terça-feira, novembro 13, 2007

Santos - que me ajudem...


Olá a todos (os poucos leitores que me restaram, quero dizer...);

Semana passada estive em Santos para obter meu certificado STCW (acho que a sigla é esta) que consiste em formar idiotas como eu em tripulantes de navios com competências digamos assim... ...úteis. O curso havia sido cancelado pela marinha em cima da hora e por livre e espontânea pressão das operadoras foi aprovado de novo - resumo : praticamente um dia antes fomos avisados que iria rolar, já estava naquelas de que saco, aqueles cursinhos no quais arrancam dinheiro de você para ensinar absolutamente porra nenhuma (SIC), principalmente sendo obrigatório para pessoas que como eu, não tem mais saída a não ser se enfiar em um porão de navio por seis ou mais meses.
Primeiro, devo frisar que eu não conhecia Santos, a Avenida da Praia é coisa de primeiro mundo, limpa, arborizada e cheia de gente e prédios bonitos, já o restante da cidade... ...é como se o Rio de Janeiro tivesse vomitado em Ubatuba, suja, feia e com muito concreto. Consegui uma pousada (a Caravelas) na última hora, ao módico preço de R$ 80 a diária (com Café da Manhã) em um lugar que julguei perto do curso, a atendente do Hotel se mostrou muito eficiente e simpática, fiquei feliz com a decisão, era um cliente satisfeito.
Ao chegar de noite, consegui achar fácil o lugar - a pousada ficava em um prédio antigo da Orla, estacionei o carro na porta e fui fazer o check in, um senhor baixinho e com cara de poucos amigos me atendeu, me passou uma ficha da Embratur para preencher dizendo apenas para assinar embaixo (sem preencher os detalhes) e por mais solícito que eu fosse, ele não sorria NUNCA - apelidei-o de tropeço, o mordomo da família Addams. Subi ao quarto (após estacionar o carro EU MESMO e deixar as chaves) para descobrir que o lugar é de certa forma um pardieiro (limpo, um pardieiro limpo) mas pelo menos tinha TV a cabo e nem sinal de baratas, os móveis eram iguais aos da casa da minha avó, tudo rangia e a cabeceira da cama cada vez que eu encostava a cabeça prendia meus parcos fios de cabelo.
Manhã seguinte, acordei e fui tomar café, tropeço ainda estava por lá com sua simpatia contagiante (meu bom-dia ficou no vácuo, mas nem liguei pois não sou gente de manhã) e uma simpática garçonete me atendeu (ficou simpática demais e não parava de falar - não é culpa dela, como disse não sou flor que se cheire pela manhã) e resolvi colocar meu Ipod nos ouvidos enquanto degustava meu nada Continental café.
Digamos que o custo-benefício da pousada seria válido se custasse por volta de R$ 50,00 pois é quase o valor de um IBIS ou Flat em São Paulo, mas dizem que tudo à 500 mts. do mar valoriza, menos o seu passe.
Peguei o ônibus lotado e consegui parar no ponto certo (seis kms depois, esse era o lugar perto) cheguei à escola sem muitas expectativas e fomos logos postos em uma sala de aula que, graças a Deus tinha ar-condicionado, a aula era sobre sobrevivência no mar, um belo prospecto para pessoas que iriam passar um mínimo de três meses dentro do navio. Aliás, o curso inteiro é praticamente sobre tragédias marítimas.
O curso transcorreu bem, apesar de longo (onze horas) deixei a sala às sete da noite, pensando o que fazer para me distrair - resolvi voltar caminhando pela Avenida da praia. No começo, era só alegria, comprei uma latinha de cerveja e fui andando, vendo as pessoas correndo, circulando, conversando, as lojas (caríssimas), comprei mais uma latinha e estava todo satisfeito e contente com minhas férias sem férias. Meia hora depois, a caminhada já estava um pouco frustrante, o calor e a umidade começaram a incomodar, a camisa grudada no corpo, a cerveja entrando em ebulição, parei comprar outra e aproveitei o ar-condicionado do Pão de açucar para me refrescar. mais caminhada, nada de chegar, continuei em minha árdua missão de chegar ao hotel,estalagem, pousada, ou sei lá o que chamam aquilo.
Uma hora depois, parecia que eu estava chegando de São Paulo a pé, a roupa com aquela indefectível marca de suor, a mochila pesava uns 300 kilos e meus pés já começavam a dar sinais de cansaço, as pessoas corriam bem no meio do caminho, a maldita maresia já começava a se acumular em meu rosto e cabelo e eu já havia decidido que iria me aposentar em Campos do Jordão, beira-mar nunca mais.
Cheguei na pousada de mau-humor e intimei tropeço se naquela espelunca eles vendiam cerveja em lata, sem muita euforia ele foi buscar duas latas de Itaipava (Heineken nem pensar) que ao menos estava gelada - entrei em meu quarto, deitei um pouco e depois da segunda lata a vida começava a fazer sentido de novo.
De ânimo renovado, banho tomado e nada para fazer resolvi sair para tomar alguma coisa - escolhi o primeiro quiosque pé-sujo e pedi uma caipirinha de limão (na verdade, caipirinha TEM que ser de limão, o resto é perfumaria) e como era o único cliente do rapaz, recebi uma de mais ou menos 500ml. com direito à música flashback dos anos 80 (o cara ainda tentou me vender o CD que estava tocando), ao final da caipirinha já estava ficando um sujeito simpático (eu e ele). Deixei o simpático e fui á Lanchonete quase em frente à pousada para ouvir um som na Jukebox que tinha lá, pedi uma cerveja antes de ir embora. Quatro garrafas de cerveja depois, estava disputando a jukebox com um velho louco, cada vez que eu punha uma música, ele ia lá e punha dez e ficava me encarando - cheguei ao lado dele em uma delas e perguntei se ele estava me paquerando - ele sumiu, e pude enfim, ouvir uma música em paz. Voltei cambaleante ao hotel, pousada,estaleiro, cocheira, rosnei para o tropeço que veio abrir a porta com a disposição costumeira e fui dormir.
Acordei, já com o Ipod no ouvido e fui tomar café sentindo os efeitos do álcool ainda vívidos na cabeça, nem Deus me fazia entrar naquele ônibus abafado - iria de carro. Cheguei no curso, me sentei e pude experimentar a ira de litros de cerveja contra uma única e inocente caipirinha de limão em meu estômago, contive a ânsia várias vezes durante o decorrer do dia. O grupo de pessoas na classe era legal, disso não tenho reclamações, e resolvemos agitar um choppinho no final do dia.
Seis torres depois, estava apenas meio caminho alegre, com uma azia incrível e ainda assim me desloquei à outro bar para as saideiras. Cheguei ao Hotel com uma pusta azia e fui dormir.
Último dia, última parte do curso (primeiros socorros) pude contemplar a fragilidade humana em todas as suas facetas, crises convulsivas, fraturas, intoxicação, descobri que tudo faz parte de uma supostamente agradável viagem de navio, olha que legal, tipo... ...o curso é para as pessoas terem certeza se realmente querem embarcar naquela arapuca flutuante e cara. O professor era um tanto quanto... ...ambivalente, repetia sempre a frase "vocês não sabem isso...". Se nós soubéssemos, afinal, porque raios estaríamos fazendo um curso de R$ 400,00 cacete !!
Tudo terminado, ainda dei carona até São Paulo para quatro guias da CVC, que por sinal, adorei. Agora só resta a ansiedade pela entrevista no Navio dia 13 de Dezembro, Deus me ajude. Não vejo a hora de rebatizar este blog pela terceira vez, o primeiro nome era "Ninguém merece esta New Zealand", para depois passar para Tripping e espero, "Ninguém merece este Navio" ou similar.

Rezem por mim - e ALTO. Resta saber se o Navio merece ter eu por perto.

3 comentários:

Anônimo disse...

To pra ver uma pessoa tao fresca como vc, deve ser filinho da mamãe alem de caipira !
A respeito Vc ja foi ao Rio ?
Conheço 12 paises e ja trabalhei em 3 navios, to muito bem de vida pois investi meu dinheiro em Santos onde vivo e muito bem !
Bom, desejo boa Sorte principalmente as pessoas q irão trabalhar com vc !

Ricardo Pili disse...

Em primeiro lugar,
Conheco mais que doze paises e tambem vivo muito bem, obrigado, conheco sim o Rio o suficiente para dizer que nao eh a minha praia, mas para isso nao preciso invadir o blog de ninguem, alem do que, filhinho com H soa melhor, posso ser caipira, mas nao assassino o portugues, a falta de pontuacao se da devido a falta da lingua portuguesa no micro do navio. Enfim, nao me importa se voce trabalhou em tres navio, nao me interessa tambem, se voce mora em Santos, alias nao me interessa gente intrometida em situacao alguma...

Alias, as pessoas que trabalham comigo aqui, me adoram, sei la porque. Deve ser porque sou fresco.

Anônimo disse...

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