terça-feira, setembro 02, 2008

Redux.

Vamos para mais uma postagem sem pe ou cabeca.

Bem, faltam 37 dias para o fim do contrato (encurtaram de quase toda a tripulacao em 21 dias, aleluia) e desembarco em Barcelona.
Cyril foi embora, muitos amigos se foram, esvaneceram-se - desaparecem conforme vao-se indo, apos uma semana ninguem mais comenta sobre as pessoas que saem de ferias.
Na ultima noite de Cyril, fomos ate a cabine dele tomar um porre e ouvir musica muito alta para irritar o chef italiano do Toscana,que morava na cabine ao lado, as tres da manha quando estava indo embora enfiei uma bica na porta dele, me fez sentir melhor, o cara me desprezava mesmo entao sem grandes mudancas no status.
Minhas tarefas continuam as mesmas, mas tenho achado cada vez mais maneiras de burlar minhas obrigacoes e mesmo me esforcando o maximo, ainda tem pessoas fazendo muito menos que eu, vejam so quanta capacidade desse pessoal em superar (tudo).
Aprendi a roubar a comida interessante, a conseguir breaks nao-autorizados, cerveja no meio do turno (bebida dentro da geladeira em dois goles), a chegar uma hora atrasado de manha e fazerem todos pensar que estava ocupado em outro outlet, enfim... ...estou me tornando um chef novamente, um pirata, um cara da turma.
Na verdade, eu consigo me safar de assassinato aqui, diariamente.
Ainda tenho vontade de esbofetear alguns passageiros com um T-bone bem pesado, alguns membros da equipe a frigideiradas quentes e de jogar algumas pessoas ao mar amarradas em uma batedeira gigante. Paciencia, ha tempos nao tenho mais.
Exemplo de falta de paciencia : pus a comida na lampada aquecedora estes dias e o garcon na minha frente me olhando; eu olhando de volta, cara seria. Ele continua me olhando, de baixo para cima e eu encarando ele e a comida esfriando.
"Posso levar ?"
"Nao, traga o passageiro aqui para comer" disse. Continuei olhando para ele com cara seria, silencio ainda - "Pega esta merda e some, please" e la se foi ele.
Nao consigo mais lidar com os chefs do alto escalao pois nao posso gritar com eles (na real, ate ja gritei com eles), o dia da excursao para o Egito entao, na qual fui barrado por ter que trabalhar e no dia da maldita excursao (na verdade, meia hora depois de terem saido) fui avisado para tirar apenas seis horas de folga, pois tinha overtime para descontar - fui voando falar com o chef executivo, enfurecido; aparentemente eu nao mereco ter prazer neste lugar, como disse, essa gente acha que nao fui torturado o bastante, na real, passei por todas as fases daqui, negacao, ira, desespero e finalmente aceitacao...
Tenho enchido a cara todas as noites no Crew Bar, acordo feito um zumbi todas as manhas e engulo um balde de cafe preto para empurrar os cigarros antes de trabalhar e arrasto minha ossada durante o dia procurando lugares estrategicos para encosta-la em algum lugar fora de olhares supervisores.
Entendo agorao que eh tao viciante no navio para estas pessoas, estar em "seguranca" aqui, fora do mundo real, nao tendo que lidar com a pessoas que realmente importam e que podem te machucar violentamente (relacoes humanas sao brutais), nada importa aqui, apenas voce, seu trabalho, seu dinheiro, os portos e seja la o que as pessoas estao buscando aqui (na minha opiniao, abrigo).
Quando voltarmos, quero saber como o navio vai foder com meu senso de realidade, tipo... "tenho que pagar por comida ?", "comprar papel higienico ?", dirigir um carro sera a experiencia mais petrificante do mundo, imagina, se locomover em terra ?? sem agua em volta ? caramba...

Tenho que parar aqui sem nenhuma conclusao de verdade, mas tentarei manter os blogs vindo... ...mas to cansado pracas para me preocupar na maioria dos dias...

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