Ok, já se passaram dois meses sem posts, mas muita água passou por debaixo desta ponte.
Voltei para casa, após um vôo longo de Milão/SP, a coisa mais nutritiva que comi à bordo foi um garfo plástico - incômodo, ansiedade inevitável de ver pessoas, entrosar e voltar ao mundo real fora de quatro paredes metálicas.
Á parte de meu amigo Trovão, que foi me buscar no aeroporto, ninguém foi me buscar (minha família não foi por orientação minha) e fiquei aliviado por isso pois fazer as pessoas esperarem é terrível, vôo atrasa, malas (as minhas para variar são sempre a últimas da esteira) ninguém merece, os meses seguintes eu passei matando as saudades dos amigos, família e minha conturbada relação com o mercado de trabalho brasileiro em cujo relacionamento consiste em tentar entrar e não conseguir (e ponto). Estava resignado a voltar para o navio e me conformar com mais alguns anos de senzala flutuante, afinal essa é uma carreira e para quem não tinha nenhuma é o que vale nesses momentos delicados da vida.
Resolvi tentar outra companhia de cruzeiros em busca de mais dinheiro - dsecobri que a vida a bordo é igual em todas as companhias e a maioria é um pouco pior do que a atual em termos de trabalho, mas mesmo assim, preciso ganhar a vida como qualquer pessoa que se preze, e como qualquer pessoa decente que se preze em momentos como este resolvi apunhalar meus empregadores em busca de grana : mandei CV para a Royal Caribbean e eles me convocaram para uma entrevista (da qual passei) e depois para uma segunda para acertar detalhes que solicitei, cargo maior assim como o salário.
Como esse emprego não iria acrescentar muito à minha técnica, vamos atrás da grana...
Nos dias ociosos, fiquei na frente do micro mandando CVs para todos os restaurantes de São paulo que gostaria de trabalhar, fui até atrevido dada as proporções que estava almejando, quero trabalhar para os melhores. Um dia antes da segunda entrevista, meu celular toca, era um restaurante famoso de São Paulo me chamando para uma entrevista, o sonho de qualquer aspirante a chef (não vou revelar por razões éticas) marcando entrevista para o dia seguinte. Fiquei excitado, nervoso, me preparando para o pior afinal, aqueles caras eram feras, eles são bons, eles aparecem na Tevê e eu... ...eu sou eu, aquele eu que está acostumado a sofrer.
Cheguei à entrevista uma pilha, ponho jeans ou calça social ? Cabelo em pé ou penteado ? O que esses caras levariam em consideração ? O emprego era para um novo restaurante do grupo - estou embasbacado e sem palavras. O chef me recebeu, falou montes de coisas que deseja de um funcionário e minha falta de atuação em várias praças ainda é evidente, mas ele viu alguma coisa em mim - deve ter sido minha cara de "espero pelo pior, já vi o pior" que diz quem aguenta choques sem reclamar; somos uma classe resignada e obediente.
Antes que batesse as pestanas estava contratado e com uma lista de documentos a trazer nas mãos - andei meio cambaleante até o carro, entrei e antes de dar a partida agarrei o volante com as duas mãos e gargalhava alto no auge de uma barato indescrítivel, a sensação de que fui aceito pelo meu país, pelos chefs (que não são brasileiros, vá lá) ,mas pela afirmação de que as pedras que empilhei (e foram pesadas) estão finalmente cosntruindo um castelo (e rezo para que nenhuma role de volta para me atingir a cabeça)...
Arrumei um apartamento por perto, me mudei em menos de uma semana e estou aprendendo pracas com o chef executivo (o cara já é meu ídolo), nunca vi um chef ser inteligente, rigoroso e considerado ao mesmo tempo como ele, é o tipo de cara que é respeitado ao invés de temido, alguém em que pode-se espelhar.
Agora, pretendo dedicar mais este blog à culinária e como ela é intrínseca com os fatos da vida, preciso evitar falar sobre nosso dia-a-dia pois não quero fazer nada que arrisque este emprego ou minha reputação dentro dele. Espero que compreendam, mas situações inusitadas sempre estarão presentes em minha vida e espero poder divertir meus amigos leitores no caminho.
Vou rebatizar o blog, alguma idéia ? estou precisando de um nome permanente...
Lembranças escolares
Há 14 anos
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