quarta-feira, outubro 19, 2005

Final da historia..

A virada.

Cheguei em Auckland dia 19 de Agosto, apos passar dois dias em Wellington com meus amigos Kerry e Martin e a pequena Rebecca (Becky) de dois aninhos – foi bom rever alguem dos tempos de Auckland e do Akdeniz (o restaurante que trabalhei em 2003), pareciam felizes, compraram uma casa que sera so deles em mais ou menos uns 20 anos… …o que as pessoas nao fazem pelo proprio canto ?
Cheguei com minha super campervan em Hamilton (70 kms de Auckland) em um dia glorioso, um por-do-sol belo e musica perfeita, no radio “No Rain” do Blind Melon como se fosse escolhida por mim para aquele exato momento, aquela exata paisagem – ainda nao entendo como essas coisas nao acontecem com mais frequencia – e na verdade comecei a nao querer que a viagem acabasse, queria ficar meses e meses dirigindo a van pela estrada afrente, sem emprego, sem casa, sem destino. Seria um cigano pelo resto da vida (com qual dinheiro, nao sei), conheceria um novo lugar por dia pelo menos, varias novas pessoas, muitos entardeceres com a musica perfeita.
Ou na verdade era apenas a preguica de comecar de novo, o medo do desconhecido comecando a amarelar a faixa da minha coluna dando agulhadas em minha nuca, sabe-se la o que esperava por mim em Auckland, o lugar que prometi nunca mais por os pes por mais de uma semana de cada decada.
Velhas magoas demoram a passar, creio.
Cheguei a noite na casa do Eduardo, descarregamos todas as minhas tralhas (que avaliei, nao eram tantas assim) e ficamos convesando sobre o que seria o trabalho na agencia dele, o que tinha a se fazer, etc… Toda a novidade era ao mesmo tempo desafio e terror, terror de falhar, terror de nao conseguir sobreviver, terror de fracasso.
Parece que quando se trata de fazer qualquer coisa para amigos e familia, a responsabilidade dobra : nao importa se eh um jantar, ou um livro-caixa, quando eh para alguem que voce gosta parece que qualquer erro eh uma tragedia, pelo menos para mim.
Comecei a trabalhar na agencia, fiz minha entrevista na Skycity para meu trabalho de chef, fiz um trial (dia de avaliacao) de onze horas na Sky – um recorde, devo dizer – mais uma canseira de um mes para conseguir reunir a papelada do visto para poder trabalhar legalmente lah. A Skycity eh uma das maiores empresas da Nova Zelandia e Australia, dona de cassinos, restaurantes e hoteis cinco estrelas alem da notoria Sky Tower, uma torre imensa olhando a cidade de cima, o maior marco de Auckland e o simbolo da cidade (que ate entao, tinha apenas o slogan City of Sails como caracteristica.
A Agencia de ensino do Eduardo (New Zealand Education Center) demorou um pouco para engatilhar no sentido operacional da coisa, mas nao demorou nada para os brasileiros nos descobrirem e atulharem o escritorio com suas duvidas e necessidades, os estudantes e demais brasileiros aqui parecem querer um misto de profissional e pai para resolver os problemas deles – muitos (a grande maioria) nao fala ingles e tem que conviver com a burocracia da imigracao, aluguel, contas, etc… Imagina tudo que ouvimos por dia – eh ate heroismo o jeito que conseguimos resolver os problemas de quase todos, sem mencionar que nao sao todos que ficam contentes com o servico. As vezes da vontade de mandar alguns pastar (eh muito stress) mas quando eles entram pela porta com o visto na mao, compensa todo o trabalho. Esse eh um momento que vale mais que tudo, eles chegam sorrindo, pulando, gritando, abracam, juram que vao falar de nos para todos – e falam – assim, a NZEC tem crescido inesperadamente em uma proporcao diria ate geometrica em materia de clientes.
Infelizmente nao posso descrever alguns casos engracados por questoes de etica, mas que aparece cada uma – os estudantes querem saber ate qual eh a cor do ceu em Sydney, aonde encontrar um passarinho Kiwi na Nova Zelandia…

A Skycity me pareceu uma boa empresa para se trabalhar, na verdade nunca vi uma empresa tao grande e tanta gente feliz com o emprego, ficava dificil entender o porque de tanta gente feliz com salarios que francamente, nao me deixaram muito empolgado. A nao ser que voce seja o Anthony Bourdain e acima, voce nao eh nada na Skycity em materia de chef – muita gente boa (e ruim) e provavelmente muita gente melhor que eu ganhando o mesmo se nao menos, cozinha altamente profissional.
Primeiro dia, entrei na cozinha Central que mais parecia uma pequena cidade do que um departamento; meu uniforme emprestado, minha faquinha Victorinox solitaria no bolso, e o panico de entrar em contato visual direto com aquela gente apressada e melhor que eu que circulava pelos corredores com carrinhos abarrotados de saladas, carnes, peixes, batatas, tudo.
Estou ha duas semanas trabalhando la, e me sinto feliz, o chefe da secao me adora, dou mancadas mil e ainda assim me perdoam, que mais posso querer ?
Hoje estou como Commi Chef (Cumim) tenho meu estojo de facas da Victorinox, e aprendendo cada vez mais, passei dois meses dormindo na sala do Eduardo e hoje estou sentado em meu apartamento digitando em meu computador e apenas esperando meu modem vir pelo correio (um saco o servico de telefonia daqui, tudo se resume muito facilmente apos umas duzentas ligacoes).
Emprego, moradia, telecom – o que mais pode querer um homem ? Redencao ?
Pra isso existe a India e a Espanha (Santiago de Compostela) entao ate lah, alego ignorancia e toco a minha vidinha do jeito que der – riqueza espiritual eh pra quem tem tempo e dinheiro e pode se concentrar nessas coisas.
E tem gente que vai passar a vida sem saber o que eh isto : vencer o cansaco, vencer a falta de recursos, vencer a seu proprio desanimo – nao que tudo seja um mar-de-rosas mas a falta de perspectiva me leva a acreditar que alguma coisa melhor esta a minha espera. Se nao estiver, foda-se, pior nao fica pelo jeito…
A unica coisa que pega sao as saudades, isso sim, essa tal dessa palavra que dizem ser a mais bonita e unica da Lingua Portuguesa, simplesmente acaba com minha paciencia, fica entre meus planos, esmorece qualquer plano futuro – como viver sem meus entes queridos ? Como passar o Natal trabalhando sem pensar na familia no Brasil ? Como estar numa festanca sem lembrar dos amigos ? Chorar no ombro de quem ? Pois eh, para nos que desde de pequeninos aprendemos a ter torcida para tudo, desde o primeiro mergulho na piscine ate a primeira competicao da escolinha de natacao, passando por vestibular, primeiro emprego – como se viramos quando nao tem ninguem por perto para admirar seu castelinho de areia ? Principalmente os homens sabem do que eu estou falando, seja para trocar o pneu do carro, surfar, construir uma prateleira, sempre temos uma audiencia (que se for feminina, tanto melhor) e assim ganhamos nossas pequenas medalhas. Quando se esta gripado e sozinho, nem se fala – eu ate ligo para casa para minha mae ter pena de mim (quem mais teria ?) mas fica dificil querer vencer sem torcida (pelo menos sem torcida de corpo presente) e estadio vazio nunca ganhou campeonato.

Talvez a resposta seja nao chorar, ao inves disso, sorria. Por mais que doa.
E se chorar, ja sabe – nao ganha sobremesa.

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