terça-feira, janeiro 24, 2006

Pense leve.

Como profissional da area de nutricao (que maneira gentil de dizer cozinheiro) tenho notado mais e mais o quanto somos uma geracao de pessoas saudaveis; em tempo, a evolucao chegou a nossas mesas.
Dando uma voltinha pelo supermercado me deparei com as mais variadas opcoes de tudo que se pode pensar - meu milho verde eh 100% GM free (genetically engineered - nao transgenico) gracas as manifestacoes dessas pessoas maravilhosas que param o centro da cidade causando milhares de dolares de prejuizo para as empresas locais, todos com os bracos levantados segurando placas e cartazes de madeira (nem sabia que podia !) suas sandalias de couro encardidas e sovacos cabeludos, todos em unissono exigindo medidas da primeira ministra para bloquear a entrada de transgenicos na NZ (e eu que achava que as pessoas que nao tem nada para comer, eh que tinham um problema - antes nao comer nada do que transgenicos certo ?) e quando a passeata termina, poem seus casacos D&G, entram nas suas beemers com bancos de couro e vao para casa, comer sua comidinha macrobiotica preparada pelo cozinheiro salvadorenho.
Enfim, meu milho verde eh isento de agrotoxicos (e eh branco ao inves de amarelo) meu suco de laranja tem calcio (esqueca o leite, eh de origem animal), meu frango eh subnutrido, minha margarina tem zero colesterol e zero sabor, meu chocolate eh 99% isento de gordura e leva horas para derreter na boca, minhas batatas fritas tem 75% menos gordura saturada, minhas laranjas sao do tamanho de limoes e minhas costelas de porco receberam tratamento psicologico antes de serem abatidas.
O que tera acontecido com o bacon, a carne com a gordurinha dourada, um naco de manteiga derretendo na frigideira de ferro, pesada, daquelas que dizem, liberam milhares de toxinas na comida mas que fritam, douram no fogao e direto no forno que eh uma beleza - ah, manteiga, se voce entra em um restaurante, principalmente frances, voce estara comendo kilos e kilos de manteiga (amando) e ate uma coisa insossa (nem tanto se bem preparado) como uma sopa Vichyssoisse tem sua parcela de manteiga para dourar a cebola e o alho-poro quando nao presente tambem no pure de batata usado, viva a manteiga.
Mas tentar explicar isso a uma pessoa acorrentada a uma arvore no centro da cidade impedindo a prefeitura de corta-la (mesmo que a arvore esteja podre e ameace cair em cima de um orfanato lotado) fica meio complicado - eles estao sempre certos e corretos (alias, corretos - politicamente corretos - me da ate brotoejas de ouvir) e cada vez que um entrava em meu restaurante comecava o drama, Ceasar Salad sem queijo, maionese, lardons, e esqueca o ovo no topo. Geralmente nessas, eu gritava "sai um prato de alface e pao" atestando a burrice de alguem assim sair de casa para comer. Mais facil ficar vendo tv roendo uma cenoura crua.
Antigamente as pessoas viviam bem, ate menos, mas bem, comendo comida feita com banha, ingredientes frescos eh claro, mas nao tinha essa de colesterol (quando nao se sabia da existencia, acho que nao existia mesmo), transgenico, natureba - cozinhava-se o que se conseguia agarrar e os europeus eram mestres em aproveitar cada pedacinho de carne, vegetais, frutas criando compotas, linguicas, curados, pates (foie gras, que dadiva), entre muitas outras invencoes que perduram como a mais classica cozinha.

Vegetarianos ? Eles nao aproveitam a vida - comer bem e o que se quer faz parte da vida. Alem do mais, um adesivo colado no para-choques protestando contra a matanca de gado soa bem melhor do que dizer que gosta de bife mal-passado.

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