sexta-feira, janeiro 16, 2009

Enfim, inauguramos.

Enfim, abrimos as portas.

Em um mes de trabalho, já tivemos baixas, desertores e mais - a brigada que continua pelo menos já está se separando em clusters e panelinhas (olha o trocadilho) mas no geral, somos um time unido (talvez porque estejamos ainda com egos contidos, receios e pés atrás em geral) mas tem sido um grande prazer trabalhar no Dalva e Dito (pronto, falei), o Chef da cozinha é muito confiante e sinceramente, paciente (eu, às beiras de abrir um restaurante novo estaria dando saltos até o teto, matando, esquartejando, dilacerando pessoas entre minhas mandíbulas) a calma e confiança desse homem com a equipe é extra, sobre-humana (e é mais do que se pode esperar de um chef francês, acreditem).

Minha praça é a de peixes, até que se descubra como fazer com que anchovas cheirem à Dior, meu cheiro característico não será dos melhores, mas têm sido um desafio estimulante.

No soft opening (só para convidados, um test-drive com cobaias VIP) nossas trapalhadas e erros ficaram evidentes mas sobrevivemos todos empregados, muito obrigado, e as críticas na mídia foram favoráveis o que me faz pensar que estaremos empregados contanto que ninguém envenene nenhum comensal ou suba nu em uma bancada para fazer a dança do siri a ordem está se estabelecendo no restaurante. O mais incrível, chef confiou na equipe e nos subchefs para descobrirmos a melhor maneira de fazer as praças trabalharem (outra coisa raríssima).

A minha vida mudou radicalmente mais uma vez : estou em São Paulo (morando com endereço fixo e tudo) apesar de sobreviver com o que cabe numa mala ainda, estranho o fato de estar de volta ao Brasil, à São Paulo e mais ainda de estar trabalhando com Gastronomia no Brasil (tem palavras do vocabulário de cozinha aqui que desconheço) me sinto uma aberração velha e desinformada em meio à jovem brigada com quem trabalho... ... estudantes do Le Cordon Bleu na França, Paul Bocuse, Senac, Anhembi-Morumbi, gente que trabalhou no D.O.M. (a meca da culinária brasileira atual), Hotéis chiques e restaurantes estrelados. E eu, bem, eu sou aquele velho mercenário que está se auto-educando na lida e nos meus livros de receitas. Culinária Brasileira era um assunto Tabu para mim, nunca pratiquei e meu foco era sempre na cozinha francesa old-school (minha paixão) e ainda sou um pouco resistente à nova Nouvelle Cuisine (molecular dizem) que está invandindo o Brasil através da visão além do alcance de Alex Atala (tenho que admitir, o cara é um gênio criativo) e com a ajuda do Alain Polleto, que tem técnica e ciência em favor da culinária (que não considero arte, cozinhar é uma ciência, caso contrário, você poderia misturar pato com feijão e carambola e dizer que é arte).

Até pupunha é novidade para mim. Conhecia, mas nunca tinha apreciado suas aplicações em sopas, forno e outras variações.

O ritmo do restaurante, para mim, é moleza, os pedidos entram super ordenados e dá até para fazer mise en place durante o serviço se você se organizar - comparado ao navio, onde após sete horas de trabalho (duas no grill) eu ainda teria que fazer guarnições para 200 pessoas em quatro horas à La carte sozinho, estou em férias apesar de dizerem que a coisa vai aumentar eu duvido que chegue aos pés do massacrante ritmo do Insígnia. E ainda tem o adicional mais importante: a cozinha não balança durante o serviço...

Minhas mãos estão macias, minhas queimaduras são leves e os cortes são poucos, sem a pressa espartana da cozinha de navio fica mais fácil evitar pequenos acidentes corriqueiros como atear fogo em seus cabelos e sair correndo feito uma tocha humana pelo salão. Iria ser uma atração à parte. Creio que iria render boas gorjetas (aliás, sabiam que vivemos, á princípio das gorjetas ?) Então deixem de ser miseráveis e liberem nem que seja um real, por favor, contribuam com minha passagem de ônibus e a cervejinha após o trabalho.

Enfim, life goes on. O show continua. E eu rodo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sucesso Rick !!

 
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