sexta-feira, outubro 03, 2008

Ultimo Cruzeiro

Bem, cheguei la.

Estou em meu ultimo cruzeiro, cansado, humilhado, pisoteado, mas como todo bom bambu, eu envergo mas nao quebro.
Ultimo cruzeiro, dia de embarcacao de novos passageiros em Veneza, comecei as onze da manha no buffet de recepcao no carving (eu corto uma peca gargantuesca de carne na frente dos passageiros ultra-excitados apos longos voos para a Europa) e temos o habitual "Bem-vindo a bordo, madame" com sorrisos amarelos e gestos ultra cordiais que me dao enjoos, particularmente eu nao tenho mais paciencia e logo pergunto se a criatura quer ou nao a merda da carne, coberta com a droga do molho ou nao e despacho a vitima para o setor de saladas sem nem me incomodar - enfim, estou na frente de um desses americanos de classe media salivando pela grotesca perna de boi e tentando cortar a crosta do primeiro pedaco (que sendo a ponta, fica dura) mas a faca disponivel esta SEMPRE cega, imprestavel, por mais que eu tente avisar todas as vezes a maldita companhia nao troca nossas facas. Enfim, entre uma tentativa e outra, o cansaco, a falta de cuidado, a faca que aparentemente nao cortava a carne (e nao cortou) deslizou diretamente em meu dedo indicador esquerdo que segurava o garfao de churrasco, a faca que nao funcionava bem com a carne pareceu ser bem eficiente em meu dedo, bem na base, aquela parte gordinha do dedo onde temos pelos, disfarcei mas senti que era um pouco serio quando vi o sangue jorrando por dentro da luva de latex, esguichos pequenos porem vermelho-vivo atraves do latex transparente.
A companhia tem regras contra sprays de sangue nos passageiros. Pena.
Mantive a mao abaixada, chamei o cara que corta o peru, pedi-lhe gentilmente que cuidasse daquilo e voltaria em cinco minutos; entrei na cozinha e dei de cara com o chefe jamaicano que agora estava mudando de cor (negro para palido-branco) enquanto eu punha a luva cheia de sangue no lixo e amaldicoava a faca, a vida, os passageiros e o que mais passasse pela minha cabeca, peguei umas toalhas de papel e tentei estancar o sangue para nao passar sangrando litros pela area de hotel ate o centro medico quando, Chef Cris entra para saber o que estava acontecendo mas a reacao foi ainda pior : ele entrou em panico, mandava eu me sentar (retruquei que nao haviam cadeiras ali) e de repente ele estava no telefone.
Quando ele desligou, ouvi em todos os alto-falantes do navio "CODE MIKE" dando a localizacao da cozinha, eu so tive tempo de dizer "DUDE, NOOOOOOOOOOO..." e a merda estava feita, todas as pessoas do navio estariam ali em segundos, General manager, medico, a equipe medica inteira (da qual ironicamente faco parte) e tudo que encontraram foi um cara segurando o dedo com toalhas de papel - no minimo embaracoso.
Depois da multidao dispersar, desci ate o medico, tomei cinco pontos no dedo e voltei a trabalhar, pensar que eu achei que seria mais facil, mas se tratando de minha persona, sem surpresas.
Todo este ultimo cruzeiro tem sido um desastre, me mudaram de estacao de trabalho na qual trabalho quase nada porem, odeio algumas pessoas que trabalham comigo agora e acontece de serem os chefes da secao, por pura ironia do destino.
Bem, faltam cinco dias para o meu mundo voltar a ser real, se bem que comecarei meu mundo real na surreal Barcelona, dream-like start.
Nao sei quando vou postar agora, se conseguir, conto mais.
Estou meio aterrorizado com a vida real, voltar ao mundo encarar desemprego, falta de perspectivas, pessoas, situacoes, dinheiro (a falta dele) e estou meio que em um surto psicotico. Mas, parte de mim esta feliz, pelo menos a maior parte.

Um comentário:

Anônimo disse...

EEEEEEEEEEEEEEE, ta acabando....hahahahahah.... Pensou que o Love Boat não iria deixar nenhuma marca, ~essa e para não esquecer mais, cinco pontinhos no dedinho...hahahahah.......Abraçosssss e até a volta,,,,, haaaa... Boas ferias, ve se aproveita......

 
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