terça-feira, setembro 06, 2005

Dunedin a ChristhChurch

Pe-na-estrada;
Era tudo que eu tinha sonhado para a tal da viagem, Sol a pino, estrada vazia, nao importava nada - nem o que havia deixado para tras tampouco o que me esperava a frente, tudo que me importava era a musica sertaneja no CD player e as memorias do Brasil que nao sei porque, quando estou viajando assombram minha cabeca como nao acontece em nenhuma outra ocasiao. Cheguei tambem a conclusao que estou perito em deixar para tras, de alguma maneira eu lido muito bem com essa sensacao e nao paro mais para olhar sobre os ombros, acho que passei a entender que a vida das pessoas continua quando a minha muda; nao que nao sinta saudades dos amigos e familia que deixo em cada lugar mas agora eu sei que cada um tem a sua vida e milhares de coisas mais importantes a pensar do que em mim (egocentrico ? Eu ?)e nas saudades que vou sentir. Mas geralmente sentimos saudades do tempo em que lembramos sem considerar que o tempo passa e as pessoas mudam, a vida muda e nao se surpreenda se quando for visitar um velho amigo perceber que voce nao ganhara 20% da atencao dele comparado a antes.
Avistei uma cidadezinha (mais uma vila, eu acho) e parei para comer alguma coisa e tomar um cafe para reavivar meus sentidos, estacionei a van e desci para olhar em volta - um lugar meio que desolado com apenas algumas lojinhas basicas e um cafe a beira da motorway (a cidade toda estava ali, escola, prefeitura, comercio : todos dentro de 1000m2) caminhei ate uma cabine telefonica para ligar para amigos e fui atentamente observado por um senhor sentado em uma mureta.
Entrei no cafe local por volta de meio-dia, minha aparencia pareceu causar espanto nos clientes - botas de cowboy, calca jeans, bone e oculos estilo chips (nao dispenso), me mediram de cima para baixo e fingiram me ignorar enquanto comprava uma torta e um cafe; as senhoras de cabelo roxo e os senhores locais tinham um misto de desconfianca e apatia. Nem deixei me abater.
Ao deixar a cidadezinha, uns 20 kms a frente me deparei com a praia mais bela que ja vi em minha vida - parei mais que rapido.
A entrada da praia era um bosque daqueles de foto e a areia... ...intocada !! Nao sabia o que sentir, se era sorte por ter aquele lugar so para mim ou azar por nao ter viva alma para dividir a experiencia, andei descalco, molhei os pes na agua, escrevi na areia, deitei olhando para o ceu enquanto sentia a areia massagear minhas costas cansadas de dirigir; a experiencia perfeita para o dia perfeito.
Pensei em como seria a vida naquele lugar, construir uma cabana e virar pescador, viver de peixe frito e perder o contato com o mundo, ignorar que existem contas,bancos, celulares, civilizacao e contemplei a hipotese desconsiderando a parte em que fico entediado e me mando para o primeiro bar assistir TV, fumar dois macos de Marlboro e tomar uma caixa de cervejas.
A estrada me esperava e continuei ate encontrar uma cidade historica, da epoca da colonizacao inglesa que apesar de encantadora nao oferecia muita distracao alem de um parque de pinguins (isso mesmo,pinguins !!) e fui pra la ver qual era a ideia de ver pinguins fazendo sabe-se la o que. Conclui que os pinguins estavam de ferias no Tahiti (nao tinha um unico daqueles mini-desgracados andando por la) e senti que aquele era um aviso para que eu me mandasse. A unica coisa que me arrependo foi nao ter comprado um livro de um sebo de la, Jack London "The Night Born" primeira edicao por NZ$ 50,00 - 1800 e bolinha, uma barganha perdida por ter medo de gastar o pouco dinheiro que tinha comigo.
Segui pela estrada costeira ouvindo meus Cds ate chegar em Cristhchurch - cidade grande para os padroes da NZ, me perdi por horas dentro da cidade tentando achar um maldito trailer park e quando encontrei um, era uma pocilga.
A vaga para a van nao tinha pavimento algum, era cercada por uma cerca viva que de viva nao tinha muito e de frente para a cozinha central que tambem nao era uma Brastemp. Dentro da cozinha haviam tres pessoas e decidi arriscar uma conversa jah que a minha noite parecia perdida - uma mulher asiatica que evitou contato visual comigo a todo custo quase enfiou a cara no forno para nao pegar a minha peste, um senhor de idade simpatico mas completamente insano que falava incessantemente sobre milhares de coisas sem a menor importancia e um nerd de oculos grossos, cabelos loiros ate os ombros mal-tratados e trajado meio que com roupas saidas dos anos 70 que caiam largas em sua magreza de mais de 1,80m, tentando encher a boca de comida para nao dialogar, aparentemente nao falava muito ingles e ficou intimidado com a conversa que estava tendo com o lunatico do trailer park (quem eh que mora em um trailer park por sete anos ??).
Perguntei se alguem iria para a cidade naquela noite e adivinha quem ia ? O nerd !! Combinamos de nos encontrar as sete e meia em frente a cozinha e eu iria pegar uma carona de onibus com o sujeito. Nao me senti tao empolgado mas na falta de escolha melhor, vai o nerd alemao (descobri mais tarde).
Surpresas acontecem, e as vezes sao boas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Ricardo,
Tudo bom? Leio seu blog ha muito tempo e adoro. Seguinte,eu moro em AKL, ja morei em Queenstown tambem, de Qtown so sinto saudades mesmo dos amigos q deixei por la, q frio do caraio... Me passa um email e eu te passo meus contatos, seria legal te conhecer. Sou amiga da Jacque, ela muda pra AKL em Dezembro, vamos trabalhar juntas, falei com ela hoje de manha e ela falou q te conhece e q vc e super bacana, inteligente e cozinha muito bem!! hahaha
beijos, ciao

 
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