As pessoas buscam na vida, ter um legado - essa palavrinha estranha.
Oara alguns, Legado significa deixar bens, uma empresa, uma instituição ou até mesmo uma placa de bronze, os seres humanos são complicadíssimos dessa maneira - passam a vida inteira querendo esquecer muita coisa, mas pretendem ser lembrados apenas pelas razões das quais gostariam de ser lembrados.
Para alguns, essa memória seletiva (e conveniente) pode ser tanto para enaltecer alguma coisa que julgam fazem muito bem, ou para completar lacunas que gostariam de ter preenchidas ou até para compensar a falta de grandes feitos enquanto outros preferem ser lembrados pelo que tem ao invés das coisas que possuem - seja uma casa, um carro, o salário, as roupas e por aí vai. As coisas que possuímos ? Sabedoria, coragem, brio, inteligência, senso de humor...
Pais recebem méritos pelos filhos, filhos são um legado à parte, quem não sabe ? Já os filhos que recebem o legado dos feitos de seus pais, carregarão o fardo pesadamente (os filhos do Antônio Ermírio talvez nunca cheguem aos pés de seu pai) mas a cobrança será vitalícia, que pesadelo deve ser isso.
No meu caso, gostaria apenas de ser lembrado - não quero bem um legado (pelo menos não no tom sério que a palavra tem sido usada)gostaria de uma coisa mais simpática e menos emulativa, tive meus momentos de coragem, ousadia e aventura dos quais fazem meus olhos brilharem a cada lembrança, fiz coisas que gostaria que as pessoas fizessem pelo menos uma vez na vida (assim como conheci pessoas que tinham experiências que gostaria de ter), não descobri a cura para o câncer nem ganhei um Nobel mas saí o quanto pude e nem sempre o quanto gostaria da minha zona de conforto, vi a Ásia (um pedacinho dela), Oceania, mudei de carreira aos 30 como quem não quer nada da vida, pretendo correr o mundo só para satisfazer minha curiosidade e nunca ficar me perguntando tanto "e se". Gostaria que as pessoas lembrassem daquele doido, imbecil que ficava rodando o quanto podia pelo mundo, que não se acomodava e que talvez fantasiem que eu era um Jacques Cousteau, um Amyr Klink ou apenas um mochileiro desvairado (o que é a verdade, não acrescento nada à humanidade eu acho)ao invés do cara que tinha o carro prata, que era de tal classe, que usava tal coisa... De verdade, disso ninguém vai lembrar mesmo, estas coisas não nos fazem únicos - pelo contrário, na esperança de se destacar as pessoas estão ficando cada vez mais iguais (o que é a moda então? uniforme,eu digo), lembro de tal deputada mais pela ousadia de ter cabelos roxos/vermelhos/azuis do que pelo trabalho dela (um pouco triste isso), mas a verdade é essa, essas coisas que nos fazem únicos e memoráveis.
O oposto, ordinário e ortodoxo, eu posso citar aos montes, proprietários de Mercedez - Juntem-se aos outros milhares pelo mundo, proprietários de Mercedez que escalaram o Everest - não devem existir muitos e quantos você conhece, aliás ?
Viu que diferença - o cara jamais será lembrado pelo carro, vai ser o cara que escalou o Everest e pronto.
O que te faz único e memorável, na minha opinião são justamente as coisas que o fazem ser amado e odiado - as pessoas podem te admirar pela sua inteligência, generosidade, senso de humor, etc... ...e podem te invejar exatamente pelas mesmas qualidades.
Meu legado, feliz ou infelizmente, será o de ter sido apenas eu - único, assim espero.
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