passageiros ainda podem nos processar, oh vida.

Mas voltando ao assunto, fotos me vêem à cabeça enquanto as músicas passam, pessoas e lugares, nada aprisiona mais o futuro às vezes do que o passado e apesar de estar nesta posição de incerteza os tais seis meses não me parecem perto, mas possíveis apenas.

Tive que tomar a decisão de deixar o Brasil para trás, estava com um pé no barco e outro na terra, o barco se afastando cada vez mais e eu quase caindo na água para me afogar, disse tchau para o Brasil e decidi entrar de vez no barco, o Brasil, a minha cidade, os rostos das pessoas, difícil conviver com o Brasil, difícil deixa-lo.

A dor da saudade e do arrependimento diminuem um pouco a cada dia, parece que ficamos mais entorpecidos por esta vida e pelo trabalho sem perceber, o que me traz de volta à vida são as paradas em que posso descer e apreciar a vista, parece que nunca mais vou voltar à bordo e hey, terei 5 horas para ver Roma este cruzeiro por um milagre. No próximo cruzeiro estarei em posições novas na cozinha e vou mudar de restaurante à noite, onde terei um grelha só para mim, dizem que é minha chance o que pode até ser, mas não quero fazer carreira aqui de jeito nenhum. Por mim, podem me por pendurado no mastro cozinhando tartufos bianchi e lagostins que não dou a menor, mas me livrar da tortura de Bombay vai ser um puta passo em direção ao final deste contrato.

Não posso apagar o Brasil, não posso desistir daqui agora, não corra, não mate não morra.

Todos os dias que aprendo um prato novo,imagino se seria legal cozinha-lo para meus amgos no Brasil, quem iria adorar, etc... Ainda estou muito apegado à tudo lá, mas um certo desapego se az necessário para a sobrevivência em ouros lugares, países, cidades e decisões – este é um divórcio difícil, até porque ambas as partes estão exigindo muito... ...eu queria tudo.

domingo, abril 27, 2008

Tem dias e dias. Um so, para falar a verdade. Stuck in a Moment.

Barcelona foi uma decepcao dupla para mim.

Eu simplesmente amo olhar, falar o nome de Barcelona mas a verdade eh que nao pus os pes na cidade ainda, uma vez era minha cor (nao pode descer no dia que tem tal cor marcada no seu cartao de seguranca) na outra, eu achei que estariamos atracados longe da cidade e ao inves de acordar cedo eu passei as tres horas de folga dormindo de manha, para descobrir que estavamos atracados a cinco minutos do centro quase me matou, fora que em Barcelona a tripulacao que termina o contrato desce quase toda juntos e a cada tchau eu pensava "porque nao sou eu ?" e com algumas pessoas eu disse tchau com lagrimas nos olhos pois odeio despedidas principalmente porque eu quero deseperadamente que meu dia de ir embora sem olhar para tras chegue logo.

Todos os dias aqui parecem segunda feira, e todas as noites parecem domingo sem que saibamos que dia estamos do mes, da semana e as vezes em qual porto atracamos - parece estarmos vivendo o mesmo dia continuamente em um infinito espiral que termina quando voce fala "adeus" e caminha com suas malas para o futuro incerto porem mais interessante que este eterno estatico em que estamos. Somos todos cegos perante ao mundo que se desdobra diante de nos, apesar de estarmos em todo lugar e lugar algum.

Por mais que eu tente fazer de cada dia unico, cada vez mais eles se repetem e se entrelacam pelos mesmos menus, lugares, roupas, cheiros, pessoas. Eu simplesmente nao consigo pensar que as coisas possam ficar muito mais interessantes que isso e preciso ter paciencia com o que nao move ou da sinais de se mover, essa passividade me irrita as vezes, quero esmurrar alguem no nariz para agitar as coisas, correr nu pela cozinha (evitando areas quentes e de fritura por favor) pois estou cansado de pensar todos os dias as mesmas coisas, as mesmas saudades, quero ter saudades diferentes tambem e quero muito mais da vida do que passar os ultimos anos da juventude trancafiado neste sonho as avessas... minhas expectativas sao bem maiores que isto aqui, minha vida tem que ser mais ampla que este vazio todo que sinto.

Parece que estou preso em um momento e nao consigo sair, como diz a musica.
E como diz a musica, vai passar. A dor que senti eu nao vou esquecer, mas que vai passar, isso vai.

PS: credo, to serio hoje.

sábado, abril 26, 2008

Ray of Light


Eu vi a luz, amigos.

A luz, estava la, brilhante e ofuscante e essa luz esta mais perto de mim do que eu imaginava - Monaco eh luz companheiros, eu nasci para estar em Monaco e nao queria sair de la por nada neste mundo.
Tudo acontece muito rapido em Monaco, as pessoas passando, os carros, a F1, os barcos, avioes, luzes, lojas...

Ao deixar o porto eu nao esperava tanto assim, confesso, mas o pouco que vi de Monaco me deslumbrou, as arquibancadas e boxes da F1 ja estavam sendo montados, os iates ja estacionados no porto para poderem ter a vista da corrida (que eh so no mes que vem) alem das pessoas, as lojas (carissimas) e o melhor sorvete que ja tomei na vida estao todos aqui, me empolguei tanto que comprei o bone oficial da escuderia Ferrari para meu irmao pela bagatela de 32 euros (melhor nao pensar muito nisso) joguem minhas cinzas em Monaco e aproveitem a viagem,por favor.

Os carros passando, Ferraris Tunadas, Bentleys, Porshes, as pessoas cheiram a dinheiro, carregam suas sacolas das lojas carissimas batendo papo e carregando um poodle dentro de uma Louis Vuitton (de verdade, nao da 25 sua pobre !) e falando ao celular, estranho como todos parecem estar falando ao celular naquelas ruas, essas pessoas ricas sao muito ocupadas, Deus me livre ser milionario e poder comprar o que eu quiser (neste momento, tive um flash, eu riquissimo, comprando este navio so para ter o prazer de afunda-lo enquanto todo staff enche a cara de champagne) nao, nao desejo isso para ninguem, qual a graca de ser rico ? Ir para Monaco seria uma delas.
Eu moraria em Monaco, para o resto de minha vida.


De volta a dura realidade do navio, cheguei ao trabalho nem ligando se estava certo ou errado, assim ou assado, meu CDP pode dar piruetas e morder as minhas orelhas que minha alegria nao poderia ser estragada, com certeza. Pena que alegria de pobre dura pouco, pois a noite que tive no Polo Grill foi simplesmente avassadora, estrupraram nossas geladeiras, servimos comida ate nao termos mais quase nada para servir, minhas maos suavam e ardiam, o suor pingando de meu rosto enquanto sentia as veias de minha testa dilatadas pelo calor da area de trabalho (uns 50 graus) mais a correria dos movimentos constantes e corridas entre geladeiras e fornos em busca de mais ingredientes e reposicao - gritos, urros, berros e sussurros foram proferidos mas todos vencemos a batalha com vida, obrigado. Mais uma comanda e sairia daquela cozinha com uma faca de 60 cms. dizimando os passageiros, seria uma carnificina e tanto. Deus teve pena deles.

Mais e mais pessoas estao indo embora para suas ferias (ou suas vidas verdadeiras, sei la) e eu ficando sempre, parece sempre que eu sou o proximo apesar de saber que isso vai demorar mais seis meses, ainda tenho dias de pura depressao como hoje, esta tarde tudo que queria era chorar e chorar, ou esmurrar alguem, ou pedir demissao e desistir desta merda toda que ninguem merece.

O trabalho eh a mesma merda, nao importa que eu faca tudo certo, ou nao, meu CDP ainda gosta de me ferrar, dar bronca, achar que faco tudo errado (nao do jeito dele) e agora insinua que eu nao quero aprender a fazer mais por preguica, quase mandei ele a merda, mas me contive e segui em frente, ele eh a unica coisa entre eu e a Europa neste momento, entao firmeza ate Novembro e preparo para minhas ferias.

O tempo na verdade passa muito rapido por aqui, sao quase dois meses, apesar de haver momentos em que parece tudo estatico, mas a correria daqui, o Sol nasce e se poe sem que eu veja, as cozinhas, as pessoas andando sem parar, indo e voltando de ferias, os passageiros saem e entram, malas entopem os corredores e minutos depois sumiram e foram despachadas para seus donos, as luzes das maquinas do cassino, os pratos passando pelas lampadas aquecedoras, os garcons e suas bandeijas...

Like a Ray of light.


Quero agradecer a todos que deixam comentarios no Blog, Tocha, Guz, Laura (muito prazer) e reafirmar morte sangrenta e doentia a todos que nao me escrevem por puro prazer em me torturar. Como digo, que as pulgas de mil camelos piquem o c# de voces.

Ate mais !

sábado, abril 19, 2008

Like a Virgin.



Like a virgin, touched for the very first time...

Quando eu canto essa musica saindo da area de lavagem de equipamentos (onde ficam assadeiras, panelas, etc...) algumas pessoas ja sabem de uma coisa - vale saber que as assadeiras e demais utensilios estao sempre em falta e sao disputados a tapa pelos cozinheiros - que em minha pressa, peguei a primeira assadeira abandonada e joguei na pia de agua quente porcamente, dei um tapa e sai com ela nas maos "like a virgin... huh.. " mas ate me deu o que pensar hoje, sobre como estamos sempre recomecando tudo do zero. Entrei nesta cozinha e tive que aprender a andar com um navio em movimento, falar o idioma local (que definitivamente nao eh so ingles, varias palavras e girias internas) e saber o que sao as coisas e onde encontra-las assim como um bebe descobre o mundo, e da pior maneira possivel, caindo, batendo e balbuciando sem conseguir se comunicar.

Aos 32 anos, recomecar tudo e decidir por uma (nao muito promissora) profissao eh simplesmente muita bravura ou burrice, talvez um pouco de ambos, confesso. Mas hoje em dia, estou mais integrado ao navio e nao tenho mais acessos de depressao tampouco tenho vontade de pular na agua e alimentar os felizes tubaroes (nem tao felizes, pois perdi dez quilos durante estes meses e tive um reencontro inesperado com minhas costelas) mas agora eu consigo ver possibilidades e para falar a verdade, nao me mato, nao corro sem necessidade nem estou nem ai para as advertencias que levo diariamente (as vezes nao estou devidamente barbeado,esqueci alguma coisa de minima inportancia..) mas foda-se, a bronca eh a mesma entao tocarei minha vida nessa carruagem louca e desenfreada que e a cozinha.

Meu relacionamento com meu Chef de Partie melhorou, hoje em dia estamos em lua-de-mel com ocasionais episodios de furia (era o oposto) estou mais disciplinado e minha atitude em relacao as coisas aqui esta mudando tambem, estou menos combativo e mais paciente e na verdade nao dou uma merda para o que pensam de mim - realizei que o meu sozinho, a solidao que sentia aqui e uma solidao boa, um tempo para me conhecer melhor e para aprender a aturar as agruras da vida, essa puta ingrata que vezes te acaricia com uma leve brisa, ou outras com uma lixa metalica no traseiro.
Hoje, paramos em Malta de novo e desta vez decidi descer e andar, tudo que queria era andar e andar assim como Forrest Gump, sem destino e sem uma so pessoa perturbando minha cabeca (que ultimamente eh um bairro barra pesada, voce nao gostaria de entrar la a noite) e fui contente da vida pelas ruas desertas de Malta com meu Ipod e oculos escuros enfiado em um bermudao e havaianas. Andei pelo centro onde parei e tomei os dois melhores cafes da minha vida, vi Igrejas, pracas, monumentos, tudo que poderia em duas horas e pouco. Parei no charmoso porto de malta e pedi uma limonada com bastante gelo lendo minha recem-comprada Vanity Fair enquanto apreciava a vista do fim de tarde, o fato de ter que ir trabalhar em meia hora desta vez nao estragou o momento, foda-se o que venha depois disso, tudo compensa - parei na Duty Free e comprei tambem uma garrafa de vinho local, so nao enchi a cara porque dai fica ruim trabalhar, mas que a vontade de tomar uma cerveja bem gelada so para implicar era grande, ah isso era. Mal poderia acreditar que em meia hora, estaria chutando coisas, gritando com pessoas, fazendo frigideiras voarem e carregando kilos e kilos de frango para assar, nao, hoje esses momentos nao existiriam, nem o maldito acougueiro poderia destruir meu bom humor, nem a banda KY, nada alem do ceu desabar em minha cabeca... eram so eu e Malta, pela primeira vez em tempos estava sozinho e feliz. Pessoas me perturbam. Geralmente.

Andei por mais de uma hora, sem parar, vendo as casas e castelos, ruinas, pracas, tudo a minha volta tinha aquele tom de dourado que nao sei explicar, os turistas so poluiam a minha visao perfeita. Amanha, estarei pronto para mais um porto, mais um sonho, errante e intrinseco rumo ao resto do mundo. Sozinho.

Feliz por isso.

quarta-feira, abril 16, 2008

KY, e mais.

Bem, estou comecando a me sentir um pouco pior a cada dia, mas amanha sempre chega, quer queira ou nao.

Estavamos no bar do navio (dos empregados, bem dito) eu e o Ciryl, quando sou interrompido por um som estranho, estridente e sem nexo, luzes surgiram de algum lugar distante, os sons ficavam mais agudos, desafinados e sem nexo - me virei procurando a pessoa que deveria estar batendo um saco de gatos na parede quando me deparo com uma figura no telao, extravagante, lustrosa ate, cabelos esvoacando para todos os lados como uma medusa transloucada pelo proprio poder devastador.
Quando pude enfim decifrar o embaramado de cores e sons, pude perceber que algum filho da puta comprou um DVD da Banda Calypso e estava passando no DVD do bar nas maximas alturas. Quando o chef em questao perguntou que raios era aquilo, contive minha sincope iminente e me desculpei profundamente por aquela coisa ser brasileira.
Esse povo deve achar que nao estava me torturando o bastante, penso.

Vou pro bar agora, espero que a banda KY nao esteja por la, Hell no, eu nao mereco.

quarta-feira, abril 09, 2008

Europa.

Bem, ja estavamos na Europa, apenas nao levamos "vida normal" se eh que isso eh possivel aqui.
Estava desejando muito a Europa, diziam que as coisas melhoram consideravelmente quando chegassemos no velho continente entao, como nao havia como as coisas piorarem, pensei, so devem melhorar - ledo engano.
O cruzeiro comecou, os passageiros estavam embarcando e erroneamente eu perdi a chance de acordar mais tarde (dias de embarque eu comeco as 11 da manha) gracas a uma tabela errada, entao este cruzeiro nao comecou muito bem para mim, posso dizer com certeza. Trabalhando eu sou um desastre, a pressao eh constante e meu stress bate nas alturas, tropeco, derrubo, caio, parece que nunca fiz nada em minha vida que exigisse um minimo de coordenacao e ja sou conhecido por isso.
"Prontos para quatro horas de agonizante prazer ?" eh a frase que falei a todos quando cheguei para a primeira noite de volta ao Polo Grill, o servico eh intenso ate as 10 horas da noite, como se nao bastasse trabalhar o dia todo como uma mula ainda somos massacrados no jantar e a presenca do chef executivo no local durante o servico nao tem ajudado muito nossa confianca e entusiasmo pois, gostamos de atalhos, caminhos mais rapidos de se obter comida pronta, truques basicos e picaretagens para ter que trabalhar menos porem, quando o chef esta presente, tudo tem que ser a la minute - do zero, o que nos exige mais tempo,atencao e cuidado redobrado quando se cozinha uma variedade imensa de opcoes.
Minha auto-confianca esta muito, muito abalada e meu medo de cometer erros fazem com que eu paralise muitas vezes por dia, eu fico completamente estupido e sem reacao diante de gritos e gente se atropelando. Estou realmente numa canoa furada.
As saudades de casa, dos amigos e da antiga vida esta comecando a atrapalhar meus pensamentos tambem, algumas horas estou choroso e so quero voltar para casa, em outras, estou no topo do mundo (principalmente quando consigo nao fazer nada errado).
Algumas novidades foram um sopro de vida nessa vila de zumbis, uma eh o Sous Chef Executivo Cyril, frances que odeia a Franca e qualquer coisa relacionada a ela (?), mora na Australia e parece simplesmente insano, quase todas as noites, paro no bar para tomar uma Heineken com ele enquanto ele fala sobre os podres da esfera mais alta da cozinha, divertidissimo, principalmente se considerar que ele eh um cara magrela, branquelo e com oculos espessos - seria um daqueles nerds da escola que depois resolveu entrar para o time dos chefs e descobriu a sacanagem da vida ? Penso em varias coisas mas nao chego a uma conclusao.
Amigos fazemos diariamente aqui, de verdade, muito poucas pessoas realmente se importam com voce e a ordem ainda eh a sobrevivencia - o que eh diferente para mim por escolher estar aqui, nao sobrevivo deste trabalho (enquanto pensar assim, posso sobreviver) mas a verdade eh que tenho andado deprimido, fora de prumo e com pena de mim mesmo, o que eh estupido pois para comecar, fui eu quem quis entrar nesta roubada entao melhor aguentar de boca calada e pronto.
Hoje, o chef executivo chamou para saber meu feedback e minha vontade era falar "Isso aqui eh uma merda, eu odeio trabalhar aqui para voces, com voces, e isso aqui nao eh nem comida de verdade na maior parte das vezes" o que foi sabiamente substituido por um "bom". Mas quando ele perguntou se eu sabia o menu diario, se meu chef de partie (a tortura) me poe a par dos acontecimentos diarios e se eu poderia descrever o menu de hoje, tive que falar que nao sabia, so sabia o basico diario e nao tinha ideia do que estaria cozinhando a cada dia. Ai, ele chamou meu chef torturador, ele foi avisado a me explicar tin-tim por tintim cada acontecimento e o que deveria fazer a cada passo do dia. Ele nao esta contente e acha que eu fui "dedura-lo", o que significa que nao vai ficar sem retaliacao e temo pela minha vida daqui pra frente, ele acha que dei corda e quer me enforcar com ela.
So por Deus.

terça-feira, abril 08, 2008

E mais...

Bem, Marselhe foi trabalho duro, mas teve seus momentos de graca,

Fui a cidade na segunda noite, para ver a tal de Marselhe e a Franca, pelo menos um pequeno pedaco desse lugar - desci da van de transporte do navio e me vi em um porto circundado por restaurantes, lojas, e charmosos iates parados em torno da pequena bahia. Escolhi um pequeno cafe em torno de uma praca belissima, pedi uma taca de vinho tinto e abri meu livro e fiquei assistindo a vida passar diante de meus olhos enquanto saboreava meu vinho (o mais barato, mas... ...tudo frances, nao eh ?) e aproveitei para provar (estava dando sopa no balcao) o melhor foie Gras da minha vida, era o sabor da felicidade, enquanto andava pelas ruas estreitas do centro da cidade.
Parei em um Pub local para uma cerveja - o pub eh igual a qualquer outro no mundo, esfumacado, feito de madeira e TVs semre ligada nos esportes locais e internacionais quando encontrei o chef da patisserie sentado sozinho. Pegamos nossas cervejas e fomos para umas das mesas do lado de fora e logo estavamos entrosados em um grupo de locais que pagaram Guinesses a noite toda, me fodeu o dia seguinte mas valeu a pena.
Os proximos dias de Marselhe foram nada mais que puro sacrificio e escravidao, vivia imundo, a lavanderia nao estava funcionando (e minhas roupas acabando) ficamos sem TV, internet, agua as vezes... ...eramos quase naufragos.
Ai, acabou, meu corpo e mente doloridos nao acreditavam, mas o pior ainda estava por vir.
 
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