Bem, acho que ando meio relapso em relacao ao meu blog e tentarei entrar em dia com os ultimos fatos de minha emocionante sobrevida...
...estava na iminencia de um novo emprego, o que ocorreu : estou em aviso previo de duas semanas (two weeks notice, nome de filme) e tudo parecia ir bem, meu novo chefe prometeu um salario maior e turnos apenas durante o dia, nada mais de breaks no meio da tarde e acordar cedo e dormir tarde. Aih, eu fui atingido.
A semana comecou na quarta-feira como usual, e trouxe uma carga de trabalho indecente que nao esperava, almocos lotados e jantares com reservas em quase todas as mesas fora os eventos no salao do andar de cima, acho um porre ter que fazer salgadinhos e petiscos alem de ter que estar com o uniforme impecavel (praticamente impossivel) e so nesta semana tive que fazer por volta de 100 pudins, 78 bolos de chocolate, umas 50 tortas de banana alem de 45 compotas de Rhubarb... ...abelhas me perseguem na rua no final do dia, estou impregnado por acucar, calda e chocolate que tem me causado nauseas ultimamente. Na propria quarta-feira, Mike, um ajudante de cozinha ficou doente e teve que ir para casa deixando-me com cem pessoas para servir almoco e a louca para lavar enquanto isso. Ao final do dia, la estava eu, sentando no canto da cozinha analisando seriamente a possibilidade de cortar meus pulsos com o ralador de queijos, mais uma vez, me sentia "violentado" pela cozinha.
Na quinta-feira, tudo de novo : cozinha cheia, sem lavador de pratos e num mato sem cachorro - quando recebi a noticia de que o outro assistente de cozinha aparentemente se chocou com uma pedra enquanto eskiava e havia, levemente, fraturado o cranio (o que revelou-se ser apenas um caso de sutura, 15 pontos) e nao iria poder trabalhar durante o fim-de-semana. Foi quando recebi o fax de uma reserva para 45 pessoas no salao, para o jantar no sabado - olhei para cima e perguntei : Eh agora que chove merda ??
O saldo de todo o esforco foram (em numeros) 73 horas de trabalho em seis dias, mais de 500 clientes satisfeitos (ou nao, quem se importa?), 7 queimaduras em diversos pontos de minhas maos, 3 cortes nos dedos de lavar louca, 3 kgs de roupa para lavar acumuladas em minha casa e dois dias inuteis em casa tentando me refazer de tudo isso.
A conversa com minha chefa atual foi pacifica, apesar de saber que por dentro ela estava era mesmo com vontade de arrancar meus olhos as garfadas, ela foi muito gentil e compreensiva. Liguei para casa e recebi algumas mas noticias, mais uma vez fomos passados para tras e meus pais irao pagar o pato - detesto saber que coisas como essa acontecem e estou longe demais para fazer alguma coisa a respeito, meus pais trabalharam a vida toda no Brasil para construirem uma vida e serem derrubados por gente inescrupulosa - nao falo por serem meus pais, falo isso por conhecer os dois e saber que sao pessoas honestas, que jamais fariam tais sacanagens. As vezes isso me faz pensar : e vale a pena ? Vale a pena se matar de trabalhar, pagar N impostos, estudar, para depois terminar a vida em uma aposentadoria de fome e carnes para pagar ?
Nao, nao vale. Nao e possivel, tem que haver mais.
Falava hoje com a Nanci sobre o tal "jeito brasileiro" - esse tal talento do brasileiro em conseguir o que se quer levando vantagem em tudo, e conclui ser a maior causa do pais estar aonde esta hoje - um lugar aonde "nao pode" nao significa exatamente proibido e estacionar em fila dupla eh um pecado mortal, a nao ser quando eh vc, rapidinho, deixando alguem no trabalho.
Seriamente, quantas vezes a gente nao tentou escapar de uma multa de transito (e conseguir, felizmente ou infelizmente), de uma fila no banco ou da fila para entrar na boate (e se possivel, de graca) ? Sou culpado nesse ponto, mas aonde estou agora a palavra "nao" significa realmente NAO. Adoro essa parte de estar aqui, no Brasil quando falamos nao, nao interessa para que, se eh para um passeio no parque, para um prato de salada, para a atitude abusiva de alguem, temos que nos justificar - nao, para brasileiros nunca vem sozinho - porque nao estou afins, porque estou cansado, e por ai vai. Adoro falar um sonoro NAO e as pessoas entenderem que eu nao quero alguma coisa, que eu nao concordo e que nao eh uma resposta suficientemente clara, ate porque se eu comecar a me explicar muito, percebo que as pessoas ficam incomodadas com tanta informacao descenessaria. O direito de falar "nao" sem se justificar deveria ser universal, tantos problemas poderiam ser evitados assim, as coisas ficariam mais claras tipo :
- Voce gosta de mim ? Nao.
- Que tal me emprestar aqueles CDs ? Nao.
- Posso perguntar uma coisa ? Nao.
- Voce vai ter que trabalhar este fim-de-semana. Nao.
- Voce casa comigo ? Nao.(geralmente, nesses casos, acho que o nao sai facil...)
Viu ?
Alem dessa parte, tem certas coisas aqui que me agradam muito, como ir a um restaurante sozinho, sentar e comer lendo uma revista e ninguem achar que voce eh estranho, sentar sozinho em um bar e ninguem te achar um assassino de alta periculosidade e ate mesmo poder sair a noite sozinho apenas para nao falar com ninguem, ir ao cinema e nao dividir a pipoca e uma das melhores coisas as vezes.
Mas tem o oposto, as pessoas aqui sao muito sozinhas - nao tem amigos que vao na sua casa e se atiram no sofa para conversar, indicam um livro (mas nao te emprestam) e tampouco vao a sua casa levar canja de galinha quando voce esta doente, de cama. Aquela promessa "eu te ligo" aqui nao passa disso, uma promessa, raramente essas pessoas vao te ligar apenas por que sentiram vontade de jogar conversa fora, de ouvirem uma voz ao telefone, de saber que tem alguem ali do outro lado que se importa com voce.
E ai, eu concluo que nao se pode ter tudo. Dificil essa coisa.
Lembranças escolares
Há 14 anos
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