quarta-feira, dezembro 28, 2005

Feliz Natal... ...uhmmm... Feliz.. ...Natal... ...

Mais um Natal se passa, menos um Natal a frente e muito trabalho.
Quando se trabalha com hospitalidade, uma das primeiras coisas que se deve dar adeus sao os feriados, dias santos, dias de paz e sossego na varanda de sua casa com seus amigos e familiares (mesmo que estejam perto de voce) - e mais ou menos como dizer que voce vendeu sua alma barato, muito barato, seus empregadores querem o maximo de voce, querem tudo de voce, querem seu sangue de preferencia esborrifado em seu avental e suas facas.
Com as comemoracoes de Natal anunciadas, os pedidos dos restaurantes foram estratosfericos, apenas um dos quais sou responsavel pediu mais de 300 kgs de saladas e molhos - o servico aumentou mas eu continuei um soh, oh drama !! Tratei de correr e consegui de uma maneira ou outra abastecer todos sem maiores problemas e ao meio dia do dia 24, estava com tudo em cima e apenas esperando para as comemoracoes de Natal na casa do Edu e da Simone; este seria meu primeiro Natal de verdade na NZ nao poderia deixar passar essa em branco. Como havia comecado o trabalho as quatro da manha do dia 24, e deveria estar de volta as quatro da manha do dia 25, fui direto para casa dormir e me preparar para a festa de Natal seguida de um turno na Sky. Nossa festa de Natal foi um sucesso, amigo secreto, muito vinho e champagne dos quais ataquei sem a menor cerimonia, um presunto gigante assado, mais vinho...
Ganhei duas facas Victorinox do Edu e da Simone das quais trato como meus proprios filhos, meu nome gravado na lamina e tudo !! Confesso que ha muitos anos nao ganhava nada tao significativo, parecia uma crianca com a diferenca de que estava brincando com objetos extremamente pontiagudos sem supervisao adulta.
Cheguei na Skycity as tres e meia da manha, sonolento, bebado, irritado, revoltado, com francos pensamentos em fazer umas tatuagens perturbadoras, agarrar meu rifle e subir no topo do predio para atirar em pessoas inocentes.
O turno foi tranquilo e tinhamos absolutamente nada para fazer,a ressaca era avassaladora, minha cabeca retumbava e ecoava dor e os cheiros da comida atingiam meu estomago como socos desferidos impiedosamente como um castigo divino, poderia chamar assim.
Noite feliz, dizem.
Foi um Natal interessante, completo e diferente em muitos sentidos poderia dizer - claro que senti saudades das familias e amigos, mas essa experiencia eu com certeza lembrarei a vida toda...

...e o ano-novo ja esta ai, para que eu repita tudo de novo. Eu nao aprendo.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

A doenca.

Ser um chef, as vezes se compara a uma doenca degenerativa que corroe, pouco a pouco todos os outros aspectos de sua vida - sua relacao com as pessoas, seus pontos de vista em ralacao ao mundo, a maneira como voce encara o trabalho, seus gostos, seu modo de vestir, tudo, tudo gira em torno do fato de voce ser um Chef (ainda que mediocre) e um certo orgulho enrustido ao se usar aquele uniforme fedorento.
Falando pessoalmente, ma cozinha aprendi a nao ter pena das pessoas, a nao ser preguicoso, a estar no trabalho mesmo que delirando de febre, a delegar e acatar ordens, a controlar minha boca enorme, a deliberadamente abrir minha boca enorme no momento oportuno.
Leio meu dicionario "comida de A a Z" com a empolgacao de um garoto de 14 anos a abrir a primeira Playboy, paro na rua para ler o cardapio dos restaurantes afixados nas janelas, gasto uma boa hora dentro de uma loja de facas e o maior sinal de fanatismo : comprei uma jaqueta da Victorinox, a mesma marca de minhas adoradas facas - talvez seja o comeco do fim, mas se a coisa atingiu ate meu senso fashion, deve ser realmente serio.
No ultimo trabalho casual que peguei, eramos apenas meu amigo Ricky e eu na cozinha - apos tanto tempo fora de servico normal, em restaurantes, com pessoas entrando e saindo, esperando na mesa pela comida, garconetes berrando pelos seus pedidos, pensei se ainda teria talento e disposicao para encarar uma noite de trabalho.
Na Skycity, eu trabalho em uma cozinha de preparacao - faco comida a ser enviada para os restaurantes do lugar e nao vejo a cara de um so cliente.
Chegamos no lugar, um restaunte no meio do caminho da famosa praia de surfistas Piha, no alto de uma montanha e com uma vista estupenda; o lugar ainda tem os tracos de dias gloriosos passados, mas a palavra que vinha a minha cabeca era decadente, faltava cuidado, faltava atencao ali.
Entramos na cozinha as cinco e meia e pude observar os chefs do dia terminando seus afazeres - brincos de argola, apenas um usava uma doma e jeans, colares com dentes de tubarao, eles pareciam mais piratas do que chefs - eram o tipico perfil do meio, junkies, loucos e bebados que nao dao uma merda para a profissao, fazem por dinheiro e ate fazem bem. Eles olhavam intrigados para os chefs da Skycity, uniformes completos, estojos de facas, eramos o real deal, almofadinhas da cidade.
A pressao estava no ar, a expectativa das garconetes, da gerente, tudo remetia a uma noite que tudo deveria correr perfeitamente e nao tinha maiores preocupacoes ate ver a cozinha em si : mal-equipada, apertada, uma geladeira nada espacosa e parcos recursos. Tinhamos uma mesa de vinte pessoas com cardapio selecionado e os clientes habituais a servir, soava facil demais, ja passei por coisas muito piores.
Fomos atingidos as sete, quando os vinte comensais chegaram, e com eles mais uns quarenta a La Carte - o peru encomendado para a salada de entrada dos 20, para minha surpresa veio recheado fazendo com que todos os meus planos mudassem, a preparacao para pizzas estava menos que meia-boca (malditos piratas) e o Kitchenhand nao demonstrava nenhuma inclinacao a fazer coisa alguma alem de lavar uns pratinhos e ficar constantemente fucando por comida, tentando aplacar a obvia larica e motivo para sua atuacao em slow-motion; nao me incomodo com pessoas que fumam um baseado de vez em quando, me incomodo com pessoas que fumam um baseado 5 mins. antes de entrar na cozinha. Fiz o peru em fatias (antes seria em cubos em uma salada) sobre uma mesclun salad e um molho de frutas vermelhas que improvisei com o que achei na geladeira,aplicando com uma bisnaga de plastico cortando o prato ao meio, e dois toques de pimenta moida de cada lado - parecia valer bem mais do que realmente poderia valer um pedaco de peru caracteristicamente sem sabor.
Naquela noite, meu trabalho principal foi decorar os pratos, fazer pizzas, saladas, sobremesas, milagres, tudo ao custo de apenas um dedo cortado e NZ$ 100 a mais em meu bolso - mas a satisfacao de saber que eu ainda sou bom nisso - Priceless.

Na verdade, estava pensando em milhares de posts para por hoje, mas apos escrever um imenso e perder logo em seguida ao tentar publicar, cortou um pouquinho meu tesao.
Amanha tentarei de novo.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Seja bem-vinda, a vida.


Caros Lilian e Iuquim;
Fiquei muito satisfeito em saber que a Marianna chegou, bem gordinha, bochechuda, e bem vinda principalmente. Para a mamae de primeira viagem, para o papai de muitas viagens (nao sem o mesmo entusiasmo, acredito) deve ser uma alegria da qual nao posso nem imaginar, ter um filho, algo que veio de voce mas nao eh seu, eh seu mas nao eh, sei la, deve ser alguma coisa extraordinaria, inacreditavel, tentar procurar seus tracos naquela pessoinha, fragil, precisando de sua ajuda, atencao.
Ja nasceu parte de uma grande familia, olha que sorte, tem ate um sobrinho da mesma idade para badalar mais tarde - quer melhor ? Os Natais vao ser incriveis...
Bem, chega de divagar sobre o que nao sei e apenas desejar meus sinceros parabens...

Olha que coisinha...
 
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