sábado, março 29, 2008

Marselhe - cortem algumas cabecas...

Estamos, enfim, em Marselhe na Franca.

Chegamos em um misto de ansiedade, excitacao e principalmente cansados da travessia que pareceu exaurir a todos a bordo - acordamos com as encostas semi-aridas de Marselhe na Provenca e o Sol a nos brindar com um dos dias mais belos que ja vimos desde nossa partida, minha cabeca estava latejante pelo excesso de cerveja da noite anterior mas combinamos estar as sete e meia da manha a postos no deck da piscina pois durante um Dry Dock, somos designados a ocupar posicoes diferentes para terminar a reforma e dar suporte aos construtores que vem dos quatro cantos do mundo para realizar uma reconstrucao total em dez dias (parece um show de TV? Claro...) mas apesar do Sol, o vento frio de Marselhe e simplesmente cortante. Esperavamos excitadissimos nossas tarefas de construtores quando chegararam os primeiros guindastes do lado de fora para descarregar rolos e mais rolos de carpete, aparentemente, o navio recebera mais carpete brega para complementar os que ja possuia; os rolos sao trazidos de guindaste ate o deck da piscina e quando chegam ao topo e nossa tarefa, grudar na merda dos rolos pendurados, posicionar de maneira a nao obstruir o caminho e poder rolar o desgracado ate o lugar certo (pesa quase uma tonelada cada) retirar as cintas que o prendem, colocar os suportes de madeira e rolar os danados em cima dos suportes. Apos 30 deles, a vida comecava a perder o sentido, queria matar pessoas, suava, corria, em uma das descargas, tres rolos pousavam em sentido atravessado a pilha que ja estava no chao (fazendo com que rolassem e esmagassem a piscina) me fazendo correr ate o topo dos rolos, endireitar (no ar) a posicao de descendencia e soltar as tiras. Quando soltei as tiras, os tres rolos cairam sobre os dez outros abaixo, me fazendo pular rolos de toneladas em movimento ate o chao como um game do Mario Bros. Suei. Continua...

segunda-feira, março 24, 2008

Deu Zebra.

Imagine uma Zebra,

Seu pelo reluzindo ao Sol africano, suas patas fortes e sua pele macia brilham ao forte Sol dos estepes enquanto corre livre, leve e solta em busca de folhas e agua para se refrescar em um espetaculo de liberdade e leveza.
Agora, pensem na mesma zebra, sendo atacada por hienas, desesperadas, selvagens, em busca de comida e sangue - acuada lentamente pelas mais fortes, elas atacam primeiro as partes mais tenras como coxas, lombo e peito ate que o animal entrega-se e as demais oportunistas, de todos os tamanhos e tipos entrem para dilacerar visceras, entranhas, rins e figado em um espetaculo sangrento pela sobrevivencia.
A cozinha central do navio assemelha-se principalmente nos Domingos de manha e tarde, quando o brunch eh servido. Tentei em vao, juntar-me a linha de frente sem sucesso - os chefs Asiaticos e Indianos agrupam-se sobre a comida e montam os pratos como se suas vidas dependessem disso, movem-se erroneamente sem tarefa, instrucoes ou ordenacao certa como as hienas, deseperados por destaque (e promocoes) eles fazem qualquer negocio e nao toleram erros. E ai que eu entro.
Como novo integrante, eu recebo advertencias no minimo estranhas, sobre coisas das quais supostamente nao sei, mas eles adoram chamar a minha atencao e alguns nervos ciumentos ja estao expostos, mas a verdade mesmo, eh que eu sei que sou preferido para certos cargos pois, como disse o sous-chef executivo "voce vai receber merda destes caras sempre, pois voce eh branco". A mais pura verdade, especialmente quando quem decide quem levara as promocoes eh frances.
Anteontem foi um dia nada ortodoxo, primeiro tivemos o brunch de Pascoa que quase nos levou a loucura, a tarde foi anormalmente ocupada e a noite fomos atingidos por volta das 20:00 horas, comandas entravam e entravam, nosso novo chef italiano berrava a 180 Dbs simplesmente porque alem de grosso, o idiota tem uma voz de tenor fudida, chega a estremecer o inox da bancada e pelas oito meia, os alto-falantes emitiam o Codigo Mike, que significa emergencia medica, ocorrendo no salao do Grand Dining. Quando somos admitidos no navio, cada um recebe uma incumbencia especial de seguranca, ou voce vira bombeiro, seguranca, tecnico... ..ou da equipe medica, como eu. Recebemos treinamento a bordo e como tudo mais aqui, consiste em esperar sempre pelo pior (e nao se decepcionar, claro).
Ao ouvir o chamado, sai correndo, larguei avental, frigideira e fui ate o Grand Dining onde as pessoas embasbacadas esperando por mesas na porta e demais comensais abriam caminho para dez pessoas em atendimento sendo que apenas duas nao estavam em uniformes de chef (agora aquela gente deve ter certeza que medicos sao todos acougueiros) e la estava no chao, desacordado, um senhor de mais ou menos oitenta anos estabacado no chao, com um pouco de remorso rezei internamente para nao ter sido culpa da comida e se fosse, que seja um osso entalado na goela e a culpa teria sido totalmente do passageiro - mas pelo estado avancado de idade, diria que qualquer coisa podia mata-lo, desde uma porcao de pimenta ate uma leve brisa encanada que provocaria uma pneumonia.
Colocamos o senhor na maca enquanto ele acordava, fizemos o check-ups de primeiros
socorros e ele insistia que poderia ir andando, e eu falava que era procedimento padrao sem sucesso de ser ouvido, fiquei com vontade de gritar "NAO PODEMOS PORQUE JA COLOCAMOS VOCE NA PORRA DA MACA,JA ENCOSTAMOS EM VOCE E SE NASCER UMA ESPINHA EM SEU ROSTO< SOMOS OS RESPONSAVEIS", nao me levem a mal, mas tem uns velhinhos que vem para este cruzeiro que simplesmente nao tiveram a decencia de morrer, eh preciso que venha junto a familia toda para move-los, alimenta-los, etc... ...e ate agora, nao vi nenhum desses velhinhos de cadeira de rodas dar um leve esboco de sorriso.
Depois do Code Mike, voltei para meus afazeres e uma secao de acompanhamentos bastante complicada pela minha ausencia e os calos e bolhas em minha mao ja denunciam que stou de volta a cozinha.
Hoje, paramos em Barcelona e nao pude nem dar uma olhadela, estamos entrando em Dry Dock que significa ficarmos parados em Marselhe para manutencao por dez dias, mas isso nao significa moleza - temos que ajudar os contrutores, carregar coisas pesadas e descarregar (por exemplo) algumas toneladas de rolos de carpete do guindaste.
Barcelona, mesmo vista de longe teve um apelo quase erotico para mim, daria de tudo para descer e dar uma volta pela cidade, senti como se estivesse em frente a minha casa e nao pudesse entrar, cheguei a ficar deprimido ao pensar que Barcelona estava la, vivida e pulsante bem na minha cara e eu nao poderia nem tomar uma cerveja em qualquer bar local, pelo menos ate o proximo trajeto que inclui a cidade.
Muitas pessoas ja desembarcaram (da tripulacao) e outras estao chegando e os animos estao mais amenos com a chegada a Europa, meus nervos estao ainda sofrendo com esta coisa de navio mas eu nao me deixo derrotar ainda, decidi hoje que pretendo terminar este contrato e gastar meus ganhos como um marinheiro bebado viajando pela Europa, sabe-se la quando terei a oportunidade de fazer isso de novo. Quero viajar, comer, beber e dormir o quanto me agradar durante essa viagem, quero voltar um porco gordo e rosado, depois dormir umas 45 horas direto em minha cama no Brasil.

sábado, março 22, 2008

Agadir.

Hoje, paramos em Agadir.

O navio em seu balanco costumeiro me deu bom dia, acordei ja me sentindo cansado pois tive uma noite de sono conturbada - sonhei com pessoas que nao vejo ha muito tempo, sonhei com pessoas que vi ha pouco e tudo misturado (ninguem daqui do navio, pelo menos) mas o dia prometia ser agitado de certa forma, fora a minha conviccao de sair dar uma olhadela em Agadir, a perola do Marrocos.
A manha, como de costume foi complicada e meu nariz escorrendo nao ajudaram (nem a dormir, tambem) mas fui salvo as 10:15hs por um treinamento de emergencia - meu supervisor disse que nao precisava voltar entao iria vagabundar ate as 12:00hs. pelo menos. Nao menos feliz, cruzei logo em seguida com o chef do deck 9 dizendo-me para comecar as duas ao inves da meio-dia, quatro horas de folga !!! Pensei comigo, esta eh a hora e nao deixarei passar, voei para minha cabine, me troquei e la fui eu de bermudao e camiseta ao sol do Marrocos. Sai do gangway (escada) e fiquei pasmo pelas montanhas semi-aridas, as formacoes... ...e pela inexistencia de um porto de verdade, daqueles com lojas, etc... ..apenas conteiners jogados ao leu.
Havia Yuli, uma chef francesa e um rapaz negro, pegando um taxi e logo que me viram me chamaram para rachar a despesa. Saimos do porto em direcao aos Suks, feiras e mercados ao ar livre e no caminho vimos predios impressionantes, mesquitas, burcas e mini-saias entre uma colisao entre o antigo mundo islamico e o nosso moderno ocidental, carros muito antigos em meio a SUVs, tudo ao mesmo tempo agora.
Agadir foi deastada por um terremoto em 1968 e 3/4 da cidade foi ao chao, deixando 15.000 mortos e ate hoje parece estar em reconstrucao.
O mais legal, foi o mercado - cercado por muralhas que parecem berberes, um forte, tem mais de 6km de extensao dentre barracas que vendem quase de tudo, roupas, temperos, sapatos, eletronicos, etc...
Um rapaz se apresentou como guia, e querendo nossos dolares foi mais que prestativo, comprei sabonetes (barras enormes e deliciosas), pasta de dentes Colgate e hidradante e desodorante a uma quantia irrisoria.
Ao final nao resisti e vi uma bolsa de viagem Louis Vuitton, o comerciante queria US$ 45 e eu tinha apenas US$ 40 no bolso sendo que 10 eram destinados ao taxi; apos alguma conversa, ele nao querendo, eu querendo mas fingindo que nao queria, dei as costas e ele arregou me deixando com uma linda bolsa de viagem (meio feminina, eh verdade) que sera util tanto para carregar minha tralha quanto para um belo presente para alguem mais tarde (iria ficar ridiculo eu andando com aquela coisa por ai o tempo todo), mas a verdade eh que a bolsa eh simplesmente tao boa quanto a original - os comerciantes preferem morrer a vender porcaria, descobri. Pena que so la mesmo...
Voltamos com a sensacao de missao cumprida e eu com um pouco de nocao sobre o que estou fazendo aqui nesta jossa ambulante - alguma coisa vai valer a pena eventualmente.
Depois de amanha, Barcelona e dez dias em marselhe para manutencao, quando nao teremos passageiros.

Um barato total este tal de viajar, pena que nao dura muito.

sexta-feira, março 21, 2008


Eu e a Pats no casamento da amiga dela. Amei essa foto.

Como uma onda...

Se voces acham que trabalhar em uma cozinha ja eh conturbado, tente em uma cozinha se movendo lateralmente - hoje o mar esta agitado, e claro, bem na hora do jantar - panelas escorregando, transbordando nas chapas (nao tem chama, pois eh um navio lembra ?so chapas eletricas) utensilios desaparecendo e um assistente de cozinha paquidermico que normalmente, enquanto grita em hindu o tempo todo ja se acotovela em mim, praticamente me arremesando atraves da estreita linha de fogoes, na proxima vou segurar um garfo de churrasco o tempo todo. Aquele balofo simplesmente nao cabe em uma cozinha.
Na real, o cenario eh bizarro, hilariante, todos tentando fingir que nada esta acontecendo e tentando colocar os steaks nos pratos fugitivos, sabem aquele brinquedinho em que voce fica com uma marreta tentando acertar as cabecas dos bichinhos ? Parecido.
Agora, tenho que me embebedar e ir dormir, amanha chegaremos em Agadir/Marrocos e tenho que descer pelo menos para tomar um cafe do lado de fora e voltar ao trabalho.

Estou em meu uniforme imundo, descabelado e rindo pra cacete ainda...

Coracao, deixe na porta.

Para se viver em um navio, voce deve deixar certas coisas na porta;

Seu passaporte (voce achou que pode simplesmente desertar um navio?) que eles seguram para poder tambem informar as imigracoes, sua assinatura em varios papeis e pasmem, seu coracao e sua identidade, personalidade e tudo que faz de voce... ...voce. Mas as suas bolas sao bem-vindas a bordo, muito obrigado.
Depois de dias ralando, deprimido, chorando e sentindo pena de mim mesmo (eu sou o rei do drama), eu estou um pouco mais rapido no trabalho, ja sei aonde algumas coisas ficam e ate esta ficando mais facil sem contar a dor-de-garganta de ontem com leves toques de gripe (esta, que esta dizimando o staff da cozinha) mas ontem eu resolvi dormir mais cedo e hoje o dia nasceu mais feliz por varias razoes.
A primeira, foi logo de manha, quando fui ate o acougue buscar as carnes (ainda tropecando e sonolento) e o acougueiro com cara de poucos amigos (de vez em quando ele eh extremamente amigavel, outras, nem tanto) e quando fui pegar a bendeija errada ele veio com tudo para cima de mim, falei que estava sonolento por causa da gripe e ele disse que nao se importava com minha gripe, que as coisas eram diferentes aqui. Ao trabalhar logo apos disso, senti raiva. Muita Raiva.
Depois minha cabecinha que anda por lugares estranhos e desaconselhaveis, comecou a processar a informacao - esse povo (Asia/Filipinas e India) nao tem o mesmo senso de humor, nao se importam com ninguem e por isso tranformam o ambiente de trabalho aqui um lixo, nao sabem se divertir e trabalhar como todo o resto da humanidade, entao cheguei a conclusao que eles nao merecem um cara legal, nao querem, merecem sim um belo pontape de vez em quando e a partir disso, relaxei. Tive a manha mais calma desde que cheguei.
Ao trabalhar com meus colegas de lancheteria na piscina, simplesmente fiquei fazendo o que sou permitido fazer (por eles, bem-entendido) e fiquei repondo estoque, fazendo guarnicoes de prato e pasmem, cortando pao como se nada estivesse acontecendo. Eles trabalham desesperados, como se o mundo fosse acabar - na verdade como micos amestrados, mude uma palha do caminho e pronto ! enlouquecem a eles e a quem estiver em volta. Na verdade, o que fazem eh patronagem das brabas.
Inclusive, uma brasileira a bordo passou por la para saber como eu estava, ontem ela havia me visto no mais sombrio dos humores e hoje ela queria saber como estava, e ai mora a diferenca entre nos e eles, a solidariedade. Deus a abencoe, ela nao sabe o quanto me fez bem.
Temos um novo head-chef italiano para as tardes na lancheteria e no Polo Grill, e para minha infelicidade ele fala portugues (um pouco), pois ele geralmente fala aos gritos e naturalmente eh grosso e mal-educado. Outro dia, ele entrou no meio do servico da lancheteria lotada (sim, ele entra NO MEIO de nos) e comecou com a costumeira falacao e gritaria conosco, sem o menor pudor. Quando um dos clientes analisando a cena disse para ele pegar leve, ele disse "sou italiano, meu jeito eh assim, sabe ?" - pensei na hora, como sou italiano, tenho o direito de ser um cuzao, sabe ?"...
A noite, ele entra NO MEIO DA AREA DE COZINHA, e sai provando tudo com sua colherzinha para ver se esta do seu agrado, mas para sua salvacao, ele esta apenas se defendendo. Quero que ele se ferre, ele tenta me agradar agora pois eu nao olho para a cara dele.
Na verdade, tudo que eles querem sao seus culhoes, seja para te castrar ou para que voce os use para trabalhar, mas a verdade comeca quando se percebe que esta completamente so nesta cozinha dos infernos. Doulgas Ramsey daria gritinhos de pavor aqui dentro. Senhores, eu conheco o inferno e estou ardendo nele.
Agora... ...a parte do coracao, assim como meu passaporte, pegarei de volta na saida, para poder voltar para casa e usar com quem eu gosto.

quarta-feira, março 12, 2008

Ainda...

Ok, vou tentar contar o resto, nem lembro de onde parei...

Enfim, os primeiros dias sao de puro sofrimento e adaptacao - fiquei deprimido de cara ao ver as instalacoes e saber que trabalharia com mais um chef maniaco-maquiavelico-sadico, mas bola pra frente, afinal, sao oito meses e eles tem que passar rapido ! Trabalhei a tarde novamente na lancheteria da piscina e os corpos dos passageiros (todos acima dos 60 anos) constitui o que podemos chamar de show de horrores, eu fico olhando para os passageiros passarem e falo baixinho "fecha a camisa, cara, fecha..." enquanto preparo as saladas e hamburgueres (que na verdade, eh o chapeiro que faz). Mais duas horas na tortura de Bombai, e depois do break para o jantar, Polo Grill, que eu amo cada vez mais.
A noite, paramos no Rio, onde poderiamos descer para aproveitar a noite e visto que eu nao tinha nem um real em especie e nenhum caixa eletronico por perto, decidi ir com um amigo peruano tomar uma cervejinha no bar local (embaixo de uma zoninha local tambem) onde os especimes mais estranhos circulavam - nem os chefs que estavam ha meses no mar tiveram peito para encarar as prostitutas locais; a cerveja estava gelada, eu e o peruano comecamos a conversar e a vida comecava a fazer sentido.
Depois da decima garrafa, uma mesa de chefs decidiu me chamar para ser o interprete de prostitutas, trabalho pago com... ...mais cerveja. As duas e meia eu voltava quase carregado pelos meus colegas, cambaleando e trocando as palavras ingles/portugues como um site de traducao em crash - desabei na cama e so iria trabalhar as onze da manha, mas como a lavanderia fica aberta ate as oito tive que levantar e ir pegar um uniforme ( a ressaca era incrivel), dormi mais uma hora e fui tomar o cafe da lancheteria que poderia facilmente ser confundido com cha - consigo ver o fundo do copo (serio) e minha necessidade por cafeina diaria esta muito abaixo dos niveis aceitaveis. Apos tudo isso, voltei do Polo Grill para a tortura de Bombay e o chefe me pediu para cortar frango assado em pedacos, eu comecei a tirar as espinhas dorsais e ele ficou irritado sem motivo e de faca na mao, tentou arrancar a maldita ave de mim, ao passo que a faca enterrou a ponta em meu dedo indicador direito. A expressao de horror dele era impagavel, tentou segurar o meu braco, nao sabia como pedir desculpas e meu dedo comecou a sangrar por dentro da luva de latex - falei que nao era nada e ele ainda arrependido, no mesmo momento haviam dois chefs na mesma bancada estarrecidos e nao quis dar tanta atencao ao caso, simplesmente (e internamente irritado) catei a faca com toda a raiva e com tres poderosas batidas eu fatiava o frango em quatro pedacos.
Apos uma conversa franca, depois do incidente, ele pediu desculpas, falou que estava sob constante stress (o que concordo) e de la pra ca as coisas andam mais amenas com ele (talvez pelo medo de eu reportar o incidente, talvez por sincero arrependimento eu simplesmente nao dou a menor) mas a vida tem sido agradavel desde entao.
estou fazendo amigos, todos sabem que eu sou "o brasileiro" , unico na cozinha e as gracinhas, piadinhas, e etc... com minha nacionalidade pipocam quando eu passo.

A vida comeca a fazer sentido aqui, amanha, Salvador - parada overnight.

Que o Senhor do Bomfim me ajude.

segunda-feira, março 10, 2008

Enfim dentro das entranhas da baleia.

Enfim, cheguei em meu destino itinerante - O Insignia tem mais de 400 tripulantes, ate 800 passageiros e navega a 33 km/h, e o que voce tem a ver com isso ? Nada.
Ja eu, desde que cheguei foi uma depressao so, as instalacoes para empregados nada lembram as suntuosas suites dos passageiros, tenho certeza que em algum ponto alguem simplesmente disse "joga uma tinta ai e ta tudo certo".
Ao entrar, fiquei admirado com o numero de pessoas circulando para la e para ca (sempre muito depressa) e so tive tempo de arrumar minhas coisas e as cinco estar na cozinha. Meu armario lembra aqueles de clube, verde de metal e ja meio amassado pelos ocupantes anteriores.
Cheguei na cozinha central, meu chefe eh um indiano que nao tem a menor paciencia com meus dois anos sem pratica e tem derradeiros ataques de furia (problema dele) trabalho na beira da piscina a tarde e a noite em um restaurante chamado Polo Grill no topo do navio - o head chef eh o cara mais legal do mundo e um dos funcionarios me explicou tudo por etapas, ate que outro funcionario entrou no lugar do organizado e comecou a ferrar meu esquema - ele ate que eh legal, mas passa a noite inteira atropelando meus pedidos, chamando os acompanhamentos na hora errada e me dando esbarroes (ja esta estragando minha brincadeira, veja so) pois trabalhar ali eh o ponto alto do meu dia depois da hora de passar o cartao para ir dormir.
O bar do staff parece ate aquelas zoninhas de filme mexicano, pintada de laranja e azul marinho, tem espelhinhos na parede, luzinhas tipo de natal por todo lado e... bem, um terror, apesar de tudo ser bem barato por ali.
Hoje, por um exemplo, tive uma pessima manha com o indiano, depois passei a ter um pessimo dia servindo os clientes no buffet (peru, cortando e servindo de uniforme e boina, cacete, eu sou um cozinheiro !) se tivesse que dar mais um sorriso minha face quebrava, saindo diretamente para o jantar onde o desastrado caminhao fez da meu unico prazer em trabalhar, um pesadelo.
Penso todos os dias se vou aguentar, tenho que ser duro, tenho que ser forte - se conseguir fazer isso aqui, consigo tudo mas tem sempre um lado bom, os patroes (chefes de hierarquia) sao todos muito gente fina, pois chefe ruim ninguem merece.
Tenho que ir dormir agora, espero ter tempo para escrever mais, tenho mais coisa para contar logo....

Vou dormir, bem, ninguem disse que iria ser facil.
 
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