quinta-feira, janeiro 10, 2008

Oitava série

Um dia, você acorda e está na oitava série, no outro, você tem dezoito anos e pode dirigir, beber, comprar pornografia e ir onde bem entender.
Antes, não ser aceito pelo grupo do qual queria era a tragédia, o fim da sua vida, o grupo de garotas lindas da escola jamais te daria atenção a não ser que realmente precisassem do seu trabalho de EMC para copiar e roubar o carro para dar uma voltinha era a glória - saber quem estava ficando com quem, quem iria ao baile (e ficar com quem), quem comprou o tênis do momento, o videogame, quem conseguiu passar de ano direto; tudo muito estimulante além de nos fazer sofrer pacas.
Mas as coisas mudam, alguns casam, outros enriquecem e outros empobrecem, nem tudo é uma tragédia e o último lançamento da Nike já não empolga mais como deveria, como a vida se torna chata, quando se é adolescente tudo é escancarado e aberto (quanto mais platéia melhor) exceto por algumas partes que apenas escondíamos, hoje, aprendemos a mentir e disfarçar para poupar-nos de sofrimento desnecessário por admitir que não somos bons ou perfeitos o bastante, que coisa.
Agora, é a casa, o carro que alguém comprou, quem casou e separou, quais mulheres e homens não se gostam (apesar de fingir o contrário), a TV de 89 polegadas LCD, quem teve as melhores férias, quem está traindo quem... ...segredos passam a ter grande parte de nossos dias, antes escancarávamos o que acontecia na casa de nossos pais e agora, escondemos o que passa em nossas próprias - qualquer coisa é melhor que um escândalo (antes, nós causávamos o tal do escândalo) e partir daí, trabalhamos, socializamos e ainda temos que arranjar tempo para nossos dramas pessoais.
De verdade o que mudou : quase nada.
Ao invés do tênis, são os carros, ao invés dos casinhos, os casamentos e seus obscuros bastidores, ao invés da escola, carreiras muito ou nem tão brilhantes mas um ponto continua o mesmo; sermos aceitos pelo grupo.
Nossas namoradas gostosas se tornaram donas-de-casa, profissionais e mães em tempo integral (e esperar que ela use o vestidinho de oncinha ainda por cima ? acorda), nos tornamos mais gordos, carecas e grisalhos e a não ser que esteja em uma Ferrari, as gatinhas não vão se entusiasmar com a sua passagem, acredite. Quando se é jovem, o cabelo voa ao vento, os dentes são branquíssimos e sua pele (já depois da acne) poderia ser vista em um comercial da Calvin Klein, sempre bronzeada pelos dias praticando esporte na quadra e seu abdomen então, rocha.
Fundamentalmente, somos os mesmos, um bando de adolescentes que ao invés de fumar escondido de nossos pais, fumam escondidos das esposas e maridos, beber idem (até porque, você aguenta bem menos), os dias sem dormir na balada são substituídos pelas vigílias aos bebês e as viagens passaram a ser mais escassas e luxuosas - camping nunca mais, mas se os filhos quiserem, você vai dormir em uma barraca de 1X1m fácil.
E enquanto observo a galera de 20 anos se divertindo com pouco (ou muito), ficando dias à fio sem dormir e se preociupando apenas com as notas da faculdade sinto uma ponta de inveja, ah meus vinte e poucos...
Ainda sonho com a Ferrari, ainda tenho horror à acne e estou constantemente tentando ser aceito pelo meu grupo (pelo menos hoje, eu já sei qual é, pela vida) então de verdade, será que alguma coisa mudou, seriamente ?
O grupo de gostosas ainda não me aceita. Aliás, nem tenho grana para acompanhar os maridos delas.
Ainda por cima, trabalho em cozinhas, a terra do nunca profissional - eu não vou crescer nunca. Graças a Deus.

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