quinta-feira, maio 29, 2008

Tres meses.

Semana que vem completo tres meses de navio.

Tres meses de agonizante desespero e igualmente agonizante prazer, tres meses dentre portos desconhecidos, reforma de navio, pessoas insanas, passageiros insaciaveis (e nao no bom sentido), tres meses sem um unico dia de folga - o saldo ? Pernas bambas durante os primeiros momentos da manha, olheiras profundas, quilos desaparecendo, olhares desesperados atraves da escotilha, maos e pes que seriam o pesadelo de qualquer manicure/pedicure, abstinencia de sono entre muitos outros males que afligem a pobre tripulacao. Os beneficios ? Magro como um modelo (de funeraria), alguns dolares mais rico, portos incriveis para se ver, pernas musculosas e uma bunda que parece uma escultura de marmore grega de tanto subir e descer escadas, tem tambem a tal da parte em que a gente fica mais forte para encarar a vida e que depois disso qualquer desafio eh pinto, tipo... ...aquela mensagem esperancosa da qual eu geralmente nao acredito, e ainda duvido um pouco pois essa tal de iluminacao nao rola com gente cinica.
Mas, apos Veneza ainda tive um leve caso de depressao com momentos esparsos de desespero (quis mais uma vez pedir demissao) e hoje estou a toda novamente, isso aqui eh uma montanha russa emocional devo acrescentar. Nao pude descer em Dubrovnik, e mais uns portos e fiquei trancafiado no navio por quase uma semana e quando isso acontece, diga adeus ao meu humor. Trabalhei muito mal nos ultimos dias e me esquecia de tudo, cheguei a achar que seria demovido do cargo ou mandado embora, mas hoje eu trabalhei numa boa e nem sei porque estou me sentindo bem, simplesmente tem dias e momentos em que estou no gas.
A vontade de mandar todos a merda, porem, nao passa nunca.
Cinco meses a frente, meu corpo berra "estou fudido" enquanto minha cabeca da sinais de emergencia e ainda por cima tenho cinco meses mais pela frente ? Cara, o que eu estava pensando ??
Pelo menos aceitei o fato de que estou aqui e nao tem nada que eu possa fazer agora, demitir e voltar para casa com o rabo no meio das pernas (apesar de soar atrativo as vezes) nao eh a minha coisa, nao quero carregar essa derrota pelo resto da minha vida entao esses FDPs que me aguentem por oito meses e pronto !! Falei.
Hoje, vou descer em Taormina, Italia, dar uma olhadela no lugar que nao eh tao bonito quanto outros portos que eu vi, mas tem uma praia bem legal e quem sabe eu de uma salgada no couro para aliviar o stress.

Enfim, eu agora aceitei que estou aqui por alguma razao/cinrcustancia e vou tentar tirar o maximo dessa merda toda.

Mas ja avisei o Sous-chef, se de repente ele ouvir Code Oscar (man overboard, homem ao mar) correr para minha cabine e se apropriar das minhas tralhas porque eu pulei.
Vai que...

sábado, maio 24, 2008

Veneza. Beber, cair e levantar.

Veneza eh um sonho.

Ruelas misteriosas, Igrejas aos milhares, arte por todos os lados e a Piazza de San Marco - nao se pode ignorar Veneza nem deixar de ve-la apenas por ser "turistica", se bem que a unica coisa que estraga sao os proprios turistas, por toda parte congestionando tudo, a catedral eu nao pude ver pois iria ficar na fila de entrada por horas, sinto uma vontade imensa de gritar "ele ta armado" para ver se a fila desaparece mas contive e me contentei com a bela vista e as igrejas satelite em torno. Odeio turistas, mesmo sendo um, nao me sinto parte daquela horda de pessoas em conjuntos esportivos devorando sanduiches direto das suas mochilas com seus terriveis bronzeados pink, nao eu nao sou parte dessa corja. Eu sou muuito mais cool que eles para isso, simplesmente desprezo esse povo.

Dei uma volta durante o dia, tomei um sorvete ouvindo meu Ipod e andando feliz da vida pela Piazza, melhor de tudo isso, sem pressa pois sabia que a noite me esperava.
Na volta, uma chuva toleravel caia e parece que deixou tudo ainda melhor apos meses sem sentir o que eh andar na chuva despreocupado, senti-la na minha pele e refrescar um pouco minha tao perturbada cabeca que ainda pensa nos cinco meses restantes que tenho pela frente - Barcelona, 01 de Novembro, andarei para fora deste navio sem olhar para tras em direcao as minhas tao sonhadas ferias na Europa.
Trabalhei no Polo Grill e tentei me mandar o quanto antes (que acabou sendo onze e pouco da noite) as pessoas ja estavam voltando para o navio e eu andando a passos largos esperando encontrar qualquer distracao mundana, um boteco (que nao existe aqui) um restaurante nao tao fino (se voce nao pedir comida, eles te expulsam na cara dura) qualquer coisa servia, na Piazza de San Marco encontrei um bar moderninho (uma surpresa) pedi uma Heineken numa taca do tamanho da minha cabeca e puxei papo com dois americanos perdidos tambem, fomos ate um Jazz Bar ali por perto daquelas vielas e tomei mais cerveja, mas apos um tempo o bartender ao perceber que a minha sede nao passaria tao cedo, deu-nos copos descartaveis e rua. Paramos em uma ponte na frente do canal e ficamos admirando Veneza e bebendo - ate as quatro da manha, quando voltei cambaleante para o navio, cercando frango e com direito a um xixi em um beco daqueles com meu Ipod a toda, cantando, ganindo e uivando.

Acordei no pior dos humores, pus meu uniforme e descobri a cafeteria fechada (abstinencia de cafeina, pior que a ressaca) encarei o buffet no andar de cima, nao estava afim mesmo de ver os passageiros mas o dia passou e eu aguentei firme.
Hoje, vou sair de novo para a noite de Veneza, Deus me ajude pois ele ajudou a contruir Veneza e metade da culpa eh dele...

Estou podre de cansado, mas o apelo eh grande... ...sera que vou resistir ?

Beber, cair e levantar... ...igualzinho a tudo na vida.

quarta-feira, maio 21, 2008

Língua Universal

Língua Universal

Como em todo bairro, região, lugar, o navio tem sua própria língua (várias na verdade) mas existem palavras que são usadas por todos para designar coisas diferentes – muitas palavras soam latinas porque eles acham mais bacana, outras são coisas do Filipinos que misturam tudo, inglês, espanhol e tagalog, coisa para doido ver, eles começam a falar em inglês e logo depois o papo vira o Samba do Crioulo Doido.
Seguem alguns exemplos do que falo :

Babaloo – Louco, insano ou retardado mental, abestalhado.
Banana – Encrenca, confusão, repreensão (coisa fácil aqui); o chef executivo te pegou pré-assando steaks para só aquecer e servir ? BANANA pra você.
Paisano – Uma pessoa que é do mesmo país que você, seu compatriota, seu paisano.
“like rice” – Plenty like rice, alguma coisa em abundância; número de filipinos à bordo ? Like rice, como arroz, muitos.
Papae – Refeição, comida.
Papa – Cara, amigo; Hey papa, como està ?
Taka taka – Muita conversa, falação;
Disaster – como a palavra diz, desastre, caos, mas a diferença é que eles usam para tudo;
Why like this ? – quando a coisa está muito corrida, complicada ou difícil, fale esta sentença com uma voz fina e estridente dando ênfase ao thiiiis, porque tem que ser assim, satirizando o péssimo inglês da maioria das pessoas aqui.
Gimme chance, Papa – por favor, me deixe passar, ou abrir a geladeira, saia do caminho.
Foooock – enfim, fudeu.

Enfim, somos uma estranha comunidade, como na prisão temos nossas próprias regras, dialetos e pessoas de todos os tipos, às vezes é difícil de acreditar que somos quase cinqüenta nacionalidades em um único navio. Hoje, paramos em Kotor, mas não pudemos descer pois atracamos às três e os pasageiros saem antes, três excursões, e daqui a uma hora e meia eu trabalho (de novo) mas nestes quase três meses eu quase não acredito que eu não desisti ainda, devo ser mais resistente do que pensava, pelo menos me livrei da tortura de Bombay, mas na real, estou mais preocupado com os portos, esta semana, três dias em Veneza com tempo livre para sair a noite (só começo as onze da manhã no segundo dia) então vou atingir as ruas de Veneza como um rojão.
Tentarei não tomar um porre, mas não prometo nada.

terça-feira, maio 13, 2008

Chefs sao loucos.

Bem, pertecendo a categoria, eu sou uma sumidade para discutir o assunto.

Cara, chefs sao pessoas egocentricas, Machiavelicas e sadicas que habitam as cozinhas todas, sem excecao - sua refeicao eh preparada sim, por um cara horrivel com habitos pessimos e uma compulsao insana por pisotear seus subalternos, prazer eh pouco para descrever.
Mas, estava vendo uma das demonstracoes culinarias que eles fazem aqui no navio, o chef executivo garboso e seu comparsa sous chef, mostrando as milhares de veias que habitam este cruzeiro como preparar um polvo com arroz na tinta e uns canapes de tudo quanto eh tipo, como se essas senhoras do centro-oeste americano fossem admitir a entrada de um polvo em suas geladeiras, elas preferiam se ensaboar com o bicho vivo a ter que coloca-lo na boca. Enfim, as pessoas (poucas) que forcavam os Ahhss e ohhss nao ficaram muito impressionadas com o prato e tampouco acho que vao fazer um prato com canapes de todos os tipos, tipo, quarenta mini-iguarias todas diferentes feitas com ingredientes tipo, queijo feito pelas freiras lesbicas e manetas do Nepal, rarissimo Tartufo Bianco farejado pelos caes siberianos cegos, tudo com 1, 2mm de espessura cortados em fatiadores profissas (quem nao tem um em casa ?), esturjao roxo da Antarctica... ...o cara eh um punheteiro louco, vai me perdoar.

Quando esse fulano passa pela linha de servico, faz dez pratos voiltarem, pois este esta com um micro ponto de balsamico no canto, o outro a salsinha picada caiu um milimetro depois da linha do prato e no outro ele manda trocar porque nao gostou da sua cara quando voce preparou. O cara parece que esta sentindo cheiro de peido o tempo todo.
O resto de nos, somos mercenarios que vivemos sujos, engordurados, bebados em qualquer minuto vago, somos a escoria do inferno, front staff nao se atreve a dar um abraco em um cozinheiro - somos a ultima coisa que alguem quer ter como vizinho.

Enfim, esta casta a qual pertenco agora, eh simplesmente um bando de loucos, toxicomanos, bebados e insanos - meu tipo de gente.

segunda-feira, maio 12, 2008

Mitylene, ou sei la o nome do lugar.

Paramos em Mytilene, nem vou escrever muito pois nao tem nada la para se olhar.
Andei um pouco, desanimei, sentei no porto e tomei tres cervas EFES antes de voltar para o batente, estava numa tristeza de dar pena, sentindo pena de mim mesmo por ter que aturar essa vidinha por mais seis meses. Dizem que pode-se obter condicional ou extensao dos banhos de Sol por bom comportamento, mas eu duvido.
Esta eh a prisao perfeita pois... ...so se atirando no mar para sair daqui, se bem que as vezes a ideia de me atirar aos tubaroes soa menos dolorida e mais eficaz/rapida de acabar com minha vida.
Seis meses a frente, meu Deus, nem sei como vou aguentar esta tortura com leves momentos de agonizante prazer, pois sempre fico com aquele gosto de quero mais quando deixo um dos paraisos para voltar ao inferno do navio. Numa escala de um a dez de stress, estou batendo perigosamente nos 8.25, estou mais agressivo, irritado e mau-humorado e estou comecando a implicar com algumas pessoas que sinceramente, me irritam.
Amanha voltamos a Kusadasi, um porto que eu simplesmente amei, desta vez nada de ficar zanzando pois ja conheco o lugar - quero um almoco completo, de gente de verdade com direito a sobremesa e cafezinho no final so para dizer quem eh que manda no corpo e na alma do Ricardo. A impressao que temos eh que a empresa te possui e pode fazer o que quiser de voce (o Drydock provou isso) mas minha mente continua wild and free. O mundo estara em meu bolso ao final deste contrato - se conseguir resisitir isso tudo, vou virar monge, alcancar o Nirvana.

Por enquanto, longe disso. Quero espancar, pilhar, roubar e matar - estou me tornando um pirata.
Pior, parece que fui vendido como escravo pra eles.

domingo, maio 11, 2008

Mais um cruzeiro, menos um cruzeiro.

As pessoas contam o tempo que vão passar aqui em dias, meses, semanas e isso com certeza não me ajuda – eu conto cruzeiros, cada vez que um acaba e os passageiros descem, um kilo a menos sai das minhas costas, por enaquanto tenho mais 12 kgs. Para tirar das costas ( o mesmo número de kilos que eu perdi, gozado isso).

Agora, atracados no porto ou não (muitas vezes estamos em tendering, o barquinho que leva e traz as pessoas quando estamos longe do porto mina as horas que eu tenho para passear) eu saio nem que seja para tomar um café do lado de fora e voltar, tudo que eu quero é sair e ver as pessoas, os lugares e principalmente a comida local.
Em Olbio, Itália, sentei-me em um boteco à beira-mar e tomei três cervejas antes de voltar a trabalhar, era feriado no lugar e a cidade tem aquele clima de cidade do interior do Brasil que me deixou completamente à vontade. Nesse dia, só queria cerveja e calma, mais nada, tinha até um vira-latas local para brincar. Em Santorini, quis apreciar a vista local e a comida, tomei a cerveja Mythos e pedi Tzaziki com Pão e pepino e tomates acompanhados de uma salada de carneiro divina, regados ao azeite local e pão pita soberbamente tostado e preparado em um terraço de um restaurante familiar muito simples e simpático, Renata, uma das brasileiras à bordo sempre me deixa pedir a comida, sou seu personal chef.
Em Rhodes, tomei café apenas e zanzei pelo forte da era Bizantina do século XIV, fiz umas comprinhas nas lojas locais (muito legais) e voltei apreciando a visão do mar quebrando nas muralhas e pedras que envolvem a cidade velha e porto, em Kusadasi, mais comércio local (as falsificações são as melhore que já vi) podendo escolher entre Gucci, Diesel e tantas outras marcas que você jamais teria dinheiro ou coragem de comprar, vi Ipods dentre burcas e mesquitas, carros e cavalos, o cheiro do chá de maçã em todas as portas e o Sol que castigava minha pele era um alívio após tantas horas enfurnado em ma cozinha sem janelas.
Istambul. Ah Istambul.
A expectativa sobre Istambul era grande, três dias atracados com dois overnights, na primeira noite fomos a um dos milhares de narguilés cafés, sentamos em confortáveis sofás sob lonas e tapetes e fumamos o tal negócio, álcool é proibido pois 90% da população é muçulmana mas acreditem, não fez falta alguma – tomamos chá e café turco (o chá parece do Ceilão, mas com gosto melhor) e não feliz, fui em busca de um Kebab (a versão original do espetinho) e comprei em uma barraca que vi à tarde enquanto passava e me chamou a atenção – através do vidro vi os tomates mais firmes e vermelhos possíveis, pimentões multi-coloridos que fariam os nossos ficarem mais vermelhos de vergonha e mais verdes de inveja, tudo na Turquia exige paciência, ao contrário dos nossos ambulantes, que te entregam o mais assado disponível, o cara daqui faz na hora, corta os vegetais na hora, tosta a folha de pão na hora e põe temperos frescos (páprica, pimenta vermelha e pimentas misturadas em pó locais) enrolando a carne de carneiro, salada e tudo no pão. Dos Deuses, salve Alá.
Durante o dia, tive folga de três horas e meia e fui explorar o centro da cidade – um congestionado de pessoas, milhares de lojas barracas onde pode-se encontrar de tudo (mesmo) e parei num restaurante local cheio de pessoas locais para uma refeição. Inglês, linguagem, aqui é um sonho distante, dei o meu melhor para pedir a comida e não fui desapontado, quatro pães deliciosos acompanhados de salada verde com tomates, pimenta vermelha fresca, pimenta verde (não picante porém saborosa) e sobre arroz e batatinhas, um Kebab de carneiro feito na brasa intercalando carne e cubinhos da gordura do bicho. Olhando o prato todo, parecia pouca comida, comendo, foi um banquete.


Vi os turcos fazendo suas orações nas Mesquitas, onde geralmente são também as tumbas dos Sultões, o mercado com azeitonas, queijos, temperos era simplesmente de fazer o coração acelerar, não se consegue não provar um pouco de tudo.
Parece que ninguém trabalha às vezes, estão todos reunidos nas portas dos comércios, cafés e tendas locais em grupos de homens, tomando chá, fumando e batendo papo.

O sonho termina hoje, quando zarpamos novamente com destino final em Veneza, Istambul é misteriosa, seus cheiros e cores são demais.
No trabalho, me frustrei quando a minha mudança de estação de trabalho furou, ainda penso em homicídio e tento não pensar nos doze cruzeiros à frente, dei um leve tapa com luva de pelica no chef executivo hoje e passei a manhã enfurecido com falsas promessas e falta de coragem dele em dizer que estava não me mudando para posições melhores, quando minha vontade era enfiar um espeto de frango do tamanho da minha perna na cabeça dele e torcer. Stress ? Nem vou começar.

Em compensação, isso automaticamente ligou o meu foda-se, trabalhei como se não houvesse amanhã, após ter ido perguntar o que seria de mim e descobrir que de verdade, não importa o suficiente para ser comunicado que as coisas não vão mudar ou que talvez eu gostaria de saber onde trabalhar de manhã, a situação ganha perspectivas engraçadas, ou nenhuma, a não ser de que estarei fazendo as mesmas tarefas chatas mais dois meses como um assistente qualquer.

Vou voltar à masmorra agora. 60 dias após, ainda odeio estar dentro do navio.
Mais um cruzeiro, menos um cruzeiro.

As pessoas contam o tempo que vão passar aqui em dias, meses, semanas e isso com certeza não me ajuda – eu conto cruzeiros, cada vez que um acaba e os passageiros descem, um kilo a menos sai das minhas costas, por enaquanto tenho mais 12 kgs. Para tirar das costas ( o mesmo número de kilos que eu perdi, gozado isso).

Agora, atracados no porto ou não (muitas vezes estamos em tendering, o barquinho que leva e traz as pessoas quando estamos longe do porto mina as horas que eu tenho para passear) eu saio nem que seja para tomar um café do lado de fora e voltar, tudo que eu quero é sair e ver as pessoas, os lugares e principalmente a comida local.
Em Olbio, Itália, sentei-me em um boteco à beira-mar e tomei três cervejas antes de voltar a trabalhar, era feriado no lugar e a cidade tem aquele clima de cidade do interior do Brasil que me deixou completamente à vontade. Nesse dia, só queria cerveja e calma, mais nada, tinha até um vira-latas local para brincar. Em Santorini, quis apreciar a vista local e a comida, tomei a cerveja Mythos e pedi Tzaziki com Pão e pepino e tomates acompanhados de uma salada de carneiro divina, regados ao azeite local e pão pita soberbamente tostado e preparado em um terraço de um restaurante familiar muito simples e simpático, Renata, uma das brasileiras à bordo sempre me deixa pedir a comida, sou seu personal chef.
Em Rhodes, tomei café apenas e zanzei pelo forte da era Bizantina do século XIV, fiz umas comprinhas nas lojas locais (muito legais) e voltei apreciando a visão do mar quebrando nas muralhas e pedras que envolvem a cidade velha e porto, em Kusadasi, mais comércio local (as falsificações são as melhore que já vi) podendo escolher entre Gucci, Diesel e tantas outras marcas que você jamais teria dinheiro ou coragem de comprar, vi Ipods dentre burcas e mesquitas, carros e cavalos, o cheiro do chá de maçã em todas as portas e o Sol que castigava minha pele era um alívio após tantas horas enfurnado em ma cozinha sem janelas.
Istambul. Ah Istambul.
A expectativa sobre Istambul era grande, três dias atracados com dois overnights, na primeira noite fomos a um dos milhares de narguilés cafés, sentamos em confortáveis sofás sob lonas e tapetes e fumamos o tal negócio, álcool é proibido pois 90% da população é muçulmana mas acreditem, não fez falta alguma – tomamos chá e café turco (o chá parece do Ceilão, mas com gosto melhor) e não feliz, fui em busca de um Kebab (a versão original do espetinho) e comprei em uma barraca que vi à tarde enquanto passava e me chamou a atenção – através do vidro vi os tomates mais firmes e vermelhos possíveis, pimentões multi-coloridos que fariam os nossos ficarem mais vermelhos de vergonha e mais verdes de inveja, tudo na Turquia exige paciência, ao contrário dos nossos ambulantes, que te entregam o mais assado disponível, o cara daqui faz na hora, corta os vegetais na hora, tosta a folha de pão na hora e põe temperos frescos (páprica, pimenta vermelha e pimentas misturadas em pó locais) enrolando a carne de carneiro, salada e tudo no pão. Dos Deuses, salve Alá.
Durante o dia, tive folga de três horas e meia e fui explorar o centro da cidade – um congestionado de pessoas, milhares de lojas barracas onde pode-se encontrar de tudo (mesmo) e parei num restaurante local cheio de pessoas locais para uma refeição. Inglês, linguagem, aqui é um sonho distante, dei o meu melhor para pedir a comida e não fui desapontado, quatro pães deliciosos acompanhados de salada verde com tomates, pimenta vermelha fresca, pimenta verde (não picante porém saborosa) e sobre arroz e batatinhas, um Kebab de carneiro feito na brasa intercalando carne e cubinhos da gordura do bicho. Olhando o prato todo, parecia pouca comida, comendo, foi um banquete.


Vi os turcos fazendo suas orações nas Mesquitas, onde geralmente são também as tumbas dos Sultões, o mercado com azeitonas, queijos, temperos era simplesmente de fazer o coração acelerar, não se consegue não provar um pouco de tudo.
Parece que ninguém trabalha às vezes, estão todos reunidos nas portas dos comércios, cafés e tendas locais em grupos de homens, tomando chá, fumando e batendo papo.

O sonho termina hoje, quando zarpamos novamente com destino final em Veneza, Istambul é misteriosa, seus cheiros e cores são demais.
No trabalho, me frustrei quando a minha mudança de estação de trabalho furou, ainda penso em homicídio e tento não pensar nos doze cruzeiros à frente, dei um leve tapa com luva de pelica no chef executivo hoje e passei a manhã enfurecido com falsas promessas e falta de coragem dele em dizer que estava não me mudando para posições melhores, quando minha vontade era enfiar um espeto de frango do tamanho da minha perna na cabeça dele e torcer. Stress ? Nem vou começar.

Em compensação, isso automaticamente ligou o meu foda-se, trabalhei como se não houvesse amanhã, após ter ido perguntar o que seria de mim e descobrir que de verdade, não importa o suficiente para ser comunicado que as coisas não vão mudar ou que talvez eu gostaria de saber onde trabalhar de manhã, a situação ganha perspectivas engraçadas, ou nenhuma, a não ser de que estarei fazendo as mesmas tarefas chatas mais dois meses como um assistente qualquer.

Vou voltar à masmorra agora. 60 dias após, ainda odeio estar dentro do navio.
 
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