domingo, janeiro 30, 2005

Mais uma volta... ...ao mundo.

Sei mais uma vez que, decepcionei muita gente ao nao atualizar o Blog, mas estava ocupado tentando me adaptar a minha vida mais uma vez, mas comecemos do comeco;
Apos dissimular por tres meses minha volta ao Brasil, ca estava eu pronto para duas semanas de expectativas e planos a minha triunfante (?) volta a terra Brazilis com tapete vermelho e tudo mais - tudo comecou em uma tarde de Outubro aonde o Sol brilhava e la estava mais uma vez eu, trabalhando durante um dia de folga - pensei comigo "foda-se isso" e nesse espirito, entrei em uma agencia de viagens com todas as minhas economias nas maos e pedi, please, uma passagem para o Brasil.
As semanas se arrastaram ate o dia 21 de Novembro, a data e a terra prometida me esperavam, mas as mudancas nao paravam nunca (assim como nao param MESMO) e meus flatmates Simone e Edu resolveram que teriam uma vida melhor em Auckland, e estariam se mudando na semana anterior a de minha viagem; alem de tudo, estaria desabrigado na minha volta. A semana foi de puro desespero : caixas por todos os lados, a Sky TV se foi, a casa agora vazia clamava por minha alma.
Alguns amigos apareceram, talvez por pena, talvez por pura e leal fidelidade mas as coisas ainda estavam conturbadas em minha cabeca : tantas pessoas que adoraria ver e tantas que desejaria, na mesma intensidade, nunca mais por os olhos e se possivel, por favor nao pise em meus Helmutt Lang please...
Malas arrumadas, caixas lacradas e duas malas imensas esperavam na porta de minha casa e minha bagagem emocional pesava mais que os 64kgs. permitidos pela Aerolineas, o que encontraria na volta ? Um bando de jovens senhores usando camisas polo e calcas caqui enquanto bebem para ignorar as criancas correndo por toda a casa ? Simplesmente minha vida parecia nao se encaixar nas das pessoas que realmente "fizeram alguma coisa de suas vidas" ao inves de vagar por algum pais longinguo atras de nao-sei-o-que procurando apenas levar uma vida menos monotona (e o que poderia ser mais monotono do que passar 12 horas numa cozinha ?) e que ao inves de um relacionamento, possui 12 pares de sapatos diferentes ? De repente nos, pessoas sozinhas nao merecemos nenhum credito ? Neurose era pouco.
Dia chego, passagens nas maos, conferencia de passaporte a cada cinco minutos ate o aeroporto e uma breve despedida de UM amigo, uma senhora honraria em agradecimento a dois anos de comprometimento total a este pais. Entrei no voo de Queenstown a Auckland me sentindo meio zonzo ainda por deixar minha nova vida para tras e reencontrar a velha, mesmos lugares, mesmas pessoas e antigos problemas dos quais nao tinha ideia se ainda existiam - Quando foi que eu cresci tanto a ponto de me importar ?
Auckland, mais uma parte da historia voltava a me assombrar apesar do ensolarado dia que fazia (incomun ao lugar) mas agora estava a um passo mais proximo do que tanto ansiava, sentia tudo ficando para tras, o sofrimento, o trabalho e ate a diversao e percebi o quanto dois anos podem fazer a voce : te tranformar numa aberracao distante e neurotica.
Ao entrar pelo corredor ate a plataforma do aviao, segurava minhas imensas bagagens de mao (que inveja das pessoas que carregavam apenas uma 007 nas maos, Louis Vuitton, com uma troca de roupas dentro) e amaldicoava as cias.aereas que alem de te cobrarem os tubos, limitam a quantidade de volumes a serem despachados e a primeira classe ? nos, comuns mortais somos apenas permitidos a ter uma leve visao do paraiso quando entramos no aviao; telas LCD individuais, poltronas altamente reclinaveis e espacosas e tres opcoes de menu, afinal, porque esses bastardos nao compram a merda de um jatinho de uma vez por todas e deixam os pobres mortais como eu conseguirem uma oferta barata de primeira classe ?
Corredor do meio, exatamente poltrona F, avioes sao como uma loteria ou um encontro as cegas, sabe-se la o que voce vai encontrar ao seu lado. Um senhor grisalho e imensamente gordo sentou-se de um lado (e brasileiro) e agora ? Enterrei minha cara em meu livro e esperei pelo vizinho do lado direito (que revelou-se ser tao corpulento quanto o do lado esquerdo) e acabei em uma mini-poltrona e espremido pelo menos uns 15 cm de cada lado. Amaldicoei mais uma vez as Cias.Aereas por nao realizarem uma inspecao corporea antes de organizar os assentos, igualzinho fazem com nossas malas.
Apesar do incomodo, controlei os impulsos e conversei com todos ao redor (engenheiros de Piracicaba voltando de uma feira agricola em Sidney) mostraram-se simpaticos, cultos e portadores dos odores mais nauseantes que ja conheci. Em troco, tive um leve ataque de gases durante a viagem que soou mais como justica divina do que apenas espasmos comuns a qualquer pessoa que passou a noite enchendo a cara de cerveja.
Buenos Aires, dezesseis horas depois e mais quatro de cha-de-cadeira a frente, achei um unico aeroporto com uma area de fumantes no mundo (a Franca tambem deve ter, mas nao sei ainda) observei com calmas as pessoas circulando, em grupos e mostrando fotos de suas viagens e tentando ligar para casa avisando que o aviao nao caiu e que a feijoada ainda estava em pe, me arrependi fatalmente de tentar chegar de surpresa em casa, tirando todo o aspecto familiar de uma volta para casa. Aeroporto de Cumbica, check out, eu por meia hora na esteira amaldicoando a mala preta (sabiam que 90% dos viajantes tem uma mala preta ?) e a demora para descarregarem as malas da merda do aviao, meu Deus o Trovao esta me esperando sozinho no aeroporto... ...mais de trinta minutos, eu e minhas malas deixamos a alfandega (da qual passei ileso) e pude ver a cara amiga e sorridente do Trovao na saida, nada podeer melhor depois de dois anos de nao-familiaridade. Entramos no carro e ganhei uma caixa gelada de Brahmas, a vida comecava a fazer sentido novamente - a pressao da cabine ainda fazendo efeito e misturados ao alcool deixam qualquer Valium 10 no chinelo, especialmente associados a 20 e poucas horas sem dormir espremido entre dois obesos fedorentos.

Ibiuna pareceu surreal a chegada, aquela cidade escura e vazia demonstrava o quanto um lugar pode ser estatico ao correr dos anos : tudo estava la, a prefeitura, os postes, o bar do Julio (gracas) e a casa de minha irma, aonde o carro de meus pais estava estacionado.
A campainha toca em um Domingo as dez da manha, e na porta voce ve uma pessoa que NUNCA toca sua campainha em dia algum, o que voce faz ? Abre a porta e encontra um babaca sumido ha dois anos correndo para dentro de sua casa (meu cunhado vai morrer com essa) gritinhos, olhos esbugalhados e voce finalmente esta de volta a casa, seus sonhos viraram realidade enfim. Entrar em minha velha casa (de repente nao parecia mais MINHA) foi estranho, mas tudo estava no mesmo lugar que deixara, as fotos, a sala, meus CDs, tudo parece ter sido montado como um templo a alguem que se foi para sempre, uma morbida homenagem digamos assim, especialemnte quando se espera que a vida siga em sua casa do mesmo jeito que a sua seguiu. Esperava mudancas mais drasticas.
Como meu irmao e a namorada estavam na sala, dormi no quanto de minha irma (ex-quarto) apesar de nao querer exatamente dormir pela excitacao de estar de volta, toda a casa em silencio e eu sem nem uma TV, uma distracao, apenas aquele quarto que apesar de estar a minha espera, nao era meu.
Senti uma das maiores solidoes do mundo, e adormeci.

Sabia que ainda tinha muito por vir, e tempo seria uma commoditie cara, muito cara, nao teria muito tempo para me acostumar. Mas o cheiro da casa, dos lencois, da familiaridade nem o tempo apaga.
E bom estar de volta.

Nenhum comentário:

 
Zilek : Immobilier Vervins
Immobilier
Vervins