A primeira grande espinafrada do chef, a gente nunca esquece.
Não que seja a primeira vez na vida, houveram várias e de vários graus, tipos, intensidades mas a primeira de cada emprego, chef diferente, essa sim a gente não pode esquecer.
Era sexta, dia dos namorados e a expectativa do massacre iminente estava no ar, o staff estava com olhos arregalados, cozinha a todo vapor e pessoas arrastavam as bolas de ferros em seus pés com rapidez, sim, a calmaria sempre precede a maré e cmo digo, somos treinados a esperar pelo pior e sabíamos - haveriam gritos, desespero, lágrimas e violência prontos para nos pegar assim que o relógio soasse as sete da noite para o jantar e as portas do inferno se abririam sobre nós. Não que não gostamos disso, amamos isso, vivemos para contar para as pessoas os records de público atingido mas tememos o horror desses dias prenunciados.
Enfim, aconteceu antes que previsse - assamos os stincos de vitelo que teríamos mas sinceramente ando tão distraído que nem reparei que eram poucos e que poderiam haver mais no freezer (haviam mais 70), ficamos naquela promessa de que faríamos na quinta mas o restaurante não fechou e não pudemos usar a cozinha para preparar os malditos e assa-los na Sexta de manhã.
Ouvi gritos, estou cortando peixes e sinto os passos duros se aproximando, olhei pelo vidro e ele surgiu, ofegante, vermelho, pronto para estourar uma artéria ou coisa assim. Imaginei em minha cabeça a capa do NP (Notícias Populares) e a manchete em garrafais, "Cozinheiros imcompetentes têm membros decepados" e uma foto de nossa pequena cozinha ensanguentada, abaixo tinha um nota que diria "Chef cozinha braços e pernas em caldeirão". Ele entrou, foi um latido rápido, curto e grosso, e saiu - fizemos os 70 restantes em tempo record, quatro homens correndo, suando, amaldiçoando a vida (não pense que tínhamos razão, não, nós merecemos cada palavra pois estávamos fodendo o jantar do Dia dos Namorados caramba) enfim, apenas entreolhei meu colega de cozinha e ele disse "beber hoje ?" e eu só respondi "MUITO".
Quando chegamos na Padaria para beber, mal conseguíamos falar, quando o garçon perguntou o que eu queria eu queria gritar "vingança", mas me vingar do quê ? Eu estava errado afinal. Mas não ligo pra isso. Nunca liguei, e comparado à muitos lugares que eu trabalhei ou até mesmo, se eu fosse o chef, eu teria mascado a equipe em minha mandíbulas e cuspido porta afora, sim, ele foi um santo mesmo ensandecido.
E a primeira vez te prepara para as próximas (que por mais que evitemos, acontecerão). E como acontecem...
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