sábado, junho 14, 2008

Cansado.

Estou cansado.

Cansado de trabalhar, cansado de esperar a maldita data de ir embora chegar, cansado demais para pensar muito e principalmente, cansado demais para me importar ultimamente. Observem eu nao me importar.

De manha, meu corpo reclama que nao quer sair da cama, minhas pernas parecem geleia quando subo as escadas do deck e desco ate a lavanderia para buscar meu uniforme (que nunca esta totalmente limpo de manchas, estou cansado dos chinas da lavanderia), meus olhos ardem ao primeiro contato da luz pelas escoltilhas da cafeteria, me arrasto ate o fundo e acendo um cigarro enquanto escuto meu Ipod e evito contato visual/verbal com qualquer pessoa que se aproxime, observo o relogio ir depressa de encontro as oito e rezo para que o tempo pare so um pouco para que eu comece a tortura diaria - entro na cozinha para descobrir que os aventais acabaram (quase todos os dias) entao vou sujar a jaqueta e depois ser repreendido pelo chef, vou procurar travessas, assadeiras e todas as quinquilharias necessarias para comecar o trabalho mas nao tem nada limpo ou disponivel pois os outros chefs ja esconderam tudo para eles, os canalhas, vou ate o acougue onde o acougueiro nao responde ao meu bom dia, peco as pecas de carne do dia para assar e ele diz que esta muito cedo ainda (ja viu isso ?) saio querendo atirar um cutelo na garganta dele.
Dai, o jamaicano de dois metros passa com as entregas de verduras, e tem sempre alguma coisa faltando da qual vou ter que implorar pelas outras estacoes afora depois, o trabalho comeca aos trancos e barrancos pois ate as nove e meia eu nao sou gente ainda, so acordo la pelas dez, a correria pre-almoco comeca e corro como um frango como dizem os filipinos. Onze e meia, break para o almoco (que nunca como) a comida da cafeteria eh minha velha conhecida e algumas coisas servidas eu conheco ha mais tempo que alguns amigos aqui, carne louca ? ja devo ter encontrado pelas geladeiras umas tres vezes ate seu destino final, o estomago da tripulacao.
Enfim, mais uns cigarros ate a lanchonete da piscina, hoje saimos mais cedo do porto entao todos estarao a bordo, filas imensas, pessoas deseperadas por comida e eu suando, me movimentando ao maximo para cozinhar trinta hamburgueres ao mesmo tempo, com diferentes queijos, tempos de cozimento, sanduiches grelhados que tem que ser montados na hora, grelar cebolas, cogumelos, correr, gritar, berrar, sussurrar ate os suspiros finais quando vou para meu intervalo da tarde, as vezes eu saio nos portos as vezes (como hoje) tenho que ficar dentro do navio pois ou saimos cedo demais, ou eh meu dia de permanecer (port manning eles chamam) entao fico na net torrando meu dinheiro e neuronios para escrever alguma coisa ou simplesmente vou dormir para esquecer por alguns momentos que estou em um navio que pode acertar um iceberg a qualquer momento, mas creio que Deus nao seria tao bom assim comigo.

Cansado de meus dias iguais.

As quatro e meia da tarde, volto a cozinha principal para finalizar os detalhes do jantar e dia seguinte, corro para preparar a comida do staff mess (a cafeteria dos oficiais bacanas que a gente nao entra) e o acougueiro mandou varne picadinha de novo, eu nao sabia disso entao nao tenho verduras, vegetais e temperos que deveriam ser pedidos um dia antes para preparar alguma coisa decente (pois vc acha que ELES comem qualquer coisa ?) saio feito um desesperado procurando raspas e restos que roubo das geladeiras e imploro alguns itens, o Chef das sopas sempre tem alguma coisa esperando por la, cozinho o mais depressa que posso e mando as asadeiras pelando as seis, juntamente com milhares de outras coisas, seis e meia, apos mais um break, Polo Grill, fogao de novo - cento e dez pessoas fizeram reservas entao sera mais um massacre... ...comandas chegam, aperitivos, acompanhamentos absurdos (as pessoas mudam TODOS os itens do cardapio, tira manteiga poe creme, mistura dois tipos diferentes, quero sair e perguntar se eles nao gostariam de entrar e cozinhar) e tres horas e meia depois, estamos nos ultimos pedidos e ja tenho que limpar tudo, tirar todas as assadeiras, jogar fora os restos, desligar tudo... ...desco ate a minha estacao na cozinha central e tenho que lavar bancada, forno, blast chiller, e tem dias que ainda tenho que ir limpar o deposito de vegetais apos isso.
Estou cansado disso tudo - meu normal eh cansado e meu cansado eh EXAUSTO.

A verdade: estou sempre cansado de tudo, nao importa onde estou.
Vou dormir um pouco agora...

2 comentários:

O Estranho Mundo do Patto disse...

Leão da Montanha, Produzido pelos Estúdios Hanna-Barbera, estreou em 1960 nos EUA, não é da sua época mas o Iuquim deve se lembrar, dentro do Show do Zé Colméia. Até então, ele tinha aparecido na TV apenas como coadjuvante em desenhos do Pepe Legal, Olho Vivo e Faro Fino. O Leão da Montanha caiu no gosto do público graças ao seu charme, elegância e estilo. Educado, articulado e com um "ar" de ator canastrão - uma de suas frases características, "Saída, pela esquerda" (no original "Exit... stage left"), faz menção ao caminho para uma saída estratégica. Outra de suas tiradas célebres no desenho original, "Heavens to Murgatroid", foi traduzida aqui no Brasil como "Pelas barbas de Netuno!" Então Rick, veja qual a melhor hora de gritar "Saída, pela esquerda" porque ninguem merece o que você ta passando. Se Cuida !! um Forte Abraço !

Gustavo Silveira disse...

Veja só, alguns veêm na rotina uma chateação permanente, algo cansativo, repetitivo... que nada traz de bom, e então repetem permanentemente (rotineiramente) que estão cansados, sempre cansados... muito cansados...

Lembrem-se dos monges, eles enxergam na rotina não algo ruim, não algo pequeno ou sem valor, mas sim enxergam um ritual que os permitem continuamente a melhorar tanto o que fazem, quanto a sí mesmos, nestes rituais eles se purificam e deixam prá trás suas imperfeições, consideram que servir alguém é um privilégio destinado a poucos, pois apenas poucos conseguem ter talento, disciplina, determinação para atingir propósito tão elevado.

Neste reality-live-show estamos semana a semana acompanhando nosso protagonista em sua saga para não só elevar-se, encontrar-se, mas principalmente para contribuir prá que outros (nós, folgados e tranquilos) também possamos trilhar o caminho da iluminação lendo seus divertidos (e bastante exagerados) blogs.

Não se enganem ao pensar que nosso protagonista está no primeiro grupo dos cry-babies, isso é apenas uma retórica colorida e fantasiosa que serve para nós fracos de espirito e de vontade, para enxergar como seria prá nós seria esse caminho para a iluminação, com certeza para ele isso é algo como subir o Himalaia de escada rolante, algo fácil e tranquilo que apenas demanda um pouco de paciência.

[]s

Guz

 
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