quarta-feira, julho 22, 2009

Como ter um insight

Um Insight, claro que vocês sabem.

Um clarificar de idéias, um despertar no novo, um novo dia após dormir, uma nova idéia do que te acontece. Um novo olhar.
Você tem uma idéia miserável do seus dias, sabe aquela versão interminável do mesmo dia, sabe aquele marasmo que nunca vai passar - ele passa, e tem uma visão do seu futuro fazendo o que gosta,conhecendo gente que faz o que gosta ? Eu tive.
O meu insigth agora, diz que Pinot Noir e gente faz...

que bom.

quinta-feira, julho 16, 2009

Coisas que me fazem rir.

Ver um poodle se dando mal.
Um motoqueiro (cachorro louco) caindo (sem se machucar muito vá lá) ao tentar fugir depois de bater em um carro;
Uma pessoa se chocando em um vidro;
Um pombo sendo atropelado (estúpido demais);
O pouso de um albatroz;
A morte súbita de uma mosca naqueles dispositivos elétricos de restaurante antigo;
Um garçom caindo com bandeja e tudo;
Aqueles adesivos de carro escritos "Deus é Fiel" (e um escrito à dedo na sujeira Mas sua mulher não";
Os nomes dos filhos dos caminhoneiros escritos atrás da caçamba (Greycyllene, Oswaldson e Greysse) me matam;
Qualquer coisa escrita na caçamba de um caminhão;
Vestidos de casamento Verde-Metálico (sempre fantasio que costumava a ser um chevette, olha a reciclagem);
Gente se esborrachando em geral;
Uma galinha sendo atropelada (galinhas são estúpidas também, nascem para virar KFC);
Entre outras coisas.

Sou meio boboca.

O Condomínio

Recebi uma carta do Condomínio - a Gazeta da Vida dos Outros,

Dizia que alguns vizinhos estavam fazendo algazarra à noite e qe estavam incomodando a paz. Eu, cozinheiro duro que chega às uma, duas da matina não posso lavar meus uniformes então, tenho que me contentar com duas estudantes, uma senhora aposentada e sabe-se lá que mais tipo de desocupado vai ficar com sono ? Tudo bem que a máquina de lavar daqui parece uma fanfarra quando vai torcer a roupa (a tal centrífuga) e bate nos lados dos armários mas digo eu, lavar roupa já é uma ciência complicada por si só, ainda tem que ser escondido no banheiro e no escuro?
E a reforma nos andares de cima, que tem aquela marretação incessante (eu sonho que estou derrubando um banco na marreta às vezes, uma delícia) não conta então, a máquina de lavar é pior e não se fala mais nisso.
Aliás, só em defesa da minha máquina, ela deixa as roupas quase secas, o amaciante entra, não destrói nadinha - uma enxuta que está uma coroa enxuta - deixem minha máquina em paz.
Vou continuar lavando minha roupa sim, fazendo meu sanduba as três enquanto espero a danada bater minha roupa até a meia-seca para poder pendurar e ter meus uniformes limpinhos de manhã para passar, tenho um caso de amor com a lavadora afinal, ela trabalha tanto quanto eu.

O triste caminhar da meia noite.

Eu começo a noite as cinco da tarde - coisa de louco.

Louco mesmo é o marasmo que nos abate antes do serviço, as praças montadas, os uniformes ainda limpos e aquele ocasional "um pato confit, marcha-e-sai" quero morrer de catapora enquanto vejo a lista de reservas pendurada na parede me dizendo que exatamente 150 pessoas vão passar por ali e deixar seus ricos 10% para o papai aqui. Mas são oito e meia já e neca de pitibiribas, o salão está lotado e nada das comandas serem cuspidas pela impressora o que deixa a calmaria antes da tempestade meio que óbvia, cacete, eu quero que os infelizes larguem aquela taça de vinho e peçam logo. Aí, começa a chuva, lá pelas nove (estamos desde as sete esperando) e vem a turbulência do caramba - Corre que o carré tá saindo, olha pra não perder a marcha da maldita Bisteca (que leva 10 mins.de forno) e me vejo atirando coisas no forno atulhado e ocasionais queimas acontecem, esta semana, duas Joanas D'arc surgiram de meus fornos (uma delas, Joana Duck, um pato confit)e toca eu atirar outra perna cabeluda e engordurada de pato no forno antes que alguém perceba.
Aí, a loucura segue até as dez e tanto, depois vem os gatos pingados que pedem um filé au poivre dividido - aquele majestoso filé vira dois tequinhos de carne que valem menos que um danoninho, e você não tem dinheiro para comer no restaurante please, vá ao Mac, eles têm um cardápio apropriado para você.
Aí, à meia-noite, o último freguês (um sádico que não sabe que pobre também dorme) pede um Poivre bem-passado: um filé de 300 gr. cozido ao irreconhecimento é no mínimo um desrespeito ao boi que morreu por ele sem falar que vai demorar horrores para ficar pronto, pronto falei.

Aí, sobra para a equipe lavar a cozinha à meia noite e meia e sair de lá depois das uma...
Porra, eu não tenho paciência - fora os idiotas que pedem para passar mais o atum, ou não sabem o que pediram ou têm mau gosto mesmo.
Eu odeio fast-food, mas invejo quem tem clietes que tem que decidir o que querem em segundos, o cara fica lá naquela pressão e a fila atrás para empurrar.
Se vocês reservarem a mesa pra 20:30, apareçam na hora, não as 22:30 como uma mesa teve o displante de fazer e rezem pelo nosso humor.

Comida bem-feita é feita com tempo e paciência, e nos faltam ambos.

quinta-feira, julho 09, 2009

Este é o KAA

Tarte Tatin (receita neste link)




Adoro Tarte Tatin e aperfeiçoei-me para fazer.

A RECEITA ORIGINAL


Cortar | Descasque e corte as maçãs ao meio. Tire as sementes e divida cada metade em três pedaços. Você também pode usar a maçã inteira, como gosta de fazer o chef Henri Schaeffer. "Não fica exagerado, porque ela murcha."


Untar | Espalhe na superfície de uma fôrma ou panela 50g de manteiga amolecida. Por cima, polvilhe 50g de açúcar. O truque de Schaeffer é misturar ao açúcar 1g de pectina, o que deixa a tarte tatin mais gelatinosa e firme.


Espalhar | Acomode os pedaços de maçã sobre a fôrma, enfileirados e apoiados uns nos outros, formando círculos. Não deixe muito espaço entre os gomos de maçã. Adicione mais 200g de açúcar e leve ao fogo baixo para caramelizar por cerca de 25 minutos. Cuidado para não deixar queimar.


Amassar | A massa mais usada é a sablé – farinha de trigo (200g), açúcar (100g), manteiga (150g), 1 ovo e uma de pitada de fermento e sal –, mas Schaeffer recomenda a folhada. Abra a massa e corte-a em formato de círculo. O diâmetro deve ser um pouco menor que o do recipiente usado como fôrma.


Cobrir | Depois que as maçãs caramelizarem, ponha o círculo de massa por cima. Pressione a massa delicadamente com os dedos, de modo que grude na camada de fruta. Leve ao forno por cerca de 20 minutos ou até que doure.


Servir | Ao tirar do forno, espere um pouco para desenformá-la. Quando ainda está muito quente, a fruta pode grudar no fundo da fôrma. A dica é servi-la morna, acompanhada de chantilly, sorvete ou creme de baunilha.

Quanta dor você pode suportar ?

Quanta dor você aguenta ?

Essa é a pergunta que você deve se fazer ao entrar em uma cozinha profissional, estamos falando aqui, sim, de dor física e moral pois a cozinha é o palácio da dor não tenham dúvidas. Como comparação, nos primeiros dias em um escritório dificilmente acho que você corre sério risco de sair com um abridor de envelopes empalado em sua mão esquerda ou sofrerá queimaduras de terceiro grau enquanto desmpenha suas tarefas, enquanto lá, na cozinha, isso é uma possibilidade constante e
duvido qe os chineses tenham inventado uma sala de torturas (ainda que acidentais) tão variada e eficaz quanto esse ambiente insalubre em que nos metemos diariamete.

Correr sobre um chão engordurado carregando assadeiras de gordura fervendo ou facas pontiagudas não é bem o que sua mãe aconselhou quando você era pequeno - convenhamos.
E fazê-lo enquanto um chef está aos berros com você não torna nada melhor, acredite.

No quesito dor, tenho a minha classificação -

10. Cortes limpos: Cortes à faca afiada, daqueles que separam a pele em duas partes e sangram horrores, por menores que sejam. Não doem na hora, mas à medida que vão inflamando com a constante imersão na pia...
9.Arranhões com metais em geral: Assadeiras, fôrmas e demais são afiadas o suficiente para rasgar e não cortar, deixando aqueles rasgos largos em antebraços e costas das mãos e como sabem, inflamam também.
8.Queimaduras leves de forno: Aquelas famosas tiras em nossos antebraços que fazemos quando temos que alcançar alguma coisa bem funda, lá dentro do forno - sabe aquele joguinho de médico da Estrela : quando você erra o bisturi leva um choque ? Sua primeira reação após a primeira queimada é puxar o braço mais rápido possível e no caso, dentro de um espaço de 5 cms de altura entre uma grade de forno e outra e trinta de profundidade queimando vários outros pontos sucessivamente até que seu antebraço preça uma zebra.
7.Respingos de gordura: O pato Confit está no forno pra ser servido e bem na hora em que você abre para pegar BUM ! Explode uma bolha da pele feito NaPalm, borrifando gordura para todos os lados, rosto, braços, etc... Deixa pequenas bolhas de água ou pontos vermelhos.
6.Cortes de facas e instrumentos menos afiados: A faca de pão, serrilhada consegue partir sua pele com precisão e profundidade deixando aquela pele molenga em volta do corte, principamente na palma das mãos, que é como a vítima segura o pão para cortar a meio, dolorida durante e depois e demorada na cura.
5.Sal e pimenta nos cortes anteriores descritos: Após se cortar, temos aquela misturinha de sal e pimenta nos potinhos que usamos a cada segundo para marinar carnes, vegetais,tudo. Com pequenos cortes abertos nas mãos você os mergulha em um estado de dor intensa, a cada doi minutos como um pequeno masoquismo mas a dor é irritante e constante.
4.Cutículas inflamadas e inchadas: Tudo faz as malditas doerem, água morna,calor, sal e pimenta, produtos de limpeza em geral; esse mal é geralmente inflicto às pessoas que trabalham na pia, com direito à sangramentos, pus e inchaço que faz o dedos parecerem lâmpadas.
3.Queimaduras de imersão em Gordura: Um clássico, faz um pururuca de suas mãos, depois dóem cada vez qe você se aproxima do calor como uma maldição que perdura uma noite inteira, cada pequena onda de calor faz parecer que você está se queimando de novo a cada segundo. Nas pontas do dedos, insuportável.
2.Cabos quentes : Desavisado, você esquece que aquela merda de frigideira acabou de sair de um forno à 200C e mete a mão para pôr a comida ao passe (e não pode derrubar porque a mesa inteira está saindo) então você aguenta e não solta - no começo a pele fica lisa e esticada (vermelha...) e depois surgem as bolhas que também doem no calor. Uma queimadura dessas leva dias e dias para sarar.
1.Vapor e caramelo : Tive que empatar essas duas pois, além de lancinantes, estes pequenos acidentes podem te tirar de circulação por uma quota de tempo - O vapor não só queima, mas liquefaz a pele fazendo com que ela saia na atadura deixando aquela ferida lisa e vermelha da sua segunda camada de pele exposta, é vil e cruel. O caramelo por sua vez, em contato com a pele começa a esfriar imediatmente (grudar)e vai transmitir todo o calor onde estiver sem que você consiga retirá-lo aos prantos e gritos... é desesperador, em slow motion tipo aquelas torturas de filme em que o vilão entocha um ferro em brasa beeeem devagar em seu torturado.

A dor moral, bem, esta nem preciso comentar... os nossos fracassos diários que sugerem que jamais, nunca seremos chefs de verdade geralmente impostas por chefs sádicos e sociopatas (descrição esta arduamente desejada por e para nós, simples cozinheiros) ou simplesmente a gozação de sair da cozinha sangrando à procura de socorro, ainda que seja um Band-aid; enquanto seus companheiros leais imitam um bebê chorando.
A humilhação de não conseguir soltar todos os pratos e fazer a cozinha inteira esperar enquanto o chef vai resolver o problema aos berros (e manda você se afastar da chapa) é uma humilhação indescritível, sabe aqueles sonhos em que você está no pátio da escola lotado, porém nu ? Comparável.

Os prazeres, estes sim, gostamos de falar mas sem saber explicar bem onde achar prazer em meio à isso tudo, a falta de vida social (entre cozinheiros, somos mais uma matilha onde os mais fortes comandam), privação de sono, dores musculares e demais ossos do ofício, talvez seja a satisfação de vencer desafios diariamente - eu faço uma coisa que me assusta todos os dias e isso talvez seja o que não me deixou desistir até hoje (e eu penso em desistir, quase diariamente).

Talvez a dor de desistir seja maior.
 
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