Esta semana fiz uma coisa da qual posterguei até o máximo;
Reuni todos os e-mails, textos e blogs desde 2003, do período da Nova Zelândia até hoje e um dos primeiros foi "essa vida de carro e celular" no qual relato a total independência destes dois artigos de luxo (hoje em dia nem tanto, qualquer Zé Mané tem um dos dois) em minha vida, particularmente.
Desde que voltei, já tive um celular roubado, dois comprados (um quebrou e precisei de um quebra-galho) e aparentemente o avanço que isso trouxe à minha vida foi ZERO.
Celular é, como dizem um mal necessário, as pessoas podem te encontrar no meio do teu almoço (uma dádiva) ou no motel traindo, olha que conveniente essa modernidade, a câmera do celular é a famosa câmera da sacanagem (não tem outra utilidade a não ser te pegar no flagra).
Agora tenho um LG 320m, tira retrato, toca musiquinha e faz sabe-se lá mas o quê, pela módica quantia de R$ 650,00 ele faz de tudo, só para fazer e receber ligações que ele não presta - e eu estava esperando o quê - por esse preço só faltava o tal do aparelho te fazer sexo oral. Se bem que até nisso eles devem estar pensando.
Enfim, o tal do celular comprovadamente mais me incomodou do que ajudou, cada vez que você vai sair de casa, tem os documentos para carregar (RG, CPF, Cheques, cartão, dinheiro cash) cigarros, isqueiro, chaves (carro, casa, escritório), o celular, o carregador, etc... Já é quase uma mala, e ai de você se a bateria acabar - o meu NUNCA recebe ligações a não ser quando está desligado, aí aparecem 2500 mensagens da Claro (que não funciona) dizendo que o mundo estava tentando se comun icar com você (aí começa a paranóia, será que era uma oferta de emprego multimilionária, sexo sem compromisso, seu cão em alguma emergência)... ...mensagens de texto então, são as melhores. Eu simplesmente não consigo decifrar "o q vc vai fzr + tde, vms fzr alg kza - me irrita profundamente a matança cruel e bárbara do idioma através dos textos. Se bem que escrever naquele tecladinho sem ter os dedos de uma pianista profissional parece uma tarefa de reality show.
Do carro, será que eu realmente preciso falar...
Um carro, dizem, é uma família - precisa de carinho, atenção, banho, investimento, etc... ...desconfio que quando o carro passa da condição de família ele entra na condição AMANTE, gasta o seu dinheiro sem dó,nem pena. Nada contra, adoro a liberdade proporcionada por ele, além do que, para quem mora no Brasil e em São Paulo (no estado de, quis dizer) ele se faz totalmente necessário para trabalhar, viajar e viver. Não deixe a vida acontecer sem você, dizia o reclame.
Agora... ...as horas de manutenção, lavagem, e demais mimos te deixam par a par à qualquer pai atencioso ( e ai de quem encostar naquela pintura lustrosa). No meu caso, o carro sofre atentados semanais, um riscão ali, um amassadinho aqui, de repente algum pombo tem uma diarréia e lá vai o pai preocupado correndo atrás do filho, com paninhos, cerinhas, cheirinhos, etc... ..para mim, meu carro já virou adolescente e pode se cuidar sozinho, faz um barulhinho, reclama aqui, ali, mas no fundo eu sei que ele está bem. Apenas empurre as milhares de bugigangas jogadas ali e sente em um cantinho.
Na verdade, esta foi uma re-avaliação do que havia dito, só que apenas por outro ângulo e querem saber ?
Eu não poderia estar mais certo.
Segue o original.
Voces nao sabem como faz falta ter um carro nessa terra...
Auckland e uma cidade ate que pequena, mas por um destes acasos do destino eh espalhada e ficou decidido que no centro se trabalha e nos suburbios se mora.
Ontem, comecei a trabalhar em um cafe em Takapuna Beach,uns tres ou quatro kms de casa – perfeito. No sabado ao voltar da balada (as 11:00 sai o ultimo onibus para minha casa,bem entendido que a tal balada dura pouco pra quem nao tem carro) descobri uma coisa que mudaria os destinos da minha vida - aos Domingos o onibus so passa (o primeiro) as 9:40hs da manha, sendo
que a maioria das pessoas honestas e limpinhas (sim,aquela gente que vc ate ja ouviu falar sobre,existe) como eu entra as 9:00... e agora ? Agora sao 4km de caminhada aos sabados e domingos. Acordei, peguei meu uniforme preto e me mandei para a tal empreitada (trabalho no bar,lavo louca e faco os cafes entre servir drinks dos quais soh posso sentir o cheiro) e no caminho pensei em que falta fazia meu celular, para mandar uma mensagem, jogar conversa fora, etc...
Bem, no caminho existe uma feira (na verdade em frente ao meu trabalho) um open market, diria,e aproveitei para dar uma olhada no que tinha de bom. Se estivesse de carro, chegaria tres minutos antes do trabalho e nao teria tempo. Como ainda faltava mais de uma hora para entrar no trabalho, olhei o que tinha de bom na feira e sentei para ler um livro ate a hora chegar.
De repente, vem aquele cheiro dos deuses, pao fresco, bem atras de mim - uma padaria, daquelas de filme, pequenas, me convidando para a felicidade. Sai da padoca saboreando meu pao quentinho (coisa rara por aqui, ja que so se compra pao no mercado, e daqueles de pacote). Ate que nao foi tao ruim assim nao ter ido de carro.
Apos o trabalho, 500 copos lavados por minuto, setenta e sete crianças berrando pela sua Coca-Cola sem gelo, mas com limao, quatrocentos cafes f/w (Flat White, fui descobrir :cafe com leite mais do que ordinario com nome fresco), muitos muffins depois, estava livre para voar e ainda eram 1:00 pm !! Como sabia que uma galera estava indo para Mission Bay (praia) pensei sinceramente em aproveitar meu Domingo. Segundo um amigo, apos atravessar a ponte de North Shore, ficava
a uns tres kms, dava para arriscar uns 40 min. a pe, e claro - tudo pelo social.
Comecei andando pela cidade, vi alguns harbors, tudo muito legal. Apos uns quatro km, nada de ver onibus ou a tal da mission bay. Andei, andei e andei e nada.
Apos uns 5km, percebi o quanto estava ferrado, mas continuei pois quem anda 5 anda 10 nao e??
Apos um hora, ja começava a amaldiçoar a falta do carro, enquanto via os asiaticos (90% da população aqui e da asia) passando em seus carroes esporte e amaldiçoava cada um deles, eles passam anos aqui estudando, tem carro, celular, laptop e nunca precisam ganhar um tostao, alem de ficarem pendurados na internet da Universidade, estes filhos da puta – adoro eles, mas apenas em suas quitandas, pastelarias e lavanderias e trabalhando para mim, sem saber falar uma so palavra de portugues. Se um deles olhasse torto para mim enquanto estava andando feito uma mula de
padre, eu juro que voava na carotida do maldito.
Visto que o meu humor ja nao estava aquelas coisas,continuei com a famosa teimosia brasileira (ah,
brasil, vc me mata) e fui em frente, ja tendo um principio de insolação e um enfarte. De repente,
enxerguei uma barraca daquelas de canto de estrada vendendo morangos,olha que coisa boa, talvez
estivessem gelados, etc...
Ao chegar na barraca, a atenciosa senhora disse que nao tinha mais morangos e me ofereceu Feijoas, uma frutinha verde de casca dura e parecida com um figo da India (sem espinhos), apos ela me dar uma para provar,comprovei que a danada da fruta era boa pacas.
Comprei uma sacola e fui comendo, pela calcada, que nem criança. Se estivesse de carro, não teria
descoberto esta delicia que eh feijoa.
Cheguei em Mission Bay, dei umas voltas, encontrei os amigos,e tudo perdeu a importância. Naquela hora eu pensei em ligar para alguem, mas para quem, se não conheço quase ninguém? Ate que não e nada mal estar sem celular, afinal,e a unica maneira de ser achado em qualquer parte do mundo, a qualquer hora, não se pode mais nem trair hoje em dia por causa deste pequeno tirano, o celular que pede para ser carregado com carinho, alimentado por créditos, e ainda por cima
facilita as pessoas que você não quer falar, a te ligarem bem no meio do filme - olha que delicia.
Peguei uma carona com um amigo na volta, e pensei no cartão de credito que não vou ter que pagar (cortei com uma tesoura) e também na social que nao vou ter que fazer, aqui, posso andar com um cesto de frutas na cabeca que ninguem vai notar, ou saber de quem se trata.
Na minha homestay, tenho paz total, a geladeira sempre cheia, o telefone tem secretaria eletrônica para não perder um so recado... ...se bem que abrir a geladeira e nao achar nunca,nunca, um bolo de fuba a toa, ou saber que tao cedo nao tera uma mensagem na secretaria de um amigo que esta te convidando praquele chopp, e meio chato, mas tudo tem o seu preco, ate a paz. E saber que vc nao pode pegar teu carro, ir ate a casa de alguem onde vc abre a geladeira pra ver o que tem de bom, liga a televisao e joga conversa fora, tambem e um pouco frustante.
Ahhhh, essa vida de carro e celular me mata.
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